34º Mundo Cão - Cultura na Terra de Câmara Cascudo

Uma observação que tenho feito ultimamente circunda o comportamento do natalense quanto á forma como ele encara a Cultura e a vida cultural de sua cidade. É possível encontrar cultura em Natal, boa parte um tanto quanto desvalorizada por parte da grande massa, porém, nada que estigme à falta de opções e lugares para sair e que não se tratem das casas de show de forró e de música baiana ou barezinhos regados de espetinho e Skol em garrafa.

Existem lugares alternativos, o Buraco da Catita e o Beco da Lama; além da rua Chile nas horas mais oportunas, a rua do Salsa em Ponta Negra, a Casa da Ribeira, o TECESOL, na altura da Lagoa do Jiqui, na Avenida Ayrton Senna, o espaço Casa Nova Ecobar e o Peppers Hall com seus colegas de 'pubismo' na Roberto Freire. Isto, sem falar nos cômodos mais alternativos os quais caem na restrição a um público mais seleto de pessoas, porém fiel - um belo exemplo é o Nalva Café, na Ribeira!

Ou seja, Natal não se resume à música baiana, ao Carnatal ou ao risca-faca cearense. Natal tem vida inteligente a qualquer hora do dia. O fato, contudo, está no modo como o natalense lida e dedica suas horas vagas de atenção a vida social à maestria da arte, do evento e da expressividade cultural nas suas formas públicas. O artistas potiguar ainda precisa de atenção... De muita atenção.

A inteligência cultural natalense resiste firme e heroicamente à bravura do "cover'ismo" e do mito da melhor qualidade àquilo que vem de fora. Tem artista da terra que paga suas contas com música, com os rendimentos oriundos do palco e com o pouco que o povo de suas mesmas origens encoraja-se a dar em troca do seu trabalho e das horas de espetáculo presenteadas por aquele a este na forma de som e poesia. É um ato de heroísmo.

O artista natalense merece muito mais do que atenção, merece continência e cartolas ao ar em seu nome. É isto o que ele tem que entender, do mesmo modo o qual o carioca e o paulista compreenderam quanto ao que, de verdade, vieram ao mundo os seus homens de frente da cultura; não à toa, o resto do país os aplaude de pé e segue suas regras de sotaque, poesia e modo de falar como leis e códigos de conduta.

A questão é que a grande mídia não está errada ao dedicar seus olhares aos artistas do Rio e de São Paulo. É, a propósito, de lá oriunda essa mesma grande mídia, e não consigo enxergar isto como argumento que justifique a "fraqueza" dos de cá contra os de lá. As repetidoras das grandes emissoras e as agências de promoção daqui têm total autonomia para fazer a obra dos "seus" (dos nossos) verdadeiras para o público conterrâneo.

O que não faltam são iniciativas e esforços desses agentes a fim de divulgar a nossa cultura e os nossos entes culturais, as pessoas as quais falam a nossa mesma língua, dialogam de igual para igual conosco e respiram o mesmo ar que o nosso todos os dias. O público natalense tem se mostrado indisposto a dar o ar da sua atenção ao que é de seu sangue e raça.

Veja bem, é um problema de público. Não de repressão, de falta de opções, de alternativas, de trabalhos ou de veiculação, como tentam justificar os mais 'céticos'. Vai muito mais à questão do gosto pela coisa da Bahia ou do Ceará do que pela inexistência de riqueza cultural na terra de Câmara Cascudo.

E como este grande autor potiguar já dizia, "Natal não consagra nem desconsagra ninguém". É verdade! A desconsagração parte do próprio público contra ele mesmo, porque é ele (o público da terra do leste potiguar) quem ganha com a Titina Medeiros nas novelas da Rede Globo e com a Roberta Sá lotando casas de espetáculo espalhadas Brasil afora.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 31/07/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

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