A Morte de Joyce
Para você o que representa a morte? O que constitui o fim da vida frente aos vivos que a alimentam? Eu não sou a melhor pessoa para debater temas metafísicos como este, mas acho que podemos encontrar boas discussões sobre estes aspectos na literatura, e em especial na forma de encontrar estes temas.
Na coluna de hoje vamos nos atentar a um conto muito conhecido da academia e escrito pelo escritor irlandês que talvez mais tenha influenciado a literatura de língua inglesa nos últimos 100 anos: James Joyce.
“The Dead”, ou em português “Os Mortos”, conta, como o titulo evoca, a história de um morto, ou mortos, onde o morrer não está conectado ao parar de respirar, mas a morte social, moral e amorosa de um alguém e de uma sociedade.
Partiremos então para a analise destes três elementos no texto, não sem antes informar que James Joyce tem como foco em sua literatura, sejam ela por romances, contos ou mesmo o teatro, a crítica fervorosa aos padrões da Irlanda da época, seja na instituição família, política, religião e aspectos morais cívicos, o que torna, antes de tudo, este conto uma ataque ao comportamento dos irlandeses, fossem eles católicos ou não.
Outro aspecto importante, é ressaltar que a ‘coleção joyciana’ é extremamente autobiográfica, confundindo muitas vezes a história do autor com a de seus personagens, o que se pode sugerir em “The Dead”, mas que não iremos focar neste breve ensaio.
Sendo assim, a morte acontece em uma festa natalina, onde reunidos, amigos e conhecidos se mostram bem vestidos e comem gostosas guloseimas enquanto esperam o discurso da noite.
Entre todos, o nosso protagonista, Gabriel, se destaca pelo atraso e aos poucos se encaminha para o que vou chamar de “morte joyciana”, onde o personagem perpassa três situações que por si já definham o homem em sua vontade de viver e colocam em check quanto ao que realmente o constitui homem.
São três mortes, a primeira em dois momentos distintos, um no atraso da festa e outro quando ele falha com sua educação, deixando de ser ‘gentleman’, ao ponto que Lily, a criada, decline sua gorjeta, o forçando a correr pelas escadas insistindo até que a moça aceite seu dinheiro, como podemos ver abaixo:
“- Lily - disse ele, colocando a moeda em sua mão. - Estamos no Natal, não é? Tome... uma pequena... Apressou-se em direção à porta. - Oh não! - exclamou a moça, saindo atrás dele - Não posso aceitar. - É Natal! É Natal! - disse Gabriel, quase correndo para a escada e agitando a mão num gesto de desculpa. Vendo-o subir a escada, Lily gritou: - Então muito obrigada, senhor Conroy.”
O que é um desprendimento de força desnecessário, entretanto, apenas introdutório quando pensamos na morte de sua identidade política, onde este não é reconhecido pela dona da festa um cidadão irlandês.
- Por que haveria de me envergonhar? - perguntou Gabriel, piscando os olhos e tentando sorrir.
- Bem. Estou envergonhada de você - disse ela com franqueza. - Pensar que escreve para um jornal como esse. Não sabia que era anglófilo.
Dois fatos contrastantes, afinal o que é um homem se não fruto do país em que nascera e da imagem que passa para os outros? No entanto a terceira morte, que acontece após a festa e após ter pago a moeda do chofer como daria ao barqueiro Carontes, Gabriel falha com amante ao ouvir das confissões de Gretta, sua esposa, de que Michel Furey, um jovem amor da adolescência de Gretta fora capaz de morrer por ela.
Então, por fim, o conto acaba, mas embora spoilers tenham sido dados aqui, muitas outras leituras deste podem ser feitas e isto é o que o torna um texto tão rico e imortal. Por fim, nos resta uma reflexão, o que seria a vida sem interação social, morada e paixão?
Sem estas virtudes, Gabriel está Morto...
Referencias:
JOYCE, James. The Dead. In Dubliners. Great Britain: Wordsworth
Leia o conto!
Versão em português: http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/joyce/index11.html
Versão em inglês: http://www.online-literature.com/james_joyce/958/
Obs: Este texto pode ser copiado, publicado e afins. Mas não esqueça de colocar os créditos do autor: Felipo Bellini Souza, públicado no www.ligadosfm.com
Autor: Felipo Bellini Souza Criação: 27/06/2012 Objetivo: www.ligadosfm.com
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