Humor muito além do
que se vê e que se pensa a respeito do humor, comédias sem apelos,
apego ao óbvio, inocência transvestida de safadeza e personagens
que não passam de meros e típicos brasileiros de todos os dias,
todos os bares, todas as esquinas. O Brasil não esteve de luto nos
últimos três ou quatro dias; estará por um bom tempo, muito tempo.
O pai da comédia
brasileira, por assim dizer, nos deixou na ultima sexta-feira,
deixando não apenas saudades e lembranças de um passado de muita
graça e senso de primeira linha. Mas um vácuo, que dará muito
trabalho para ser preenchido.
Não estou
menosprezando as revelações dos últimos anos ou os protagonistas
contemporâneos da comédia e do humor brasileiro. Tem deles que sabem tocar muito bem o coração das pessoas, sim! Porém, bem diferente daquele cearense de baixa
estatura, oriundo de uma família promissora de sua cidade a qual
migrara para o Sudeste do país em virtude de dificuldades financeiras,
parece que as estrelas de hoje em dia têm pouco a falar, com um
certo apelo à baixaria – como se sexo, palavrões e excesso de
“infantilismo” fizesse a graça na cabeça das pessoas tal qual o
Pantaleão, Nazareno ou Coroné da era da TV analógica – ou coisa
do tipo.
Poucos se preocupam em
retratar uma realidade cômica de um preguiçoso arrodeado de
serviçais ou de um cidadão malandro – o extremo estereótipo que
se vê do brasileiro nos quatro cantos do Brasil –, mas ameaças à
integridade sexual da mulher do outro, excesso de palavrões, 'xavões',
apelos a uma série de barbáries em horário nobre para maiores de 18 anos e menor nenhum assistir ou
algo do gênero, isto sim, são as bolas da vez do humor dos últimos
dias!
Exibem uma
gostosona semi-nua, cantada por vários homens de gravata, de sunga
ou esporte fino - como se o biquíni no corpo dela ou as curvas ali
presente tivessem alguma graça - e isto traz audiência, todavia, onde
está a graça nisto tudo (mais uma vez)?
Falam que o Chico
Anysio 'morreu de desgosto', como colocou um colunista de uma revista
de circulação nacional... Desgosto, por ter sido esquecido pelos
amigos, por aqueles para os quais dedicou apoio, pela grande cúpula
responsável por despejar putaria e baixaria na cabeça do povo, como
se isto fosse produto de comédia.
A maior graça da
comédia está no artista cômico e esnobe, que despreza a presença
do diretor e é a grande estrela cobiçada pelos maiores estúdios de
gravação da estória, ou no professor mal pago que cuida de um turma
homogênea de alunos, do mais inteligente à matuta, do Baltazar ao
‘Armando Volta’ (genial, este nome!), algo fora do normal,
cabível ao entendimento de quem tem conhecimento de contexto e dos
fatos daquele período ali. Daquele momento histórico, politico, econômico... É humor para gente inteligente ou
que ‘torna pessoas inteligentes’!
E não estes que
diminuem a cabeça dos telespectadores. Estes, sim, possivelmente
deram o maior nó no coração do homem. Não merecem aplausos, porque
parecem nunca ter passado pela Escolinha do Professor Raimundo... A
maior escola do humor e da comédia brasileira chama-se Chico Anysio.
Mais de 200
personagens, mais de mil histórias, mais de meia década de
trajetória, um humorista desta linha sabe fazer graça melhor do que
qualquer jornalista, ator ou escritor de linha. Ele reúne estas três
atribuições e as soma às de humorista e comediante melhor do que
ninguém! É um verdadeiro cientista da arte de fazer pessoas rirem e
saírem de suas rotinas.
Confesso que, quando
ligo a minha TV nas noites de sábado ou nas tardes de domingo, sinto-me longe das minhas preocupações por poucos minutos...
Apenas. Só. E, depois, tudo volta! Algumas horas do meu ultimo final de
semana, as quais dediquei para ver alguns vídeos de programas e
quadros do Chico Anysio, d’Os Trapalhões ou do Chaves, no You
Tube, fizeram toda a diferença! Justo quando acreditei que a comédia
e o humor, os quais cresci assistindo e faziam-me rir, não passavam
de meras obras do passado que, hoje em dia, já não surtiam mais o
mesmo efeito...
Momentos como este, apreciar obras como estas, protagonistas como estes são
insubstituíveis. Como já dizia o cearense que deu rosto às caras e
bocas do brasileiro típico dos quatro cantos, “No humor, todos nós
somos insubstituíveis”. E o são, mesmo.
Porque a verdadeira
graça eterniza-se no primeiro sorriso estampado no rosto de qualquer
data.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 27/03/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
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