29ª Resenha Crítica - Como Vencer um Debate Sem Precisar ter Razão

Conheça nosso novo espaço: http://demonstre.com/




Quem gosta de entrar em discussões de boteco ou de Facebook deve conhecer bem aqueles tipos que entram em debates apenas para provar que têm razão, usando sempre truques sujos para saírem como "vencedores", mesmo que nada tragam de relevante sobre o assunto em questão. Isso não é um fenômeno exclusivo dos nossos tempos. Os sofistas - que nem sempre eram debatedores desonestos - ensinavam a retórica como arte de convencimento e não de encontrar a verdade. Nesse exercício valiam deformações de sentido, manipulação de palavras, provocações e apelos. 
 

Como o ser humano não muda em natureza, e a vaidade sobe à cabeça dos intelectuais (e pseudointelectuais), esses ainda permanecem fugindo do essencial quando entram em debate e com isso conseguem "vencer". Por esta razão, é necessário conhecer todos os estratagemas desses debatedores para se prevenir. Mesmo que tal forma de uso da retórica tenha sido criticado por Platão e por Aristóteles já há muitos séculos, Schopenhauer ressuscita essa arte em Dialética erística, publicado em português em edição comentada, anotada e introduzida por Olavo de Carvalho (
autor de Aristóteles sob nova perspectiva, O jardim das aflições, A dialética simbólica e da coleção História essencial da filosofia, entre outros), com o título "Como vencer um debate sem precisar ter razão".

Schopenhauer define no intróito da sua obra a dialética erística como "a arte de discutir, mais precisamente, a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et per nefas (por meios licitos ou ilícitos)." Na discussão de tal arte, ele primeiro a relaciona com a dialética aristotélica, criticando esta por não ser uma pura e independente da realidade subjetiva, arte de vencer um debate propriamente dita. Assim, Schopenhauer coloca-se como um "realista" no sentido maquiavélico: para atingir determinado fim (vencer um debate), não importa se os meios são corretos moralmente. Olavo de Carvalho comenta os equívoco na interpretação de Schopenhaueriana da dialética aristotélica, como quanto ao objetivo da dialética, que é em Aristóteles um caminho para alcançar a verdade e não uma arte de debater como afirma o pessimista prussiano.



No capítulo seguinte, A base de toda dialética, são delineados os modos (ad rem, ad hominem - esse hoje consagrado como falácia - e ex concessis) e métodos (direto e indireto) de refutação de uma tese, independente de seu conteúdo. 



Depois, esses modos e métodos são mostrados como postos em prática em trinta e oito estratagemas, entre os quais: discurso incompreensível, homonímia sutil,  incompetência irônica, manipulação semântica, uso intencional de premissas falsas. Olavo de Carvalho comenta de que forma estes podem ser legítimos e/ou ilegítimos, além de dar explicações, críticas, exemplificações e se remeter a outras obras, enriquecendo substancialmente a leitura e contribuindo para uma interpretação mais universal do tratado de Schopenhauer. 

Depois dos estratagemas há ainda um adendo do autor de Dialética erística, em que ele argumenta por uma distinção radical entre lógica e dialética, esta que segundo o comentador do livro não é fundamentalmente correta.

Além do texto de Schopenhauer, sobre o qual já falamos, há também anotações do autor de Dialética erística, bem como comentários finais e uma longa e completa introdução por Olavo de Carvalho, que muito acrescentam ao leitor com relação ao tema desenvolvido no livro e promovem sobre ele uma reflexão.

Se em Dialética erística Schopenhauer mistura-se entre verdades e erross, em Como vencer um debate sem ter razão, suas falhas são tratadas de forma devida para que os leitores não comentam os mesmos abusos que o autor pretende com a justificativa de que outros também o farão. 

Há razão o suficiente para considerar que este é um volume de leitura indispensável para filósofos, debatedores, acadêmicos, intelectuais, pseudointelectuais, interessados em polêmicas ou somente alguém que busque um material que lhe enriqueça intelectualmente. Além disto, podemos sem medo de errar afirmar que esta edição do livro é a melhor já lançada em língua portuguesa.

Autor: André Marinho
Criação: 26/08/2012
Objetivo: www.ligadosfm.com

Comentários