10ª Resenha Crítica: Crônicas de Origem

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Saudações, leitores! Na resenha crítica de hoje, falaremos sobre Crônicas de Origem, do célebre Luís da Câmara Cascudo.

O livro é uma coleção de crônicas do folclorista na década de 1920 da cidade Natal. A obra é aberta por um estudo introdutório bem fundamentado por Raimundo Arrais, que explica todo o contexto em que o autor escreveu as suas crônicas e como ele se situa, enquanto intelectual, em uma Natal costumava ser isolada do mundo, tranquila e tomada por belos jardins e que deixou de ser assim para a todo vapor receber a modernidade, com carros e seus ruídos tornando-se parte integrante do ambiente natalense. Até mesmo o céu da cidade mudou, ao receber iluminação pública, que obscureceu as estrelas no céu. Com essa urbanização tão rápida que Natal recebeu, a nostalgia pelo passado e as expectativas para o futuro se misturam, certas vezes se opondo e outras indo na mesma direção. Porém, nem tudo são flores e carros. Cascudo tem uma preocupação especial com a cultura na Natal dos anos 20. Após o estudo introdutório, que tem cerca de setenta páginas, seguem-se as crônicas. Nelas, Cascudo fala sobre os hábitos e costumes na cidade, o seu cenário intelectual e as mudanças pelas quais tem passado a cidade. Fala-se também sobre a noite em Natal, costumes, política e cultura popular, entre outros temas.

A minha crônica preferida é a primeira, em que ele faz críticas ao Instituto Histórico e Geográfico da época, que, nas palavras de Cascudo, pouca atenção dava a assuntos urgentes, raramente se reunia e, quando o fazia, era para rodear uma mesa e fazer discurso sobre conquistas do passado. Reconheci uma certa permanência desse hábito da intelectualidade brasileira, que tenta resolver hoje os problemas do passado, embora ela tenha se modificado de alguma forma. Atualmente, vemos também os problemas urgente obscurecidos não somente pela exaltação do passado, mas por uma visão entusiasta do futuro, que faz com que o ideal de realização futura esteja acima das soluções para o presente.

Outra que achei bastante interessante foi “Proteção da alegria popular”, em que Cascudo vai em defesa das festas populares. Ele diz que o primeiro mundo as valoriza e as tem como “expressão legítima e segura da evolução social”, enquanto nós, latino-americanos, temos grande desprezo pelo espírito popular, e por, esta razão, nossas festas populares estão sob risco de desaparecerem. Nessa crônica, Cascudo explica o significado do Bumba-meu-boi e do Congos e a sua relevância na manutenção do espírito da história do povo. O fato é que encenamos a nossa história quando tomamos parte dessas festividades. O espírito do povo e a sua identidade dependem profundamente da valorização das tradições, que as elites natalenses da época do autor desprezavam e que as elites natalenses da nossa época também não dão o devido valor. Nessa crônica, também é enfatizado o papel do governo na organização de um ambiente que valorize essas práticas.

Em tema, Crônicas de Origem se relaciona com um livro que já resenhei no blog, o Livro de Poemas de Jorge Fernandes. Mas, enquanto um tem uma visão e um discurso poético, o outro tem um discurso jornalístico. Se queremos de fato nos encaixar naquele contexto e compreender melhor a formação urbana da nossa cidade nos sentimentos das pessoas e nos fatos como se apresentam, os dois livros são necessários. O espírito da Natal em modernização da década de 20 é encantador, encontrando-se um passado pacato e um futuro cheio de progresso. Até mesmo aqueles que, como eu, não viveram naquele tempo, podem sentir um pouco dessa nostalgia.

Crônicas de Origem é uma coleção de ótimas crônicas de Câmara Cascudo, com temas que permanecem atuais e que ainda merecem a nossa atenção, como também é um material histórico sobre a modernização da cidade de Natal e sobre a sua cultura. Um documento sem qualquer modificação ou adaptação, mantendo a linguagem com o vocabulário e ortografia característicos. Um bom natalense não pode deixar de tê-lo em sua estante.

Crônicas de Origem pode ser adquirido na Potylivros.

Ver também:





Memória Viva de Câmara Cascudo (site em manutenção)

Autor: André Marinho Criação: 04/02/2012 Objetivo: www.ligadosfm.com

Comentários

Lara Paiva disse…
Câmara Cascudo tem que ser lembrado, acima de tudo