8ª Entrevista Literária - MD Amado

M. D. Amado nasceu em Belo Horizonte no ano de 1969. É Analista de Sistemas e Editor. Iniciou-se na Literatura em 2004 e fundou a Editora Estronho anos mais tarde, com o objetivo de incentivar novos escritores a publicar obras sem modismos e com um rico diferencial literário. 

É autor do livro de contos “Aos Olhos da Morte”, e participou de várias antologias nacionais de Literatura Fantástica. É também responsável pelo site Estronho e Esquésito, fundado há dezesseis anos com o objetivo de publicar causos e outras curiosidades estranhas, além de disponibilizar espaço para divulgação de textos e livros de autores nacionais.

O autor e editor MD Amado

Ligados: Quando surgiu o seu fascínio pela escrita? 

MD Amado: Bem tardio, eu diria. Por volta de 2004. Embora eu já mantivesse o site Estronho e Esquésito, que divulga desde 1996 contos e textos de novos autores, eu mesmo só me arrisquei depois do incentivo de alguns autores nacionais que publicavam no site. 

Ligados: O seu foco principal sempre foi Literatura Fantástica. Quando e como você conheceu esse gênero? 

MD Amado: Conheci, ou melhor, tive ciência de que aquilo que eu gostava de ler era conhecido como Literatura Fantástica, com a criação do Estronho e o início da publicação de contos por lá. Mas posso dizer que comecei a conhecer melhor o gênero também em 2004. O interesse maior foi despertado por autores como Richard Diegues, Giulia Moon e outros nacionais, além de autores estrangeiros como Stephen King, Ray Bradbury, Allan Poe e Lovecraft. 

Ligados: Quantos e quais livros solos você já lançou? 

MD Amado: Somente um. “Aos olhos da morte”, que saiu pela Editora Literata, com o selo Estronho (ainda não existia a Editora Estronho). É um livro de contos que retratam a morte humanizada. Talvez seja relançado pela Estronho em uma versão de bolso, mas é projeto para 2013. E nos próximos meses vou publicar um livro infantil pelo Selo Fantas, além de estar escrevendo um juvenil. 

Ligados: Quais autores influenciam a produção literária de Amado? 

MD Amado: Não sei se posso dizer que tenho influências diretas. O autor que eu mais gosto de ler é Ken Follett, que é mais ligado à ficção histórica. Gosto de vários autores e tento aprender com cada um deles, mas ainda há muito que trilhar por esse caminho.

Ligados: Como tem sido o reconhecimento do público a respeito de suas obras? 

MD Amado: Quando saiu o “Aos Olhos da Morte”, eu tive um retorno muito positivo dos leitores. Atualmente ando sem tempo para escrever, devido aos trabalhos com a editora e outra empresa da qual faço parte. É mais fácil alguém me conhecer hoje como editor, do que como autor. Mas vez por outra, em alguns eventos, sou cobrado por alguns leitores que conhecem meus contos de outras antologias e da internet. 

Ligados: Em 1996 você criou o site Estronho e Esquésito, onde exibia causos, lendas e outras curiosidades sobre assombração. Em que momento e por qual motivo você resolveu intercalar a sua proposta inicial com a Literatura, criando a Editora Estronho? 

MD Amado: Final de 2010. Eu havia tido uma decepção muito grande com uma editora do Rio, que trata os autores como simples objeto comercial e não ligam a mínima para o seu projeto, como aliás, muitas outras editoras que estão por aí, o fazem. Procurei o Edu da Editora Literata e fechamos uma parceria que deu inicio ao Selo Estronho, junto com a Literata. Por ele saíram os livros “Aos Olhos da Morte” (já citado aqui, de minha autoria), “Na Próxima Lua Cheia” (de André Bozzetto Jr.), “À Sombra do Corvo” (uma antologia de poesias sombrias) e a série “Extraneus”, que contou com 3 volumes (“Medieval Sci-Fi”, “Quase Inocentes” e “Em Nome de Deus”). A partir daí, tomei gosto do trabalho de edição e resolvi colocar no papel um velho projeto, que era levar os novos autores que até então publicavam no site, para os livros. Eu e Celly Borges (do blog Mundo de Fantas) já trocávamos ideias sobre esse nosso meio literário e suas falhas e acertos. Quando resolvi montar a editora, eu a chamei para entrar comigo nessa “furada”, pois ela conhece muito de literatura, principalmente juvenil e infantil, que também era um dos focos iniciais da Editora. Com isso, criamos o Selo Fantas que cuida dessa parte. 

Ligados: O que lhe dar mais prazer: Editar ou Escrever? 

