Gosto não se discute.
E quem discorda? Porém, até o presente momento, até que se prove o
contrário, não há nada de destrutivo discutir o porquê de fulano
gostar de Forró ou sicrano gostar de Rock. Isto se deve a diversos
fatores, como quase todos sabem: cultura, lugar onde nasceu, a origem
dos pais, a frequência com a qual faz determinada coisa, as novelas
que assiste ou que assistiu na infância...
Até parece(...), diria
aquela patricinha chata que se sentava no lado da turma do colegial
onde ficavam as meninas. Mas, contra fatos, não há argumentos (a
favor, sim)! A começar pela influência do meio: às vezes, acabamos
ouvindo um determinado artista porque os nossos melhores amigos
gostam do seu trabalho; acabamos aceitando ir a um determinado show,
porque lá está o maior número de pessoas que nos fará companhia
(ou que faz parte de nosso meio, nosso convívio); costumamos comprar
os CDs da moda (isto até meado do início da década passada ou um
pouco mais a frente); defendemos um determinado ponto de vista em
função de sermos aceitos em um determinado meio, porque absorvemos
determinadas filosofias de vida. E, assim, caminha a humanidade...
E o que isto tem a ver
com gosto musical? Muita coisa, seria a melhor resposta! Qual
roqueiro nordestino não se rendeu a um maravilhoso sambão de
carnaval em algum litoral movimentado do seu estado ou não se rendeu
àquelas frases ditas por vocalistas de bandas de forró mundo afora
somente para bancar o engraçado? Tenho um primo, bluseiro, roqueiro
e amante incondicional de um bom solo de guitarra que não resistiu
ao radicalismo de viver em uma ilha isolada do mundo do forró e do
axé music e acabou incorporando o estilo público inconfundível do
Xandy e da ‘Solanja’, ao ponto de passar horas e horas ouvindo em
seu discman as músicas do Aviões do Forró – somente para decorar
suas letras e poder, nos shows, cantarolá-las para alguma vítima do
seu interesse (aquelas meninas, que, nós, homens, acabamos, por
consequência, ficando, conquistando, namorando e por aí vai).
Isto é a vida, em
qualquer parte do país, em qualquer parte do mundo. Com uma pequena
peculiaridade! No Nordeste, parece, um nicho de pessoas mostram não
aceitar muito as diferenças que vêm de fora daqui. Um forrozeiro da
vida não mede esforços em depredar as escolhas musicais de um
roqueiro, mas, exige respeito, justifica que cada um tem suas
escolhas, quando o é atingido por críticas de algum admirador de
qualquer coisa, desde que não seja Forró... Por que? Qual o direito
ou poder que alguém tem sobre a consciência do que é certo e
errado para o seu próximo? Será que o senso de preferência, aqui
no Nordeste, funciona tal qual o trânsito de veículos, em que não
se sabe, ao certo, se há uma necessidade de ter levantada a própria
autoestima, o ego, ou se se trata de um problema cultural,
educacional ou coisa do tipo, por tamanha dificuldade em se dar ou
respeitar a preferência do outro?
Será que existe uma
inferioridade recíproca nisto tudo, em que os desejos de terceiros,
acredita-se, em nada, tem de igual aos que se tem para si mesmo? É
certo que não existe cultura superior ou melhor do que outra, apesar
da pluralidade cultural em que vivemos. Mas, na prática, não é o
que acontece. Apesar do ‘Enfica’ e de todas aquelas promoções
sexuais e dadaístas as quais se ouvem nos principais grupos das
periferias nordestinas, as preferências musicais estão diretamente
ligadas com o grau de instrução, com o nível de inteiração
cultural, com o conhecimento a respeito dos fatos históricos e até
com a valorização do patrimônio cultural, por parte de quem se
interage com tal.
E isto não se prova
nos dados estatísticos de qualquer pesquisa ou nos pontos de
bilheteria de eventos dentro desta ordem. Um sambão de carnaval ou
um show na Shock Casa Show provam muito mais do que o que se conversa
aqui!
Ainda assim,
independente de quaisquer palavras daqueles pseudointelectuais que se
vê por aí, isto há de ser respeitado. Não interessa se o
“Enfica”, do Grafith, ou os Funks, das favelas cariocas, ou a
Swingueira (atual Arrocha, que faz parte do Axé Music), do
Pelourinho baiano, estão na boca do público das periferias dos
centros urbanos brasileiros. É o que o “povão” procura (tal
qual o “povinho”, a minoria de verdade, que sai em busca de
coisas menos massificadas e que as aprecia em seu lugar, quieto,
respeitando o direito do silêncio do seu compatriota). O que tenho a
ver com isto? O que temos?
Além da nossa
responsabilidade e direito à cidadania, talvez, nada. Se há uma
falha nisto tudo, esta falha está muito além do que acredita o
pensamento popular. Educação, Sistema, Estado e a Democracia em que
vivemos.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 28/02/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
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