Se os nossos sonhos precisassem de um simples estalar de dedos para serem realizados, talvez, não existiria a força de expressão chamada esforço, avante! As realizações acontecem por si mediante uma série de esforços e de conduta por parte de seu(s) realizador(es), e isto envolve bem mais do que meter a cara no mundo com a própria mão e a coragem.
Essa coisa de ser artista, de ser um astro da MPB, do Axé ou
do Rock e de estar estampado nos cartazes promovidos pelo mainstream mundo
afora está muito além do especializar-se na arte de expressar seus sentimentos,
de dominar com segurança as escalas a serem digitadas no braço da guitarra ou
de se pôr a falar ininterruptamente com o mínimo de gaguejado no palco. Isto
tudo, aqui, não requer capacitação; trata-se de consequência de um preparo, sim, subjacente ao que menos importa (ou seja, na arte em si a ser posta ao público).
Um músico bem sucedido escreve, é poeta e estuda seu
instrumento em casa, mas não se restringe a tão pouco. Arte não é para qualquer
um. É necessário toda uma rotina de leitura de livros de poesia, autoajuda,
histórias e contos (aos de protesto, um pouco de política). Mas, há artistas e
artistas, que acreditam na sorte e na injustiça, que têm várias estantes de
livros na sala e no quarto, que ouve o mundo mais do que tira conclusões acerca
dele e que é melhor observador do que ninguém.
Se buscarmos a história de vida de todos esses caras, que
crescemos ouvindo, e ainda os introduzimos no nosso MP3 Player ou no som do nosso
carro, veremos que eles não foram colegiais comuns ou pessoas normais que
nasceram para ser bancário, caixa de supermercado, assistente ou procurador da
república. Cresceram ouvindo de seus pais a importância da preparação e do
trabalho, tanto que se tornaram tão bem preparados a ponto de atingir o
estrelato. Lembre-se, nada acontece por acaso!
Contudo, o que tem a ver as diferenças sociais com isto? Muita
coisa? Talvez, o elo de ligação entre elas apresentarem interferência direta no
comportamento do indivíduo, no que diz respeito ao modo como ele encara o mundo
e as adversidades! Os bem sucedidos são insistentes (não no erro) e todo o
tempo do mundo é pouco, haja visto que eles têm a experiência de ter começado a
fazer o que fazem muito cedo. Eis a diferença (bem menos social do que parece).
O resultado está na qualidade de sua obra (produto, para os mais capitalistas), porque eles
sabem da receita que toca o coração das pessoas. Eles sabem dialogar, como
ninguém, sobre os erros e os caprichos de nossas vidas, e sabem seduzir tal
qual o cântico das sereias. Cada nota e escala, cada entrada de solo ou o modo
como o baixo o é incorporado na introdução da canção, faz a diferença, e eles
sabem muito bem disto! Porque leem livros, ouvem as pessoas (mais do que elas
ouvem eles) e dá ouvidos às suas canções várias vezes ao dia. A vida imita a
arte e eles tentam imitar como podem os anseios das pessoas por aquilo que as
toquem.
Este é o estado da arte! Agora, pergunte a si mesmo, enquanto artista, o que tens feito para incrementar o espírito do seu trabalho, senão,
enganar-se de graça? Como colocava Rodrigo Sena, artista e compositor potiguar, “Saber perder o que fingiu
conquistar é enganar-se de graça...”! Não existiu palavras mais verdadeiras do
que estas e tenho certeza do puxão de orelha que ele deu em gente que tem o 'rei
na barriga' e que acredita que o mundo conspira contra si mesmo. P.S.: Um pouco de humildade, por favor!
Parem, ouçam suas influências e as compare com suas obras.
Não é obrigado que tudo o que fazes esteja a desejar ao que te influencia.
Cazuza levou cinco dias para compor “Codinome Beja-Flor”, trancado em casa,
lendo e relendo seus poemas e mastigando cada palavra do dicionário, em busca
da combinação poética ideal. Era tão roqueiro quanto fã de Cartola e cada pedaço
da sua obra toca cada pedaço de mal caminho que mastigamos e isto não se deve
ao fato de seu pai ser diretor da Som Livre nos anos em que surgiu do nada o
Barão Vermelho.
Se ele, em muito pouco, se diferenciasse da Plebe Rude (lá
do cenário punk de Brasília), talvez não tivesse sobrevivido ao primeiro disco
do Barão Vermelho e disto não passaria... É disto que estou falando! Diferenciamos o joio do trigo tal qual a quantidade de vezes que repetimos as músicas de um artista em nosso player. Se repetir-mo-las, é porque a coisa verdadeiramente nos tocou. Mas, e se as aplaudirmos, mesmo com tamanho fervor, e as retirarmos de nossas pastas de canções? P.S.: Veja bem, não falo apenas de mim, porém, de nós (um grupo de pessoas)!
É necessário atingir um grupo de pessoas muito além do convívio social. Das rodas de conversa, dos ouvidos amigos, das 'panelinhas'. O público, quando se interessa pelo trabalho do artista, vai muito além da obra ali produzida. Busca a história que está por trás daquelas palavras, de cada vibração sonora, do suor sobre o palco e dos milímetros de precisão coreografados. Ele quer dialogar ao seu modo, falar de suas intimidades e poder esclarecer certas coisas as quais não se faz possível em seu convívio social.
Arte é um refúgio social, um retiro para longe de tudo o que se vê no dia-a-dia. Longe da mesmice. E se sobressaem, nesta história toda, quem consegue levar o público aos mais longe possível da anestesia da rotina. Ou será que queremos falar o tempo inteiro do nosso trabalho, do trânsito caótico, das fofocas da vizinha ou do sofá cheio de poeira da sala?
Ouvir os mesmos três acordes que vão do Ré ao Sol e terminam no Fá? Acho que não. A lógica do sucesso v.s. fracasso vai muito além do mercado e da lei da oferta v.s. demanda.
A injustiça, o fracasso e a redescoberta são consequências,
não causas. É necessário falar do temor dos fracassados ao próprio insucesso?
Talvez! Porém, antes, é importante lembrar de quantos livros os nossos
protegidos artísticos têm lido no ultimo ano, quantos filmes têm visto, quantos
discos têm ouvido e de quantas horas esteve entre os conhecidos choramingando
as injustiças que rodeiam o seu anonimato. Provavelmente, esta última ganharia
em disparada...
E quanto à sua vida cultural? Eu falo da freqüência de assistir a uma peça de dança, interpretar uma encenação e de criticar novelas (e não me refiro às da TV).
E quanto à sua vida cultural? Eu falo da freqüência de assistir a uma peça de dança, interpretar uma encenação e de criticar novelas (e não me refiro às da TV).
Tem músico por aí que escreve e que compõe com tamanha
facilidade, que se expõe acreditando estar nos rumos certos da aceitação do
público. É que para quem ainda não chegou 'lá', (ainda) sempre cabe mais um pouco!
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 20/12/2011
Objetivo: www.LigadosFM.com
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 20/12/2011
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