23ª Resenha Crítica - Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

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Olá, leitores! Aproveitei uma brecha de tempo livre para escrever a resenha que há muito tempo tenho tido vontade de fazer. O livro resenhado hoje é O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, de Luiz Felipe Pondé, filósofo brasileiro conhecido como "o pecador irônico" e autor de vários livros, entre os quais Contra um mundo melhor: Ensaios do Afeto, Do pensamento no deserto: Ensaio de Filosofia e Conhecimento na desgraça: Ensaio da Epistemologia Pascaliana. 

O livro é formado por diversos ensaios nos quais Pondé denuncia o politicamente correto como uma mentira moral. Para esboçar sua crítica, o autor vai se fundamentar na história e na tradição literária e filosófica ocidental. Com toda esse cacife intelectual, fala de vários assuntos do cotidiano como religião, sexualidade, hipocrisia, feminismo, educação, política, moral, entre outros, e tem opiniões ultrajantes para quem se escandaliza com tão pouco (nossa sociedade como um todo se encaixa nisso sem muito esforço). O politicamente correto é mostrado por Pondé como um culto à mediocridade, da covardia, da auto-degradação e, principalmente, da mentira e da hipocrisia. Se você acha que todo o mundo é lindo e maravilhoso e que todos devem viver em paz, cada um com sua vida sem a possibilidade de ser criticado, ao ler esse livro, das duas uma: ou você se tomará por irritação e blasfemará furiosamente ou se considerará um grande hipócrita.

As teses mais específicas são ainda mais provocadoras e muito bem fundamentadas. O autor disseca a humanidade sem o menor pudor e deixa as entranhas podres à mostra para que as pessoas se horrorizem e percebam a verdade inconveniente (que não é aquela do Al Gore, que melhor mereceria o nome de "muitas mentiras bem convenientes"). "Pessoas sem culpa são monstros morais", "qualquer homem que não tem medo de sua mulher sabe que toda mulher é sempre insatisfeita", "a sensibilidade democráticas sofre quando se aponta a relação entre culto da igualdade e da mediocridade", "uma das maiores besteiras em educação é dizer que todos os alunos são iguais em capacidade de produzir e receber conhecimento", "o povo é sempre opressor, Rousseau e Marx são dois mentirosos" são apenas algumas das afirmações provocantes do livro. Meu trecho favorito é um em que ele pergunta ao leitor se já fez mal a alguém que não merecia. Em seguida diz que se a resposta foi "não", é uma mentira. 

Foi uma grande satisfação ver teses opiniões tão chocantes serem defendidas com tanta autoridade. O livro mistura sacadas geniais do próprio Pondé a alusões a filósofos renomados, como Ayn Rand, Edmund Burke, Aristóteles, Nietzsche, Tocqueville, Platão, entre outros. É um ítem indispensável na biblioteca de leitores de filosofia e, claro, dos filósofos de boteco, que podem encontrar ótimos argumentos para utilizar na próxima discussão, caso não estejam embriagados demais para lembrar.

Só há dois aspectos que deixaram a desejar. Poderia chamá-los de "minhas duas decepções com o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia". O primeiro é a inadequação da obra à série de guias politicamente incorretos. O livro não é de forma alguma uma visão politicamente incorreta sobre a filosofia, mas uma visão filosófica contra o politicamente correto. Nada de errado em basear-se em filósofos Ayn Rand, Edmund Burke, Charles Darwin, Maquiavel, entre outros, para tecer suas críticas em forma de ensaio. O erro está em chamar um "Guia Filósofico do Politicamente Incorreto" de "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia". Este erro que poderia enganar o leitor, no entanto, está muito bem explicado na contracapa: "este não é um livro de história da filosofia, mas sim um ensaio de filosofia do cotidiano". Espero que um dia ainda saia um Guia Politicamente Incorreto da História da Filosofia, que preencha a lacuna que aquele deixou.

Em segundo lugar, as duas obras anteriores da série tinham um rigor acadêmico muito maior que esta. Nos Guias Politicamente Incorretos da História, é possível verificar as fontes depois da leitura e aprofundar-se. No lançamento mais recente, isso não acontece. Muitos filósofos são citados nos ensaios, mas nenhuma obra específica desses autores é recomendada. Na verdade, nem sequer há referências bibliográficas. Tratando-se de ensaios, não há nenhuma obrigatoriedade de citar fontes, claro. Só creio que seria algo a mais muito bem vindo.

O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia pode ser comprado em qualquer livraria pelo preço médio de R$ 29,90. Para manter a tradição da coluna Resenha Crítica, recomendo o Submarino como loja virtual. Clique aqui para ir à página do produto.

Autor: André Marinho

Criação: 27/05/2012

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