3ª Resenha Crítica: Livro de Poemas de Jorge Fernandes

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Passava o olhar pelas minhas estantes, decidindo que livro escolher para hoje e escolhi um que comprei em 2008 para o vestibular, mas que da obrigação me trouxe o prazer, me encantando tão logo comecei a leitura. Refiro-me ao Livro de Poemas do poeta potiguar Jorge Fernandes.

Jorge Fernandes(1887-1953), que lançou seu primeiro e único livro aos quarenta anos, nunca concluiu os estudos que iniciou no Atheneu. Trabalhou por vários anos como caixeiro-viajante e frequentava os ambientes natalenses nos quais se desenvolviam as grandes discussões literárias da época, incluindo o famoso Café Majestic. Teve sua produção poética apreciada e elogiada por nomes como Câmara Cascudo, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

Disse Veríssimo de Melo sobre o poeta: "O que há de notável em Jorge Fernandes é que ele foi o primeiro, no Rio Grande do Norte, a cantar no verso livre, sem rima, desprezando a métrica e formas tradicionais. Numa época em que o soneto era a forma de alto requinte literário, Jorge surgia escandalizando a cidade com versos sem rima, quase pé-quebrado, como se dizia, provocando protestos e iras de toda a parte..."

O primeiro poema do livro é "Remanescente", que anuncia que estão mortos os velhos poetas, sendo o eu-lírico o remanescente deles. Este primeiro poema, na obra como um todo, tem função de introduzir a temática que estará nela sempre presente: a morte de um velho fazer poético e o nascimento de uma nova poesia, ou seja, a decadência dos modelos clássicos e a ascensão do modernismo.

Abaixo, o poema.

Sou como antigos poetas natalenses
Ao ver o luar por sobre as dunas...
Onde estão as falanges desses mortos?
E as cordas dos violões que eles vibraram?
— Passaram...
E a lua deles ainda resplandece
Por sobre a terra que os tragou
E a terra ficou
E eles passaram!
E as namoradas deles?

E as namoradas?
São espectros de sonhos...
Foram braços roliços que passaram!
Foram olhos fatais que se fecharam!

Ah! Eu sou a remanescença dos poetas
Que morreram cantando...
Que morreram lutando...
Talvez na guerra contra o Paraguay!


Depois, vem os quatro Poemas das Serras. Estando de acordo com o título, os quatro Poemas das Serras mostram a passagem serrana do sertão nordestino. Pode-se dizer que são poemas biográficos, que tratam da vida de Jorge Fernandes enquanto caixeiro-viajante. Sobre a paisagem natural das serras sertanejas, com animais e plantas típicos da região, destaca-se um carro (o "Forde").

Logo em seguida, vem os Poemas Parnasianos, que tratam do próprio modo de fazer dos poemas parnasianos. O poeta trata-os com muita ironia, ao escrever versos livres e enumerando os poemas ("Meu poema parnasiano número um", "Meu poema parnasiano número dois"). A série de poema é, segundo críticos, uma forma de o poeta dizer que os poemas parnasianos são todos feitos em série. Confirma-se essa figura da produção em série com o simbolismo das máquinas, fortemente presente nos poemas parnasianos número um e sem número.

Após as duas séries de poemas supracitadas, segue-se o resto do livro, com poemas individualizados, cada um encerrado em si, exceto por "Aviões", que é mais uma série de três. A maioria destes poemas revela imagens norte-riograndenses e nordestinas num geral. Tal qual já visto nos "Poemas das Serras", a paisagem natural e a paisagem urbana se intercalam, fazendo o contraste do moderno com o antigo. Aviões e relógios se misturam a mãos de trabalhadores e à paisagem natural nordestina, do sertão ao litoral. Sem diminuir a qualidade dos demais, dou destaque aos seguintes poemas: "Mão nordestina", "Briga do teju e a cobra", "Casaca de couro", "Té-téu", "Enchente", "Fogo de pasto", "Aviões", "Relógio" e "Rede".

A obra, como podemos ver, traz uma série de pares opostos: o moderno e o antigo, o parnasianismo e o modernismo, os antigos poetas e o remanescente. Todos eles têm uma relação bem próxima, que eu poderia resumir em uma frase: "deixemos as coisas do passado no passado, pois a modernidade vem a todo vapor".

É óbvia a conclusão que o Livro de Poemas, o qual aprecio em cada verso, é uma obra de grande valor para a literatura potiguar. Acima de tudo é a imagem da modernidade em um cenário que não é estranho a nós do RN ou de qualquer outro lugar do nordeste. De certa forma, também podemos dizer que este cenário não nos é totalmente familiar, pois a mesma modernidade poetizada pelo Jorge Fernandes avançou e transformou nossa realidade.

Se buscam mais informações sobre o autor ou sobre o livro, visitem o o Portal da Memória Literária Potiguar: http://www.mcc.ufrn.br/portaldamemoria/wordpress/?page_id=887

O Livro de Poemas de Jorge Fernandes pode ser adquirido na Potylivros, na Siciliano ou diretamente com a Editora da UFRN(EDUFRN).

Autor: André Marinho Criação: 17/12/2011 Objetivo: www.ligadosfm.com

Comentários

Camila disse…
Aaaah meu vestibular! :)