1º Ensaio Literário - O Que Corre Neste Rio?

O Que Corre Neste Rio?

Este é o primeiro texto que escrevo para a minha coluna pessoal no blog Ligadosfm.com. Embora há muito tenho publicado textos e mais textos autorais neste antro de cultura, ainda não havia tido a chance para assumir, com responsabilidade, uma coluna de opinião a altura de companheiros como: André Rodrigues, Andesson Decatelo, Anderson Aluado, Mozart Maia, Stephane Vasconcelos, Thiago Jefferson, Douglas Calheiro e outros, os quais invejo e desejo escrever como. 

E se a inveja criativa assim como Harold Bloom teoriza existe, e estou certo de que existe, é quanto a esse meu lado olho gordo que irei falar hoje. 

Pois, se ela existe, eu estou aqui e realmente gostaria de ter sido o autor pai do poema “The Negro Speaks of Rivers”, ou, em português, “O Negro Fala Para Os Rios”. 

Escrito em 1921 por Langston Hughes (1902 – 1967), um proeminente poeta que com apenas 18 anos de idade começou um espantoso currículo de escrituras revolucionárias, libertarias e poéticas, esta lírica composição convida o leitor para uma viagem pelo tempo, relembrando as origens, brincando com imagens e respondendo o porquê, assim como o negro, sua linhas estarão sempre escritas no cânone. 

Diferente do que costumamos ver pela vasta e disseminada literatura romântica e existencialista que apresenta frágeis eu líricos debatendo seus temores, chorando suas dores e enaltecendo seus amores, somos confrontados por um ser de certezas, que afirma como quem tem o conhecimento do mundo e nos mostra nada mais do que tem experiência. 

São palavras diretas que escarificam na memória a certeza de que o sangue no corpo dos homens é perene frente ás águas dos antigos rios. Rios estes que o banharam nas primeiras alvoradas (Eufrates), ninaram e serviram de morada (Congo), e os quais ele observava enquanto construía os grandes monumentos da humanidade (Nilo), atravessando a história até que o lamacento Mississipi refletisse o ouro da nação americana de Abraham Lincoln. 

Estes rios são entidades, que o eu lírico evoca não para requisitar seu lugar entre os outros, mas para expor que ele já estava lá, e como os rios que representam a humanidade, ele é a fonte de toda a história, pois o homem, antes de ser homem é negro. 

E com isto o texto constitui, como os quais eu desejo escrever e disseminar, o que considero mais importante em um poema, que não é o agraciar, mas o, em uma síntese de palavras escolhidas e insubstituíveis, usar do imaginário para dialogar com a realidade, expondo um problema real e requisitando os direitos de uma raça chamada raça humana.

Texto de Felipo Bellini Souza para o Blog Ligadosfm.com em 26/06/2012 - Este texto pode ser citado, copiado e publicado, desde que seja dada devida referência ao autor.


O Negro Fala de Rios
POEMA DE LANGSTON HUGHES, TRADUZIDO POR FELIPO BELLINI SOUZA.
  
Eu sei de rios.
Eu sei de rios antigos como o mundo e mais velhos que o fluido sangue humano nas veias humanas.

Minha alma cresce profunda como os rios.

Eu banhei-me no Eufrates quando o nascente era jovem.
Eu construí minha cabana perto do Congo e ele me colocou para dormir.
Eu olhei sobre o Nilo e cresceu as pirâmides sob ele.
Eu ouvi o cantar do Mississipi quando Abraham Lincoln
foi a New Orleans, e eu vi sua lamacenta água se tornar toda dourada no por do sol.

Eu sei de rios
Antigos, pardos rios.

Minha alma cresce profunda como os rios.

Traduzido por Felipo Bellini para o Blog Ligadosfm.com em 26/06/2012 - Não copiar sem a devida referência! 

The Negro Speaks of Rivers
BY LANGSTON HUGHES

I’ve known rivers:
I’ve known rivers ancient as the world and older than the flow of human blood in human veins.

My soul has grown deep like the rivers.

I bathed in the Euphrates when dawns were young.
I built my hut near the Congo and it lulled me to sleep.
I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.
I heard the singing of the Mississippi when Abe Lincoln went down to New Orleans, and I’ve seen its muddy bosom turn all golden in the sunset.

I’ve known rivers:
Ancient, dusky rivers.

My soul has grown deep like the rivers.

Langston Hughes, “The Negro Speaks of Rivers” from Collected Poems. Copyright © 1994 by The Estate of Langston Hughes. Reprinted with the permission of Harold Ober Associates Incorporated.
Source: Selected Poems (Vintage Books, 1987)

Autor: Felipo Bellini Souza - Criação: 26/06/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

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