11º Mundo Cão - Desinteresse em Cultura Não Faz Carnaval.


Desinteresse em Cultura Não Faz Carnaval

Um carnaval sempre com as mesmas pessoas, com os mesmos artistas, sempre as mesmas coisas. Neste ultimo carnaval, no litoral sul do RN, o que se ouvia era que quem tinha dinheiro em Natal estaria em Recife ou lá para as bandas de Pipa. Uns destes endinheirados, porém, em algum lugar que se sai como opção alternativa ao Carnaval, como o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga, Ceará; outros mais audaciosos, com um pouco mais de recursos, poderiam estar nas arquibancadas dos desfiles paulistanos ou cariocas...

Isto é o carnaval de Natal. Sem pré-carnaval, com atrações “quebra-galho”, aos heróis que decidem permanecer na cidade, com poucas unidades festivas e sempre com as mesmas caras e vozes em cima dos palcos. Porque é o Estado que paga seus “ganhos”, o lucro fruto de uma conversinha sobre editais abertos à comunidade e ao bel prazer a fim de atender fins políticos de gente que não se interessa em ver gente nova sucedendo o trono absolutista desses “Reis da Cultura”.

O mais interessante é a falta de interesse dos governos municipal e estadual, ao longo de suas administrações, na continuidade de iniciativas culturais que objetivam, apenas, a promoção cultural. Não falo de lucro, muito menos de cargos comissionados nas Secretarias Governamentais de Cultura. Domingo na Praça, Domingo Melhor, Cena Aberta e Circuito Cultural Ribeira, que, além do modesto patrocínio oriundo das poucas empresas bem capitalizadas deste pouco rentável Rio Grande do Norte (e o Grupo Neoenergia é um deles) são exemplos gritantes de excelência cultural, de aprovação popular e de promoção de artistas locais, sem aqueles donos de cadeiras comissionadas lá das Fundações que se servem como Secretarias Culturais.

Talvez, por isto, a cultura potiguar ainda não tenha saído do armário... Porque Cultura não se restringe a Folclore, a Coco, Maracatu ou Forró. Cultura é a promoção da essência e da expressão de um povo. Cultura Potiguar também é Rock, Reggae, Trance, se for preciso, desde que quem saia ganhando com isto tudo seja a população, com o aumento da diversidade artística ao seu dispor. Uma cena aberta com curtas, com filmes “Cults”, com peças que falam do caos urbano, afinal, nem todos se interessam pelo que falam os quilombolas lá do Meio-Oeste, mas, uma banda de Rock natalense ou mossoroense não deixa de integrar a constelação cultural deste estado.

O natalense tem que entender isto. E tem que brigar por tal. Ou terá que se sujeitar a ir todos os anos ao Barreta Gay ou Bloco das Virgens de Pirangy se quiser se transvestir de mulher na brincadeira do “Dia Gay” do carnaval. Baile das Quengas não é para qualquer natalense...

Nos últimos dias que antecederam ao carnaval deste ano, uma promotora do Ministério Público do RN sancionou uma lei que proibia, a partir da data de hoje, 21 de fevereiro de 2011, a continuidade dos eventos culturais que se procedem no Beco da Lama. Ou seja, ao invés de instâncias que fiscalizam a administração dos governos e a atuação de parlamentares, oriundas da sociedade civil, contemplarem resultados que vigoram a favor do povo, impõem regras que colaboram apenas com a manutenção dos interesses de uma pequena massa (a qual não ganha com o bem-estar coletivo).

Tamanha é a falta de compromisso com o público que quer respirar muito mais do que fumaça e assaltos à ônibus que Natal é a única cidade turística do Brasil em que no pedestal do seu turismo não se alicerça o investimento em Cultura e no patrimônio histórico e cultural. Videmos os casarões históricos da Ribeira, tão esquecidos quanto o interesse em incentivar ações culturais, por parte das grandes empresas (ainda) em atuação no mercado do RN.

Enquanto isto, as mesmas caras sobem, todos os anos, nos poucos palcos espalhados pela cidade durante o carnaval, tocando marchinhas de improviso e fingindo matar sua sede insaciável por autoafirmação popular, como se o público “Cult” natalense os aprovassem como a imagem do Samba ou da Bossa potiguar. Eles, os donos dessas caras, assim o querem, de fato e de direito garantido por nossa constituição (tal qual a Liberdade de Expressão). Todavia, diferentemente de uma cadeira em algum órgão administrativo do governo, os ouvidos de um consumidor de cultura não é instrumento de politica...

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 21/02/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

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