Tragédia
Olá povo!
Bom dia, boa tarde, boa noite para você leitor.
Lá estava eu no meio do primeiro semestre e de milhares de
trabalhos inacabados quando comecei a refletir sobre as reflexões de meu amigo
Ari (Aristóteles) sobre as tragédias,
quando meu computador apaga de vez. Em milésimos de segundo que passaram em
câmera lenta, vejo todos os trabalhos não salvos perdendo-se no buraco negro
que se tornou aquela tela! Danou-se, pensei paralisando, e liguei agoniada pra
minha dizendo que tinha acontecido uma tragédia.
Obviamente com tom de desdém ela concluiu a conversa com um
sonoro “Aham, grande tragédia! Deixe de ser dramática que tem gente com
problemas reais lá fora!”. Fiquei passada!
Certo, talvez minha “tragédia” não se assemelhasse as Tragédias gregas, onde personagens com
capacidades sobre-humanas passam por todas as provações possíveis e imagináveis
para atingir um final nem sempre feliz. Ou sequer com sua precedente histórica,
a epopeia, que eternizava em prosa as lendas ou personagens lendários em textos
épicos. Mas, se a tragédia trabalha no âmbito do possível, quem disse que minha
tragédia pessoal de precisar concluir alguns trabalhos sem computador não
poderia se tornar uma Odisseia¹? Ora,
se Ari, Homero e essa galera vivessem na era da internet, talvez o mundo
virtual fosse o ponto chave para criação de várias tragédias gregas, não
acham?!
Até porque, logo que evoluiu da epopeia, as Tragédias eram feitas com base na
improvisação, e de improvisação trágica o mundo tá cheio, e a internet mais
ainda! Mas a Tragédia Grega evoluiu devido aos temas tratados e ao sucesso que
fazia, teve um desenvolvimento natural e ganhou uma forma fixa onde até o
número de atores era previsto. Talvez por achar isso um exagero e querer
transgredir, ou pra se mostrar, Ésquilo
chegou botando moral e elevando o número de um a dois atores, mas em
consequência disso o coro, que narrava as estórias (o que naquela época era a sensação da peça) perdeu
parte de sua importância e, a partir daí, foi necessário que se criasse o protagonista. Pronto, lá está o ator
como foco principal, do jeito que gosta!
Depois disso Sófocles chegou e colocou mais atores em cena,
aproveitando pra dar origem à cenografia e, para melhor servir aos diálogos, o
metro tetrâmetro foi trocado pelo trímetro iâmbico.
Se na comédia a gente as pessoas e suas ações, a tragédia é
a “imitação” de uma ação importante do começo ao fim, da vida e seus
acontecimentos, como (apesar de não ser
grega antiga) a tragédia de Hamlet na busca ensandecida de vingar a morte de
seu pai.
Quase a mesma coisa de eu buscar ensandecidamente reavivar
meu PC e resgatar os arquivos não salvos e terminar logo esses abençoados trabalhos
que valem as notas da primeira unidade, as pequenas diferenças estão em meu pai
não ter sido assassinado, minha noiva não ter morrido afogada, eu não ter
assassinado ninguém e não ter nada podre no reino da minha casa, mas que
besteira. Afirmo que o que me aconteceu foi uma tragédia! (risos)
Talvez eu não seja mesmo a melhor personagem de uma tragédia
clássica. A personagem existe pelo caráter de pensamento (penso, logo o
personagem existe) e essa personagem sempre apresenta características
sobre-humanas, uma força maior para passar por suas diversidades, claro, assim
como na vida real, isso nem sempre é usado para o “bem”. É através da diferença de caráter e pensamento
é que seus atos eram definidos. De fato as causas decidiam os atos. Medeia, por
exemplo, quer vingar-se de Jasão e Creonte e para isso mata todos, inclusive
seus próprios filhos. Aqui a causa dos atos seria a vingança, sacou?
(felizmente no meu caso não precisarei matar ninguém)
Essencialmente a tragédia tinha que ser um belo espetáculo
com bons atores, melopeia, cantos e etc. E não adiantava tentar justificar
peças ruins com “essa é a concepção”. Se a concepção não fosse boa e bem
justificada, então nada feito!
Ari dividia a Tragédia em seis partes: a fábula, os
caracteres ou personagens, elocução, o pensamento, o espetáculo apresentado e a
melopeia e, segundo o mesmo, não é tragédia se não houver esses seis pontos
principais.
A fábula é a organização dos fatos obviamente é a característica
mais importante. Esses fatos tem que estar bem interligados e se utilizar de
elementos como peripécias e reconhecimentos, pois isso influencia na catarse. Fico
imaginando como seria mais fácil a minha vida (trágica ou cômica) se eu
conseguisse organizá-la assim...
O personagem é a identificação do homem e serva para
qualificar o caráter deste, mas a ação é o que ditará o seu destino. Fazer o
que se não basta ser bom pra ter uma vida boa ou mal pra ter uma vida ruim.
A elocução cuida da escolha dos melhores termos para contar
a história de forma que intensifique o poder de expressão. Elocução é uma coisa
que usamos demais pra contar pra a mãe que quebramos aquele vaso ou que
reprovamos, batemos o carro, etc.
O pensamento deve encontrar a melhor maneira de tratar o
conteúdo, de convencer as pessoas das verdades cênicas. Basicamente, o
pensamento cuida de fazer a mentira parecer sincera.
A melopeia é a ‘trilha sonora’ do espetáculo, desde o canto
de entrada até músicas de cena e é de extrema importância para pontuar os
acontecimentos. Ou pra fazer o povo sair correndo do teatro tapando os ouvidos
com as mãos.
E se em todas as tragédias há o nó e o desenlace, digo feliz
a vocês que meu nó, que começou no momento
em que o PC apagou, foi desenlaçado quando
eu consegui terminar o meus trabalhos em um PC péssimo de uma lan house a dois
reais a hora de uso! (Não acham que até
o desenlace foi trágico?! :/)
Mas mainha tá certa, aceito que minha história não foi lá
uma grande Tragédia.
Continua...
- Odisseia: Poema épico escrito por Homero, um dos principais autores trágicos da Grécia Antiga.
Por: Stephane Vasconcelos
Em: 01/08/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
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