12º Mundo Cão - E o que Tenho a Ver com Isto?


Gosto não se discute. E quem discorda? Porém, até o presente momento, até que se prove o contrário, não há nada de destrutivo discutir o porquê de fulano gostar de Forró ou sicrano gostar de Rock. Isto se deve a diversos fatores, como quase todos sabem: cultura, lugar onde nasceu, a origem dos pais, a frequência com a qual faz determinada coisa, as novelas que assiste ou que assistiu na infância...

Até parece(...), diria aquela patricinha chata que se sentava no lado da turma do colegial onde ficavam as meninas. Mas, contra fatos, não há argumentos (a favor, sim)! A começar pela influência do meio: às vezes, acabamos ouvindo um determinado artista porque os nossos melhores amigos gostam do seu trabalho; acabamos aceitando ir a um determinado show, porque lá está o maior número de pessoas que nos fará companhia (ou que faz parte de nosso meio, nosso convívio); costumamos comprar os CDs da moda (isto até meado do início da década passada ou um pouco mais a frente); defendemos um determinado ponto de vista em função de sermos aceitos em um determinado meio, porque absorvemos determinadas filosofias de vida. E, assim, caminha a humanidade...

E o que isto tem a ver com gosto musical? Muita coisa, seria a melhor resposta! Qual roqueiro nordestino não se rendeu a um maravilhoso sambão de carnaval em algum litoral movimentado do seu estado ou não se rendeu àquelas frases ditas por vocalistas de bandas de forró mundo afora somente para bancar o engraçado? Tenho um primo, bluseiro, roqueiro e amante incondicional de um bom solo de guitarra que não resistiu ao radicalismo de viver em uma ilha isolada do mundo do forró e do axé music e acabou incorporando o estilo público inconfundível do Xandy e da ‘Solanja’, ao ponto de passar horas e horas ouvindo em seu discman as músicas do Aviões do Forró – somente para decorar suas letras e poder, nos shows, cantarolá-las para alguma vítima do seu interesse (aquelas meninas, que, nós, homens, acabamos, por consequência, ficando, conquistando, namorando e por aí vai).

Isto é a vida, em qualquer parte do país, em qualquer parte do mundo. Com uma pequena peculiaridade! No Nordeste, parece, um nicho de pessoas mostram não aceitar muito as diferenças que vêm de fora daqui. Um forrozeiro da vida não mede esforços em depredar as escolhas musicais de um roqueiro, mas, exige respeito, justifica que cada um tem suas escolhas, quando o é atingido por críticas de algum admirador de qualquer coisa, desde que não seja Forró... Por que? Qual o direito ou poder que alguém tem sobre a consciência do que é certo e errado para o seu próximo? Será que o senso de preferência, aqui no Nordeste, funciona tal qual o trânsito de veículos, em que não se sabe, ao certo, se há uma necessidade de ter levantada a própria autoestima, o ego, ou se se trata de um problema cultural, educacional ou coisa do tipo, por tamanha dificuldade em se dar ou respeitar a preferência do outro?

Será que existe uma inferioridade recíproca nisto tudo, em que os desejos de terceiros, acredita-se, em nada, tem de igual aos que se tem para si mesmo? É certo que não existe cultura superior ou melhor do que outra, apesar da pluralidade cultural em que vivemos. Mas, na prática, não é o que acontece. Apesar do ‘Enfica’ e de todas aquelas promoções sexuais e dadaístas as quais se ouvem nos principais grupos das periferias nordestinas, as preferências musicais estão diretamente ligadas com o grau de instrução, com o nível de inteiração cultural, com o conhecimento a respeito dos fatos históricos e até com a valorização do patrimônio cultural, por parte de quem se interage com tal.

E isto não se prova nos dados estatísticos de qualquer pesquisa ou nos pontos de bilheteria de eventos dentro desta ordem. Um sambão de carnaval ou um show na Shock Casa Show provam muito mais do que o que se conversa aqui!

Ainda assim, independente de quaisquer palavras daqueles pseudointelectuais que se vê por aí, isto há de ser respeitado. Não interessa se o “Enfica”, do Grafith, ou os Funks, das favelas cariocas, ou a Swingueira (atual Arrocha, que faz parte do Axé Music), do Pelourinho baiano, estão na boca do público das periferias dos centros urbanos brasileiros. É o que o “povão” procura (tal qual o “povinho”, a minoria de verdade, que sai em busca de coisas menos massificadas e que as aprecia em seu lugar, quieto, respeitando o direito do silêncio do seu compatriota). O que tenho a ver com isto? O que temos?

Além da nossa responsabilidade e direito à cidadania, talvez, nada. Se há uma falha nisto tudo, esta falha está muito além do que acredita o pensamento popular. Educação, Sistema, Estado e a Democracia em que vivemos.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 28/02/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

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