Insisto em dizer que
mais do que 50% dos problemas de uma organização ou de uma
instituição, no que dizem respeito ao seu funcionamento, está
direta diretamente ligado à esfera executiva. Quem executa tarefas
finais tem também suas responsabilidades e sua parcela de culpa no
cumprimento do do seu papel, quanto organização. A execução é o
problema e não planejamento, necessariamente.
Planejamento é a
equação do problema, ainda que, por hora, tudo saia bem
diferentemente do planejado, bem diferente do “2 + 2 = 4” como
pregam as ciências exatas. Nem tudo termina por sair conforme o
planejado ou nem todas as etapas do planejamento o são seguidas ou
obedecidas como devem. Por hora, nem tudo o é executado.
É o que acontece na
educação. Não é incomum encontrar pessoas que concluíram o ensino
básico em uma escola pública e que sejam donas de um perfil pouco
condizente com o seu grau de instrução. Ela não capitou
suficientemente a mensagem repassada pelos professores nas horas de
sala de aula, lá na escola pública onde ela mesma estudou, ou algum
revestrés aconteceu no meio do caminho... Pode até parecer que ela
própria, inerentemente, o seja incapaz de absorver discursos mais
complexos, teses científicas ou colocações as quais orientam um
cidadão a compreender e interpretar o mundo à sua volta.
Mas, é falar demais
julgar a capacidade de conexão entre os neurônios de um
indivíduo...
Vem cá! Alguém parou
para pensar que o problema não necessariamente pode estar nesta
extremidade da corda, ou seja, no público final (a capacidade de
aprendizado do alunado)? Ou mesmo, na ponta da pirâmide
administrativa da gestão pública de ensino, tal qual muitos acusam?
Quero dizer, será que os professores estão filtrando como devem o
produto final do seu trabalho? Sim, pois esse produto final de que
falamos aqui chama-se aluno... Mais tarde, um cidadão brasileiro,
que terá seu emprego, pagará impostos e elegerá seus líderes
talvez não tenha o discernimento adequado para avaliar a conduta de
seus governantes (a ponta da pirâmide de que falei há pouco...).
Tive a oportunidade de
verificar o modo como os alunos da rede pública de ensino (estadual,
aqui no Rio Grande do Norte) são avaliados por parte de alguns
professores e, infelizmente, tristeza não é a palavra menos
adequada. A começar com a tática adotada pela direção de algumas
escolas, de burlar um sistema que visa o utilitarismo, porém, a
eficiência do sistema educacional, quanto maior o nível de evasão
de alunos em uma determinada unidade de ensino e ou menor a
quantidade de matrículas realizadas, maior será a probabilidade de
aquela mesma unidade ter suas portas fechadas e o seu funcionamento
cessado. Isso mesmo! E, como consequência, seus colaboradores
(professores e funcionários) serem remanejados para outra unidade
escolar.
Existem interesses
peculiares entre esses colaboradores de manter suas unidades em
funcionamento e o modo mais eficaz de se conseguir tal é aumentando
o número de matrículas ao passo que diminuindo a quantidade de
alunos evadidos. Até que se verifique a distribuição de notas e
frequências nas cadernetas de modo a viabilizar a aprovação do
alunado e de dar motivação para que ele continue os seus estudos e
mantenha-se matriculado (muito provavelmente naquela mesma escola
onde já estudava desde antes), isto tudo, a fim de manter as metas
da educação no que conferem ao crescimento em “n” pontos
percentuais no número de alunos alfabetizados, aprovados nas séries
do ensino básico e que concluíram todo o ciclo de sua educação
primária e secundária, que vai até o terceiro ano do Ensino Médio,
essa realidade, que parece mais um conto de fadas que se transformou
em verdade absoluta, não passa de uma peneira que se serve de
sombrinha para um sol escaldante do meio dia.
Aumentamos, sim, os
nossos alfabetizados e compatriotas com o Ensino Médio completo,
mas, será que eles têm o mínimo discernimento aceitável para
entender que consequência é produto de causa? Dói ver um cidadão
com nota “7,0” ou “8,0” no seu boletim de Física, quando o
mesmo sequer sabe que Peso = Massa X Aceleração da Gravidade (P =
m.a)... Isto, sem falar nos demais que prestam vestibular com o
mínimo conhecimento sobre Química Orgânica, Física Quântica,
Geometria Analítica e de conjugações verbais no Pretérito
Perfeito. Será que esse esforço todo de manter uma unidade escolar
aberta e funcionando, ainda que ineficientemente, atende
necessariamente o interesse coletivo de levar educação pública e
de qualidade para a sociedade?
Sabe, isto não se
trata de falta de qualificação ou de boa vontade dos nossos
professores. Tal não vem ao caso quando as condições salubres de
trabalho a que se submete a classe são desanimadoras ou quando ela
se vê diminuída frente à outras classes de servidores com “menor”
grau de importância junto à sociedade. Ainda que cada um tenha a
sua devida importância, olhar para a educação não significa
vislumbrar um paraíso controlado por números ou por profissionais
perfeitos.
Como assim? A manobra
institucional existe, sim, a começar pelos Diretores das escolas que
pedem aos seus professores “aquela forcinha” para aprovar aqueles
alunos menos disciplinados e com as mínimas condições possíveis
para seguir as séries à frente; a começar pelas secretarias das
escolas que empurram aluno a dentro das salas de aula, entupidas, por
sinal, sem qualquer critério averiguativo sobre as condições
acadêmicas daquele aluno novato. Isto, sem falar da inexistência de
acompanhamento adequado junto aos “retardatários” ou com
dificuldades...
Não estamos falando,
necessariamente, daqueles profissionais que se ausentam do seu posto
de trabalho ao bel prazer próprio, beneficiados por uma legislação
que torna o funcionário público parte de uma elite crescente neste
país. Sim, o sonho do emprego no serviço público, com a
estabilidade vitalícia proporcionada pelo modelo burocrático de
gestão e com a política da “boa vizinhança” junto aos colegas
de repartição, substituiu o de ser um empreendedor de sucesso,
milionário e dono de propriedades. Tem uma pesquisa realizada pela
FGV que fala sobre isto e o crescimento deste sentimento de
realização junto aos jovens de hoje tem crescido na casa dos dois
dígitos.
A educação não é o
Bataclã da obra Gabriela, Cravo e Canela, do saudoso Jorge Amado, um
puteiro de portas abertas para qualquer que passe à sua frente a fim
de saciar seus desejos mais instintivos de macheza ou de manda-chuva.
Nem os professores são as mucamas que se vendem por qualquer valor
aos clientes esvanecidos pela falta de respeito.
E acrescento que são
os professores os primeiros os quais devem ser cobrados por tal; a
despertar com o som do alarme que diz que sua profissão tem valor e
é maior do que essa muita nota e frequência que alguns empurram a
qualquer fé caderneta a dentro, para tapar o pouco conhecimento
desse público o qual quer muito mais um papel, um atestado de
incompetência, do que o real valor que garante o respeito e a honra
ao ser humano: o conhecimento.
Por: Andesson Amaro
Cavalcanti
Em: 07/08/2012
Objetivo:
www.LigadosFM.com
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