13ª Entrevista Literária - Horácio Medeiros

O nosso convidado da vez é o escritor, professor e médico oncologista Horácio Medeiros. Aos 40 anos de idade, é autor do livro “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”, lançado em 2008 durante a Feira do Livro de Mossoró. Vale salientar que ele mesmo ilustra os seus textos de maneira impecável... Medeiros é natural de Caicó, e nos fala sobre literatura, desenho, vida pessoal e pretensões para o futuro nesta brilhante entrevista que nos cede.

O autor Horácio Medeiros

Ligados: Quem é Horácio Medeiros? 

Horácio Medeiros: Uma pessoa de origem simples que sempre sonhou em viver de arte e fazer medicina por prazer. Uma eterna criança que apesar do tempo passado, tem na cabeça muitas fantasias, as quais tenta transportar para o papel, seja desenhando ou escrevendo. Na verdade, devido à seriedade do trabalho que desenvolvo como médico oncologista e professor da universidade, poucos conhecem a figura por trás do profissional. 

Ligados: Quando e como começou a escrever? 

Horácio Medeiros: No colégio, já me destacava ao escrever meus textos, mas comecei a registrar minhas ideias de forma mais obsessiva na época de faculdade, quando resolvi escrever meu primeiro livro. Desde essa época, criei o hábito de registrar meus sonhos e ideias no que chamo de “livro dos sonhos”. É um livro que eu mesmo encadernei há muito tempo atrás e que me serve como uma espécie de registro para ideias, sonhos, fragmentos de coisas que leio e que vão surgindo no meu dia a dia. É muito prazeroso voltar e ler de vez em quando o que escrevi há 15 anos atrás e repaginar as ideias colocando no que produzo hoje. Descobri depois que esta é uma mania de muitos escritores. Essa minha mania de “construir livros” vem da minha vontade de possuir um atlas de anatomia quando fazia a oitava série. Já era apaixonado por ciências e tinha a mania de reunir tudo em livros. Tinha uma brochura de experimentos e ideias que ia reunindo de livros emprestados da biblioteca e dos amigos. Mas o ponto alto foi quando comecei a desenhar meu atlas de anatomia humana. Fiz uma encadernação com folhas de ofício e capa forrada com espuma e pedaços de uma velha calça jeans. Nele, ia reproduzindo os desenhos anatômicos de livros de ciências que ia encontrando pela frente. Ainda cheguei a desenhar algo quando entrei na faculdade de medicina. Ainda o guardo até hoje, já com suas páginas amarelinhas. 

Ligados: Em seu primeiro livro, nota-se uma rica variedade de enigmas e figuras mitológicas. Em que se baseia o seu estilo literário? Quando surgiu o interesse por este tipo de conteúdo? 

Horácio Medeiros: O primeiro livro que lembro ter lido foi o “Dicionário da Mitologia”, que me foi presenteado por uma tia. As histórias envolvendo deuses e humanos e depois sua relação com a história antiga que vi no colégio me envolveram e ainda hoje é uma das minhas melhores leituras. Meu contato com a maçonaria também me fez ter curiosidade sobre símbolos. Isso tudo na minha adolescência, em que tinha muito tempo e muita fome por conhecimento. Dessa forma, isso serviu como base para outras leituras. Leio sobre qualquer coisa sobre a qual tenho curiosidade. Recentemente, comecei a escrever sobre relógios e resolvi ler sobre a história da relojoaria. Fiquei entusiasmado com o que vi e encontrei. Outra coisa que sempre me fascinou foram pedras preciosas e a arte que as envolve. Na época em que escrevi o primeiro livro, estava iniciando minhas aulas de violino, algo que desejava desde a infância. Na verdade, escrevo sobre o que gosto. Cameron é isso: mitologia, símbolos, música. 

Ligados: Fale um pouco sobre “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”. 

Horácio Medeiros: Cameron foi o primeiro livro que resolvi publicar. Acho que como todo mundo, sempre tive muito receio do que escrevi. Ele nasceu da minha experiência dentro da maçonaria, aliado com a empolgação dos jogos de RPG que participei na época de faculdade. Para quem não sabe, RPG é um jogo de interpretação em que os jogadores incorporam personagens e se comportam como eles. Aquilo era fantástico. Eu jogava como um mago de dois metros de altura, cabelos loiros e olhos azuis “frios e hipnóticos”. Essa era a descrição do meu personagem. Vale salientar que só tenho 1,6 M de altura, olhos e cabelos castanhos. Ainda hoje encontro colegas de turma que jogavam comigo e lembram-se desta descrição. Cameron nasceu muito rápido e ficou pronto em uma ou duas tardes. O guardei na gaveta por pelo menos uns dez anos até resolver publicá-lo. Fala de um mago que usa de todo seu conhecimento de magia para criar um instrumento mágico que tem vida própria e que quando tocado, pode trazer a felicidade a quem houve. Na verdade tudo tem um pouco a ver com o que vivia naquele momento, inclusive as primeiras aulas de violino que comecei a tomar. Cameron constrói todo um templo coberto de espinhos onde o violino passa a morar. Com o passar do tempo, o violino vai perdendo suas cordas e cala-se para o mundo. Nascem quatro crianças marcadas pelo destino que quando crescidas, recebem a missão de restaurar as cordas do instrumento e para isso começam uma viagem simbólica de autoconhecimento aos quatro cantos do mundo, em busca de descobrir como restituir as cordas à “alma negra”, como Cameron chamava o violino. Foi a primeira idéia que resolvi colocar no papel e representou uma realização pessoal conseguir publicar. 