MD Amado: Acho que meio a meio. É muito bom receber críticas e elogios sobre aquilo que você escreve, mas também é muito bacana ver os autores satisfeitos. Realizar pequenos sonhos literários é muito gratificante. E o mais empolgante é saber que fazemos isso com muito trabalho, pouca grana, sem exploração de autores e ainda assim, dando certo. 

Ligados: Qual o diferencial da Editora Estronho em meio a um mercado editorial tão gigantesco e competitivo? 

MD Amado: Talvez justamente a não preocupação com esses fatos. Queremos publicar algo e publicamos. Algumas obras talvez não tenham um grande apelo comercial, o que acaba fazendo com elas sejam ignoradas por editoras tradicionais. Não acho isso errado. Afinal, editora é um negócio como outro qualquer e tem que ser lucrativo. Porém, a Estronho não é parte de um projeto que nasceu com esse objetivo. Não temos a editora como fonte de renda principal. Óbvio que queremos que ela cresça e se torne lucrativa, afinal, é muito trabalho e precisa ser recompensado. Mas isso vem com o tempo. Gostamos de fazer coisas diferentes ou dar um toque diferente a coisas já conhecidas. Nossas antologias costumam misturar temas opostos ou instigar os autores a enfrentar desafios de criarem em cima de roteiros e cenários pré-estabelecidos. Já me perguntaram em algumas palestras, por que a Estronho não tem antologias que não sejam temáticas. É justamente para forçar o autor a se exercitar. É muito mais fácil você escrever algo livremente. Nada contra, claro, mas para enfrentar o mercado o autor tem que estar preparado para tudo. E essas antologias roteirizadas ajudam a criar a diversidade da escrita em cada um, fugindo do comum. Há poucos dias, recebi um e-mail de um autor dizendo que gostaria muito de participar de nossas antologias, mas que ele não consegue enxergar como pode ser criativo sendo ‘travado’ por regras e um roteiro definido. Bom, é exatamente ai que está o desafio.

Ligados: A editora possui selos voltados para outros gêneros literários? 

MD Amado: Somente o Selo Fantas, voltado para infantil, juvenil. Publicamos outros gêneros, inclusive não-ficção, mas eles saem com a assinatura Estronho mesmo. Em julho lançaremos “Cantando um Blues”, um documentário sobre o gênero musical e sua influência sobre a música brasileira. Além dele vem por aí um catálogo de filmes B, um estudo sobre fãs de anime, o livro da Ana Cristina Rodrigues, que dá dicas importantíssimas aos novos autores e outros títulos que anunciaremos em breve. 

Ligados: Entre as antologias que organiza, você já descobriu escritores brilhantes, acreditando no crescimento profissional dos mesmos? 

MD Amado: Com certeza. Alguns deles já estão publicando livros solo conosco e também por outras editoras, o que é muito legal de se ver. Com medo de esquecer alguém, devido a correria que estou aqui, posso citar a portuguesa Valentina Silva Ferreira, Nikelen Witter, GhadArddhu, Natália Couto Azevedo, Chico Pascoal, A.Z. Cordenonsi, Alliah, Raphael Montes, Sheilla Liz, Paulo Fodra... ihh, a lista é maior, pode ter certeza. Sem falar em outros autores já conhecidos que também participam de nossas antologias. 

Ligados: Divulgar livros ainda é uma tarefa bastante complicada, embora a internet tenha ajudado bastante. De que forma você atua para que os leitores tomem conhecimento das obras e autores de sua editora? 

MD Amado: Nosso principal foco ainda é a venda online, com promoções e descontos maiores (em vez de pagar os 50% das livrarias, convertemos isso em frete grátis e descontos para o público) e os eventos literários. O contato direto com o público nesses eventos tem nos trazido não só um retorno maior por parte dos leitores, como também novos contatos com autores desconhecidos e que têm obras interessantes a serem publicadas. Aos poucos também estamos aumentando os pontos de venda físicos, visando principalmente livrarias pequenas e médias, que trabalham melhor esse contato com o leitor. As grandes livrarias também são importantes para nosso crescimento, porém elas não possuem esse trabalho de apresentar aos leitores, os novos autores e trabalhos de editoras pequenas. Existe uma grande procura dos nossos livros na Cultura, por exemplo, mas é mais por conta de leitores que vão até a loja em busca nossos títulos, do que propriamente um trabalho de venda direta.

Ligados: A popularização dos famosos E-books tem aumentado nos últimos anos, embora ainda de forma lenta. A Editora Estronho visa um mercado promissor nos livros digitais? 

