Quem disse que não? Esta talvez seja uma das maiores balelas
já ditas. Gosto, preferências e “pontos de vista” têm tudo a ver com educação,
com percepção, com discernimento, comportamento e com a influência do meio. As
pessoas querem discutir educação, o meio, falar da vida das pessoas, mas, dizem
que gosto não se discute. E o interessante é que até de novela falam, julgam,
criam clichês...
Recomendo não discutir com quem leva a sério este conselho.
Gosto tem que ser discutido, sim. Como não? Como gostar mais de bunda do que de
música e isto parecer tão normal? E por que a televisão aos livros ou, melhor, ‘para
quê se preocupar com os estudos quando se tem um pai que dá tudo o que se quer’?
Esta ultima paráfrase faz parte de uma das muitas ideias vendidas por uma
dessas bandas de “forró risca-faca” que tomam conta dos porta-malas automotivos
dos dias de hoje, sobretudo, no Nordeste (brasileiro).
De fato, gosto não se discute quando valores não são postos
em jogo. Todavia, se pararmos para pensar melhor, gosto está mais para uma estratégia
de inclusão no meio, traçada pelo próprio indivíduo, do que sentimento
verdadeiro a uma coisa (estilo musical, hobbies, etc.). Não é possível que
temas que tratam de sexo e de vagabundagem, de atitudes sem sentido, de pouca
moral ou que demonstram baixo valor cultural, associados à danças rítmicas
pitorescas, façam tanto sucesso...
Como pode o “Enfica” fazer tanto ou mais sucesso do que
verdadeiras obras concebidas por cantores quase líricos da nossa MPB? Quando as
pessoas justificam que isto faz parte do gosto das pessoas, esquecem-se de
também levar em conta que o público do “Enfica” tem menos anos de escola do que
aqueles que buscam o inverso disto – que se importam mais com o poema ali
escrito do que com aquele ritmo dançante restrito a dois acordes e nenhuma
escala. Os morros cariocas foram, durante muito tempo, as arenas do Furacão
2000, assim como as periferias do Recife são a casa de espetáculo do Mc Metal e
Cego.
A ascensão da “Bunda Music” ou da “MPBóca” dos anos de 1990
foi um problema de utilidade pública, sim, a começar pelo falho sistema
educacional brasileiro e por esta legislação pífia que permite que homens e
mulheres encorpados dancem quase nus na frente das câmeras dos maiores veículos
de TV e informação do país e que isto seja transmitido justo nos horários os
quais mais o são propícios à audiência dos nossos cidadãos de 10 anos ou menos
de idade. A Banheira do Gugú... Melhor, o Domingo Legal, do SBT, programa que
revelou pérolas como “É o tchan” e “dança da motinha”, passava às 15hs e não às
3hs da manhã.
Dá para entender a preocupante ruptura de valores que se dá
neste fato? Ou será preciso assistir ao Profissão Repórter da Rede Globo para constatar
a realidade na casa do Mr. Catra e suas filhas fazendo as mesmas danças,
sexuais, por sinal, que as “periguetes” fazem nos bailes Funks da vida? Elas
não têm mais do que 13, 15 anos de idade e isto não somente cai como normal nos
dias de hoje como o é bonito...
Sabe, não nos posicionamos contra o Funk, o Forró, a
Swingueira, Arrocha ou Axé. Em todos os estilos musicais, existem coisas nada
apropriadas para menores. Somos contra, sim, à exploração da falta de educação
do brasileiro mazelado para ascender algo nada apropriado à educação sadia e à cultura
de qualidade. Música é educação, cultura também faz parte da formação do
indivíduo e não à toa que nós, com lá nossos 20 e poucos, 30 e poucos anos de
idade, estudamos educação artista durante a vida toda no ensino básico.
Gosto não somente se discute como o é de interesse público.
A educação e a cidadania, a visão de mundo e o modo como interpretamos os fatos
passam por aqui.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 21/08/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
Confira a ultima coluna Mundo Cão: 36º Mundo Cão - Ensaio Sobre Responsabilidade
Comentários