Fiz um pequeno evento dentro da Feira do Livro de Mossoró, encima do prédio da Estação das Artes Eliseu Ventania com violinistas e um cenário que eu mesmo construí com um altar central sobre o qual estava o violino de Cameron, cercado pelas personagens do livro. Foi realmente como ver um filho nascer. 

Ligados: Você mesmo ilustra os seus textos. O que te proporciona maior prazer: Desenhar ou escrever? 

Horácio Medeiros: Sim, eu mesmo faço minhas ilustrações. Sempre desejei trabalhar ilustrando livros infantis. Hoje descobri que é um setor altamente especializado e que meus desenhos não são muito comerciais. Então comecei a estudar aquarela, mas o doutorado que faço atualmente não tem deixado muito tempo. Sempre que estou escrevendo algo ou criando uma personagem, logo me vem à cabeça a sua forma e como ficaria no papel. Desenhar é uma coisa que me dá muito prazer e diversão. Esqueço o mundo e faço isso desde criança. As duas coisas me dão muito prazer, mas são prazeres diferentes. O escrever é mais recente e, portanto, é um divertimento mais maduro. Me sinto uma criança desenhando. 

Ligados: Qual o reconhecimento dos leitores a respeito do seu livro? 

Horácio Medeiros: Recebi críticas com as quais concordo. Todos gostam muito da estória e da ideia central do livro e principalmente dos seus desenhos, mas poderia ser maior com melhor desenvolvimento das situações e das personagens. Era uma criança quando o escrevi e sempre quis mantê-lo no mesmo formato. Dizia que o objetivo era ler o livro em uma tarde e que os desenhos complementariam o entendimento, deixando as lacunas para a imaginação do leitor. Hoje sei que não funciona bem assim. 

Na época em que o escrevi ainda não existia uma atenção tão grande dos leitores a este tipo de literatura envolvendo magia e símbolos com áurea da ficção que preenche as prateleiras das livrarias, como hoje. 

Ligados: Já recebeu críticas? Se sim, elas te ajudaram no amadurecimento literário? 

Horácio Medeiros: Sim, como disse, recebi críticas que foram bem vindas e hoje procuro aprender com elas quando resolvo escrever algo.

Ligados: Quais as suas pretensões a longo prazo? 

Horácio Medeiros: Publicar outros livros e me dedicar mais a isso. Tenho muitas ideias que eu gosto de chamar de originais e vários rascunhos iniciados e até alguns roteiros totalmente fechados com começo, meio e fim. Mas esta é uma fase de estudo. Estudo do mercado, estudo da arte do escrever. Não procuro apenas escrever por prazer, mas tornar comercial o que escrevo. Já descobri, por exemplo, que a ilustração do que se escreve torna seu manuscrito menos atraente para a maioria das editoras, que tem seus ilustradores premiados para tornar a obra mais comercial. Lembre que minha formação é médica e nunca tive formação para escrever, então busco isso hoje, e estudo formas de aprender sempre mais sobre o assunto. 

Ligados: Possui projetos no momento? 

Horácio Medeiros: Tenho sim. Estou terminando um manuscrito que dei o nome de “O coração do príncipe cigano”, e que inclusive pedi a opinião do Escritor Thiago Galdino, do ponto de vista de um mero leitor. Ainda falta muito trabalho no texto e concluir os últimos capítulos. Não sei se vou ilustrá-lo. Por enquanto, fiz apenas o desenho do “clave”, uma das personagens que é um pássaro mecânico com asas de chaves. Ele é uma chave mestra criada pelo mago Ganamir e que o príncipe Gorik recebe do aprendiz Almoxarir. A estória trás algumas ideias bem originais e o roteiro está bem firme. Tenho outros trabalhos como “Os sete demônios”, “O monstro dentro do médico” e “O mundo de Orion” este último, um livro infantil que também ilustrei. Pretendo participar de concursos literários que acontecem por todo o mundo e que acho que são uma grande oportunidade para quem está começando. No momento, estou totalmente envolvido com minha tese de doutorado, que está centrada em educação médica e baseada em uma estratégia de ensino que envolve fotografia e arte. 

Fui à Bienal do livro em São Paulo, agora em agosto, para conhecer melhor como funciona tudo que envolve criação, ilustração e publicação, na tentativa de profissionalizar mais o que por enquanto é só um hobby. 

Perguntas rápidas:
Autor(a): Ariano Suassuna;
Ator(Atriz): Selton Mello;
Site: Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas; 
Banda: Pato Fu;
Música: Dust in the wind Kansas;
Filme: O violino vermelho – Francois Girard – 1998.

Links na internet:

Ligados: Considerações finais. 

Horácio Medeiros: Sempre acreditei em estudo. Tudo que pretendo fazer, procuro dar embasamento estudando. O problema é que no Brasil e em especial no Nordeste, não existem escolas de escritores, e quando se consegue algum crédito escrevendo, é com muito talento e originalidade daquilo que se produz. Minha vida acadêmica toda foi regrada pela tecnicidade da medicina. Minhas experiências são com textos e ilustrações técnicas. Essa abertura para o mundo da literatura infantojuvenil é uma das faces da bagagem que trago da minha educação básica e das leituras que explorei quando criança e que incentivo meus alunos a buscarem dentro da disciplina de Medicina e Arte, que coordeno dentro da universidade.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 07/09/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

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