1º Entreato - Origens

Origens


Olá povo!


Desejo boas-vindas a coluna Entreato. Nesse espaço estarei colocando pra vocês estórias de um ator em formação que, a partir de suas experiências e vivências, descreve diferentes temas do Teatro.


Bem, acredito que o melhor assunto para iniciar é o começo do Teatro. Não o Teatro no mundo, embora eu faça alguma referência para melhor compreensão daqueles que não estão a par desse assunto, mas a minha descoberta do Teatro, e como decidi fazer faculdade de Teatro.


Então, vamos lá! Onde o Teatro começou?


É difícil definir o início do teatro, e diante das divergências de pensamentos, prefiro não dizer onde ele começou, mas é certo que, partindo dos rituais, seu início se deu bem antes das escrituras das famosas tragédias e comédias gregas. Os rituais fazem parte das histórias mais remotas dos seres humanos e já podem ser considerados como o início dessa arte prática feita até hoje, pois mesmo nos processos de criação do chamado ‘Teatro Contemporâneo’ ou ‘pós-moderno’, os rituais são adotados como forma de procedimento, para que estejamos mais concentrados na hora do trabalho. Entretanto nesse momento ainda não surgira a figura do ator.


Muitos e muitos anos depois já na Grécia, segundo os escritos encontrados por estudiosos, em um ritual de adoração a Baco, o Deus das colheitas, do vinho e, mais tarde do teatro, um dos ditirambos se destacou dos demais e interpretou o próprio Deus Baco descendo para participar do bacanal (festa de adoração ao deus Baco) e desde aí surgiu a figura do protagonista, o ator. No teatro grego não era permitido que mulheres atuassem, sendo as figuras masculinas e femininas interpretadas por atores com máscaras. Felizmente para mim, isso mudou, assim como tantas outras coisas relacionadas a essa arte.


O que eu acho muito legal no Teatro, é que mesmo mudando tanto em nenhum momento o que foi feito é negado. O que eu quero dizer com isso é que hoje em dia, se alguém quiser trabalhar o teatro como os gregos trabalhavam, ou como os russos fizeram mais tarde, não há por que não fazer. O Teatro tem raízes muito profundas, mas que ainda podemos ver e utilizar, ainda que como uma breve referência para nossos trabalhos. Passamos da época de utilizar apenas o anfiteatro, ou o palco italiano (o mais comum ainda hoje), ou apenas a formação de roda no teatro de rua. Já rompemos com esses e muitos outros conceitos e alçamos cada vez voos maiores em termos de criação artística. Mas vou deixar pra me aprofundar sobre isso depois, porque senão não falo de mim okay?


Abrem-se as cortinas. Eis que nasce uma criança de pouco mais de quatro quilos estreando na vida sem saber do roteiro que o destino lhe reservava. Mas, por razões que a própria razão desconhece, desde pequena a danada despertou um interesse pelo teatro e começou a praticá-lo. Essa sou eu.


Considero que comecei a ‘fazer teatro’ ainda criança, mas não em escolas ou oficinas. Meu palco era a rua, os atores e atrizes, meus vizinhos, e eu, assumindo a figura diretiva, dizia aos meninos o que fazer e dizer, inventando os textos ao longo da brincadeira. Obviamente nessa época eu não tinha noção de estar ou não ‘fazendo teatro’ e isso tampouco me preocupava, mas hoje quando me perguntam quando eu comecei, com um sorriso de canto respondo que foi no ensino médio, porém sem deixar de pensar (com saudade) nas primeiras ‘apresentações’ que fiz às mães dos colegas de rua.


No ensino médio eu entrei para o primeiro grupo oficial de teatro do qual fiz parte, e foi com tristeza que poucos meses depois recebi a notícia de que o grupo acabaria, antes mesmo de fazermos a primeira apresentação em público, pois o diretor entraria para a vida política. Maldita política!


Enfim, depois disso passei disso passei três anos sem nenhum contato com essa arte, a não ser no posto de espectadora sempre que pude. É lindo! Não há como não prender a respiração e deixar os olhos brilhando quando se assiste a uma boa peça teatral. Você fica encantado, seja com o elemento lúdico, seja com a audácia de estarem lhe tirando de sua zona de conforto, seja com o riso, etc. O Teatro sempre me trouxe experiências grandiosas enquanto espectadora, por que quando saio da caixa cênica ou me afasto da roda – no teatro de rua, eu carrego comigo histórias, personagens e, muitas vezes, lições.


Eu sei que provavelmente você, leitor, está pensando que eu romantizo muito minhas experiências artísticas e de fato o faço, mas o faço por que eu realmente sinto assim dentro de mim e por que esse vírus do teatro correndo em minha veia, apesar de não me tapar os olhos para os problemas de ‘minha área de trabalho’, me faz sentir que vale a pena amar essa arte tanto assim.


Então, eis que depois de três anos sem fazer nada a não ser um curso de enfermagem que realmente me fez perceber como adoro ser atriz (nada contra a enfermagem, acho uma linda profissão!), estou eu desconsolada de minha vida, indo pra casa passar mais uma tarde monótona no sofá, quando encontro um amigo no ônibus pelo qual fui informada que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte tinha o curso de Teatro. A princípio pensei que seria um curso técnico (ainda hoje pessoas me perguntam se é mesmo superior), mas corri no site de busca mais próximo e descobri que realmente aqui, bem pertinho de mim havia o curso superior de Teatro. Fiquei feliz demais e, apesar de me saber despreparada pra fazer o vestibular, me inscrevi para a minha primeira tentativa de entrar para a federal.


Por algum motivo eu sentia que eu ia passar, mas na tela azul dos aprovados não chegava nunca o curso de Teatro... de repente minha vizinha vem gritando na rua, eu saio agoniada pensando que alguém morreu, mas ela me abraça parabenizando-me pelo resultado que ela, adiantando-se e olhando no site da comperve, havia comprovado. Foi uma sensação muito boa. Claro que a cada rosto ela diminuía um pouco, por causa do maravilhoso incentivo, pra não dizer o contrário. Com frequência as pessoas perguntavam com um ar descomunalmente feliz: Passou no vestibular?! Pra que curso? E eu via suas expressões de felicidade dissolvendo-se quando eu anunciava ser Teatro. Ouvi muitos ‘É o que você gosta, né?’ e ‘Depois você faz outro curso melhor’, e ainda ‘E se estuda teatro?’, entre outras coisas. Porém não me deixei abalar e foi assim que em 2009 entrei para a terceira turma deste recente curso de Teatro. Uhu!

Continua...


Por: Stephane Vasconcelos
Em: 18/07/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

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