MD Amado: Eu ainda estou no time dos editores que têm muitas dúvidas a respeito do mercado digital. Vamos lançar nossas obras em breve nessa mídia, mas provavelmente utilizando-a mais como divulgação, do que fonte de renda. A ideia é colocar preços baixos e alguns serão publicados sem proteção alguma, e/ou distribuídos gratuitamente. 

Ligados: Uma pergunta que não cala: É possível, hoje, se viver tão somente de Literatura no Brasil, ou isso ainda faz parte de um sonho utópico na vida de um escritor? 

MD Amado: Possível é. Temos aí alguns exemplos que o público conhece bem. Mas é muito, muito difícil. O autor que entra hoje nesse meio esperando que seu livro arrebente de vender assim, num estalar de dedos, vai ter uma enorme decepção. A realidade nos bastidores é bem diferente. É preciso batalhar muito junto com a editora, saber ouvir críticas (isso inclui saber dividir a crítica que merece ser ouvida e a que não representa nada, aquela que serve apenas de palco para seres frustrados) e não desistir mesmo depois de levar uma dúzia de nãos. 

Ligados: Está envolvido em outros projetos individuais no campo literário, ou tem usado o seu tempo focado na função de editor? 

MD Amado: A editora consome quase todo meu tempo que é destinado à literatura. Já tive que recusar alguns convites de editores parceiros para escrever em antologias e acabei perdendo o prazo de outras duas que ia tentar seleção. Ainda escrevo em uma ou outra antologia nossa, mas mesmo assim, já deixei de participar de algumas que eu estava muito afim, por não ter tempo de melhorar meu texto. Preferi não publicar para não prejudicar a qualidade da coletânea. Foi o caso da série VII Demônios. Queria muito ter conseguido escrever, mas não deu. 

Ligados: Por possuir uma vasta experiência, qual a dica que você deixa para os novos escritores? 

MD Amado: Vasta experiência não seria o mais correto a dizer. Como disse antes, entrei nessa em 2004 e venho tentando aprender com editoras parceiras e outros autores. E muitas vezes a gente aprende mais com as coisas erradas primeiro... sobre o que NÃO fazer. E me baseando nisso, posso dizer para quem quer começar ou está começando, que em primeiro lugar não deixe a ansiedade tomar conta do seu objetivo principal. Você deve ser perguntar: quero ser um autor de verdade, ou ser apenas o escritor famoso entre meus amigos e minha família? 
Tendo essa resposta, você vai procurar aquilo que é melhor para sua realização. Se não se importa tanto com a qualidade real de seus textos e acredita piamente na sua tia, mãe, namorado ou o ‘amigo’ escritor que elogiou seu texto falando que não entende porque ainda não foi publicado, então pode procurar uma editora qualquer, que publique toneladas de escritores em um livro só, que cobre horrores para que você seja publicado, ou que te obrigue a comprar trocentos exemplares. Faça a festa com a família e passe a criticar todas as editoras que disseram não ao seu conto ou original. 
Mas se você quer ser um autor de verdade, seja paciente. Saiba ouvir um não. Procure saber por que, mande seu texto para várias pessoas em que você possa confiar na sinceridade das opiniões, antes de mandar para a editora. Escreva e deixe o texto descansar por um tempo. Depois leia novamente e novamente e novamente. Seu texto pode sim, ser muito bom, mas não parta do princípio de que você é FODA e que vai revolucionar o meio literário. Pesquise muito para não cometer erros grotescos, como dizer que sua obra é superoriginal, e depois ser ridicularizado em blogs e redes sociais, porque era tão comum quanto outro qualquer. E se for optar mesmo por pagar para publicar, procure informações sobre a editora. Não acredite em promessas milagrosas. Converse com autores que tenham publicado na mesma casa, procure livros publicados e ateste a qualidade. 
Se quer ser profissional, aja como um.

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Ken Follett;
Ator(Atriz): Wagner Moura;
Site: Estronho, claro rs. (www.estronho.com.br);
Banda: Ah, sou muito eclético... mas vá lá, Creedence Clearwater Revival;
Música: HaveYouEverSeen The Rain (Creedence);
Filme: Três Homens em Conflito (também conhecido como “O bom, o mau e o feio”).


Links dos seus produtos nas lojas online: 
Livraria Cultura: Aqui; 
Livraria Estronho: Aqui.

Ligados: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

MD Amado: Apenas agradeço a oportunidade de divulgar a editora e nossos projetos e fiquem de olho em nosso site (www.editora.estronho.com.br) para acompanhar nossos eventos, lançamentos e promoções. 

Um grande abraço a todos. 


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 29/06/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Comentários

Chico Pascoal disse…
Este é o Marcelo Amado. Um grande editor, escritor e mais: um cara autêntico.
abraço e parabéns pela entrevista.