28º Mundo Cão - Ser Professor e a Justiça em Sê-lo

Educação é algo a ser levado mais a sério do que acredita a vã e audaciosa sabedoria popular. Quando se reivindica por aí 10% do PIB somente para a educação, não o fazem justificado pelos baixos salários pagos pelas esferas pública - e, ainda pior, privada -, pela insalubridade decorrente de lidar com hostilidades e incertezas no ambiente de trabalho e pelo trabalho pós trabalho (levar trabalho para casa) em uma sociedade onde o trabalhador passa mais de 12 horas do seu dia dedicado às tarefas profissionais fora do lar.

Para quem não sabe, 08 horas diárias de trabalho, mais duas horas de intervalo entre turnos, mais duas horas gastas, por dia, com deslocamento, em média, nos centros urbanos, é o tempo rateado o qual um cidadão dedica para o seu trabalho. O professor, além de estar sujeito a passar por tudo isso, tem que planejar aula, corrigir tarefas e provas e até ir a reuniões e festinhas que sua escola promove nos sábados, feriados, dias santos e quando lhes der na teia.

Isto é o que o difere dos demais profissionais, apesar de suportar na mesma carne as injustiças imponentes em um sistema o qual valoriza multiplicadores e não multiplicandos. É interessante observar que o salário do professor não é insuficiente somente no Brasil ou nos países do hemisfério sul. Na Coreia do Sul, um professor ganha em média 06 mil dólares / mês, país cuja renda per capital passa dos 20 mil dólares (mensais). Nos EUA, essa realidade não se faz doravante distinta, tanto que os criadores d'Os Simpsons e o próprio Chris Rock fizeram questão de colocar o Diretor Skinner dentro da casa da própria mãe e a Srta. Morello nos arredores do Brooklin, bairro pobre da cidade de Nova Iorque, como forma de mostrar ao resto do mundo o modo como o povo americano trata os seus professores.

Sabe, o mundo anda muito gripado e não há de se ir muito longe para tomar conhecimento de causa a respeito. Ainda que a cultura da disciplina e do ofício habite os costumes de países desenvolvidos, tais quais os que citamos no parágrafo anterior, a formação do homem, do ser, do cidadão, que construirá uma nação, criará filhos e disciplinará rebanhos passa pelas mãos de várias pessoas. Os pais estão entre elas, porém, não há livro melhor e mais completo do que um professor - para tirar dúvidas, transmitir conhecimentos, compartilhar experiências e servir-se de exemplo.

Não há quem mereça melhor recompensa neste mundo capitalista - cheio de necessidades, que tanto diz sentir falta de pessoas qualificadas, sábias, que necessita decidir pelo certo, que não deve jogar lixo no chão ou pela varanda do apartamento e até respeitar as normas do trânsito - do que o profissional da educação. E o motivo é simples.

A responsabilidade de ensinar, de formatar a capacidade de milhões de pessoas aptas a formar opinião, desenvolver senso crítico e até transmitir os segredos de um ofício não é para qualquer engenheiro, médico ou bacharel. São quatro anos (geralmente mais) investidos em formação científica superior para trabalhar tanto quanto um profissional da saúde e ganhar quase 1/5 do que este recebe por seu trabalho...

Olha, os 10% do PIB para a educação é possível, sim, em um país cuja soma de toda a sua riqueza produzida passa dos 2,5 trilhões de dólares anuais e que gasta 1/3 disto com funcionários fantasmas, parlamentares e ministros, os quais, sequer, honram a própria atribuição dada às suas instituições (sobretudo, as da justiça).

Sou estudante de mestrado e estou há vários anos preparando-me para uma vida regrada de responsabilidades quanto à formação de pessoas aptas a fazer a engrenagem da riqueza deste país continuar girando. Todavia, é exatamente sobre isto que tenho levado, para mim, na forma de questionamentos. Não a respeito do tamanho do salário que vou ganhar ou do padrão de vida que conseguirei ostentar, entretanto e sobretudo, se estou preparado para ser um dos responsáveis pela construção da capacidade de discernimento do certo e do errado de variáveis inseridas em um contexto, o qual, cidadãos, propriamente ditos, acostumaram-se a ver o professor como um mero produto plausível de descarte.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 19/06/2012
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