9ª Resenha Crítica: Anthem


Saudações, leitores! Antes de tudo vou lembrar a vocês que aqueles que postarem comentários neste post estarão automaticamente participando da promoção "Comentar te leva ao cinema!".

O título a ser resenhado hoje é um dos meus livros favoritos. Trata-se de Anthem, da escritora e filósofa russo-americana Ayn Rand.

A narrativa do livro se desenvolve em um cenário distópico em que é proibido existir sozinho ou pensar em si mesmo. Isso se reflete primariamente na linguagem, não havendo sequer a palavra "eu", mas "nós". Quem dita as leis e as funções de cada um é o Conselho Mundial (World Council). Não deve haver questionamento do que esse conselho disser, pois nesse mundo não há vontade individual, apenas a necessidade coletiva de uma sociedade cujo lema é "Somos um em todos e todos em um. Não há indivíduos, apenas um grande NÓS. Uno, indivisível e eterno" ("We are one in all and all in one. There are no men but only the great WE. One, indivisible and forever"). Dessa forma, toda a dinâmica social depende do que os conselhos ditam e a verdade depende daquilo que os Acadêmicos decidem como verdade.

Num mundo assim, não seria possível dar a pessoas nomes que as individualizassem, então todos os nomes são conceitos seguidos de números. O protagonista, por exemplo, chama-se Igualdade (Equality) 7-2521. Igualdade 7-2521 sentia-se diferente dos seus irmãos por vários motivos, entre os quais sua estatura elevada e o que ele chama de "nossa maldição", que é a sua tendência individualista que o leva ao seu grande crime. Igualdade 7-2521 desejava ser um Acadêmico, mas o Conselho das Vocações decidiu que ele deveria ser um varredor de ruas. Mesmo insatisfeito diante da escolha do Conselho, ele apenas disse "que seja feita a vontade de nossos irmãos", como todos fazem. Mas, mesmo com a profissão indo contra o seu desejo, o pecado original de Igualdade 7-2521 não desapareceu. Ele ainda conseguiu cometer os crimes de se apaixonar e de estar sozinho.

O livro como um todo é uma romântica ode ao individualismo, representado como um caminho de liberdade, e uma crítica ao coletivismo, que é apresentado como uma forma de escravidão social quando se torna um princípio moral ou político, tal qual foi em diversos regimes totalitários como o fascismo, o nazismo e o socialismo. A autora do livro, no prefácio, vai mais além do que eu digo. Ela critica o coletivismo como princípio moral enfraquecedor do indivíduo e também vai contra o trabalho compulsório, que, se não é realizado em todos os países do mundo, é defendido por muitos. A defesa a esse tipo de trabalho vem da ideia que devemos trabalhar no que é útil para os outros, não para os nossos próprios objetivos ou para nosso lucro. Para Ayn Rand, há Conselhos de Vocação e um Conselho Mundial no nosso próprio mundo e eles nos escravizam mesmo que não percebamos.

Apesar de este livro ser pré-Objetivista, podemos ver claramente os princípios da filosofia randiana na obra. O Objetivismo, sistema filosófico criado pela autora do livro, tem característicos princípios metafísicos, epistemológicos, éticos e políticos, que sãorespectivamente: realidade objetiva, razão, interesse individual e capitalismo. A objetividade da realidade pode ser vista nas divergências entre o que dizem os Acadêmicos de Anthem, ou a estranha linguagem daquele mundo, e a realidade. A razão como parte da natureza humana e do seu meio de sobrevivência se encontra. Quanto ao interesse individual, creio já ter deixado bastante claro nos parágrafos anteriores. A ausência de capitalismo em Anthem é óbvia e é um problema, pois não há qualquer possibilidade de escolher o trabalho que se quer ou de ter qualquer ganho pessoal por meio dele. O trabalho em Anthem é uma obrigação social à qual todos devem se submeter sem visar coisa alguma a não ser evitar castigos corretivos.

O que mais me agradou no livro foi a sua peculiar estética. A linguagem nos deixa confusos, desconcertados, mas por uma razão necessária, e essa confusão se desfaz conforme vamos entendendo a razão por ela ser de tal forma. A primeira frase do livro, "é um pecado escrever isso", já nos mantém presos. O penúltimo capítulo do livro é meu favorito. É um magnífico relato da descoberta do "ego" e uma exaltação a ele que daria inveja a muitos poetas românticos.

Com sua mensagem exaltadora do poder individual, Ayn Rand ainda atrai leitores de todo o mundo e tem sido cada vez mais apreciada. 25 milhões de exemplares de suas obras já foram vendidos ao redor do mundo e alguns de seus livros já foram adaptados para o cinema (A Nascente e A Revolta de Atlas). Entre os influenciados pelas obras de Ayn Rand, podemos citar o fundador da Wikipedia Jimmy Wales, o economista Murray Rothbard, o músico Neil Peart (da banda Rush), o quadrinista Steve Ditko (criador dos personagens Mr. A e Questão) e o candidato a presidente dos EUA Ron Paul.

Fãs de ficção científica e distopias certamente apreciarão Anthem. Uma pena não haver este livro traduzido para o português. Aos que leem em inglês, no entanto, é leitura obrigatória. Ele pode ser comprado no Ayn Rand Institute, na Livraria Saraiva (versão digital, EPUB), no Submarino ou na Livraria Cultura.

Ver também:

Anthem (música da banda Rush, inspirada no livro)
Ayn Rand's Anthem - The Graphic Novel (adaptação de Anthem aos quadrinhos)
Atlas Shrugged (magnum opus de Ayn Rand)
Atlas Shrugged Part 1 (filme baseado no livro homônimo)
Ayn Rand Institute (organização sem fins lucrativos que divulga as obras e ideias de Ayn Rand)
Mr. A (personagem de Steve Ditko)

Autor: André Marinho Criação: 28/01/2012 Objetivo: www.ligadosfm.com

Comentários

anita disse…
Pesquisando sobre o livro, encontrei esta resenha ótima.
Objetiva e esclarecedora.