9º Ensaio Cultural - Mitos sobre Maquiavel, Santos Dumont e Platão

Olá, leitores! Como estão neste domingo? Hoje, talvez por falta de assunto, farei o papel dos Caçadores de Mitos. Maquiavel, Santos Dumont e Platão são homens cercados de mitos, dos quais explorarei somente os que estão mais arraigados em nosso senso comum. Não sou historiador, mas tenho boas fontes para desmenti-los.

MITO #1 - Maquiavel, autor da frase "Os fins justificam os meios"

"Os fins justificam os meios" é a frase mais memorável de Maquiavel. Mesmo quem nunca leu uma única linha de seu trabalho é capaz de citá-la como trecho de alguma obra. Principalmente quem nunca leu Maquiavel é capaz de citar isso porque, sinto dizer, o diplomata florentino jamais escreveu tal coisa. Mesmo que possamos interpretar O Príncipe à luz dessa afirmação, nunca encontraremos ipsis litteris a frase acima citada mesmo que juntemos toda a obra de Maquiavel em um arquivo digital e procuremos com o famoso Ctrl + F.

O único momento em que realmente cheguei a ler, vindo de Maquiavel, literalmente, "os fins justificam os meios", foi na obra do Maurice Joly chamada "Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu ", excelente obra satírica ao governo de Napoleão III. Ali eu dou certeza de que a frase está escrita letra por letra e dita por Maquiavel.

MITO #2 - Santos Dumont, inventor o relógio de pulso

Motivo de orgulho para o Brasil! Aqui nasceu o inventor do relógio de pulso, certo? Errado. É verdade que Louis Cartier montou um relógio de pulso para Santos Dumont, para que ele pudesse ver as horas mesmo com as mãos ocupadas enquanto trabalhava com seus balões. Porém, não é verdade que aquele foi o primeiro relógio de pulso da história. O primeiro relojoeiro a produzir um relógio desse tipo não foi Cartier, em 1904, mas Abraham Louis Breguet, em 1810(!), a pedido de Caroline Bonaparte(princesa de Nápoles e irmã de Napoleão Bonaparte). Em escala comercial, começaram a ser produzidos por Phillip Patek como um acessório feminino.

Mas, não podemos deixar de reconhecer que Santos Dumont, que nunca voava sem o aparelho, teve um papel relevante na popularização do relógio de pulso entro homens, numa época em que verdadeiros cavalheiros usavam somente o relógio de bolso. Somente nos anos 20 que seu uso foi popularizado, o que faz do avidor brasileiro um dos pioneiros em seu uso.

Eu poderia questionar a invenção do avião, que deveria ser creditada aos Irmãos Wright, mas isso fica para uma outra hora...

MITO #3 - Platão, idealizador do amor platônico

Aquela relação amorosa idealizada, típica dos jovens mais tímidos, que é distante e sem consumação é comumente chamada de amor platônico. Por todos os lados, Idem ao Maquiavel, Platão também paga o pato por algo que ele nunca disse!

Trata-se de uma má interpretação de seu pensamento (o que acontece com qualquer pensador que chegue ao domínio popular) dizer que, por Platão considerar ideal aquilo que existe apenas no mundo das ideias, o amor jamais poderia existir fora do pensamento. Ora, o mundo das ideias não é um lugar física para o qual você se teletransporta. Ele também não vive em sua cabeça. O mundo das ideias é a realidade essencial. A definição de amor por Platão é a de uma busca por esta mesma realidade essencial em outra pessoa. Ou seja, naquilo que lhe falta, quem ama é capaz de encontrar no ser amado, o que é outra forma de dizer que os opostos se completam e aquilo que não possui é capaz de ter no outro.

De onde vem, os primeiros registros de "amor platônico"? Dos neoplatônicos, provavelmente. Marsilio Ficino interpretou o amor platônico como um amor baseado na virtude, não em caracteres físicos. É um amor que não tem base no físico, no Eros, mas em uma admiração virtuosa. Convém-nos, então, separar o amor platônico do amor segundo Platão, pois são duas coisas completamente diferentes.

Autor: André Marinho
Criação: 26/02/2012
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