11º Ensaio Cultural - Questionamentos aos Anonymous

Boa tarde, leitores. Como estão neste domingo? Hoje falarei sobre os Anonymous, que me dão um sentimento otimista, por um lado, e pessimista por outro. Explicarei os motivos.

Tenho uma máscara do V de Vingança em casa, acompanho os movimentos dos Anonymous, mas de forma alguma estou diretamente envolvido com eles. Na verdade, comprei a máscara porque gosto do filme e do simbolismo por trás do Guy Fawkes. Reconheço a legitimidade do grupo, mas sou relativamente cético quanto as suas operações e aos seus ideais.

Admito que muitas das ações dos Anonymous foram louváveis, em especial aquelas sobre liberdade na internet. Os resultados foram sentidos e pode-se dizer que eles salvaram o dia tal como as Meninas Superpoderosas. A SOPA e a PIPA foram derrotadas com os supergolpes do grupo de justiceiros. Porém, muitos grupos se auto-identificam como Anonymous e agem em favor de interesses que não condizem com os da população. Afinal, se auto-intitulando de tal forma, chegam a nos iludir que estão fazendo algo pelo bem, quando pode não ser esta a verdade. Em vários pontos, vi os Anonymous antecipando na população americana o apoio a alguma ação do governo Obama e isso me deixou bem desconfiado. Podem dizer que estou imaginando coisas, mas o caráter descentralizado e, como diz o próprio nome do grupo, anônimo, qualquer um pode agir em nome deles, até mesmo grupos ligados ao governo.

No Brasil, vejo que eles são bem fracos até agora. Os protestos que até então aconteceram parecem não trazer resultado prático algum, ou, se algum, pouco efetivo. Sua luta é a mesma que a de todo cidadão, mas seus métodos são duvidosos. Um grupo auto-intitulado Anonymous derrubou no Brasil sistemas de bancos e o único resultado possível foi atrapalhar a vida do cidadão que necessitava do acesso. O que eu me pergunto é: qual foi o objetivo deles com isso? O objetivo foi alcançado? Se o que queriam era alertar à população sobre qualquer coisa seria bem mais interessante invadir o um site de notícias bem movimentado e deixar lá alguma mensagem de alerta. Se era reforçar a segurança dos bancos, talvez tenha dado algum efeito.

Creditado a eles em Natal, houve ataques aos websites do Shopping Midway Mall ou da Câmara Municipal. Lá, a mensagem: "Não estamos aqui para amedrontar ninguém, apenas para provar que todos falhamos, até mesmo uma empresa que recebe milhares de reais do governo para administrar sites. Abra seus olhos para corrupção. Ainda há tempo." Ora, falar que há corrupção é chutar cachorro morto e dizer "abra os olhos à corrupção" chega a ser banal, pois ouvimos isso todos os dias até dos próprios corruptos simplesmente para limpar sua barra. Todos sabem que há corrupção no Brasil, mas denunciar casos de corrupção ignorados pela mídia seria muito mais proveitoso e valeria muito mais o gasto de tempo e energia. A intenção foi ótima, mas não foi muito informativo.

Enfim, não tenho nada contra os Anonymous em si, afinal eles não são uma unidade hierarquizada com interesses uniformes. Até simpatizo por eles e acredito que eles, mais que qualquer outro grupo ativista, tem o poder de fazer alguma mudança. Por outro lado, não dou credibilidade a qualquer um que assim se auto-intitule - pois atrás da máscara pode estar qualquer um - nem concordo com todos os métodos empregados. Desconfio também com a natureza de suas reivindicações. Sempre me pergunto, quando qualquer grupo age na política, qual seria o seu objetivo e sua justificativa. Na falta da explicitação destes, eu mantenho a dúvida. Estou com os Anon em muitas coisas, mas peço a que mantenham metas, métodos e razão pois sem isso as ações podem ser improfícuas. Aos demais, olhos abertos!

Autor: André Marinho
Criação: 18/03/2012

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