41º Mundo Cão - A História por trás da Indústria Verde e Socialmente Correta: eis o Lobby com as Velhas Práticas!

A palavra de hoje é consumo sustentável. Está na moda uma série de discussões dentro do tema, dos impactos que a industrialização e o mercado focado no consumo ocasionam para o meio ambiente aos altos índices de desperdício registrados pela indústria do plástico e de alimentos. É sabido que neste meio, têm aqueles que saem ganhando e os que vêem os possíveis danos ambientais e sociais disto.

É lógico que as conversas sobre os danos sociais saíram de moda, desde que os nossos professores de geografia e história do colegial abandonaram aquele discurso de que a instalação de indústrias e firmas estrangeiras no nosso país era maléfico para a nossa economia e para o nosso bem-estar - haja visto que "as mesmas remetiam seus lucros para as suas matrizes, sediadas nas suas nações de origem, pagando apenas os salários dos seus empregados e ganhando às custas deles no nosso vastíssimo mercado consumidor". Em termos de riqueza gerada, em nada saíamos ganhando... Bem marxista este discurso, não? Pois é, não obstante, nem tampouco, distancia-se do que muito li nos livros da Editora Moderna os quais me abordaram durante a vida no colegial.

A questão é que vivíamos, e ainda vivemos, uma era de pós ditadura. A democracia é moderna demais para o nosso jeito de eleger governantes e de interpretar o interesse público, justo para nós, que entendemos como maléfica boa parte das manifestações sociais que, unicamente, têm o único e central objetivo de defender nossos interesses e direitos como cidadãos brasileiros. Na indústria verde... Melhor! No discurso verde, a respeito da História das Coisas (bem ao modo o qual proposto por Annie Leonard), talvez, não estejamos, ainda, aptos ou preparados para distinguir uma ação pública de interesse coletivo da que visa o interesse particular de um grupo.

No ano passado, a cidade de São Paulo deparou-se com uma lei municipal que obrigava supermercados e outros mercados que atuam no varejo a não oferecerem as conhecidíssimas sacolas de plástico (aquelas branquinhas, que pegamos nos supermercados para embalar as nossas compras) para seus clientes. Na contrapartida disto, o consumidor teria que comprar suas próprias sacolas, não mais de plástico, mas, de material reciclado, e assumir a responsabilidade de fazer uso e reuso delas quantas vezes voltasse a fazer suas compras.

A ideia é maravilhosa, compartilha os preceitos que questionam um mercado consumidor cognitivamente educado para o consumo sem controle e o desperdício sem qualquer preocupação com o destino dado às sucatas geradas pela economia capitalista de mercado dos dias de hoje. Necessariamente, temos que despertar para a necessidade do reuso e da redução do desperdício; temos que dar maior valor às indústrias que visam a melhor gestão desse mercado de consumo desenfreado e inconsequente; temos que cobrar das corporações maior responsabilidade no descarte de seus dejetos industriais, sejam eles gerados na sua linha de produção, seja através do descarte oriundo das massas consumidoras, com todo esse processo de obsolescência planejada e incompatibilidade produtiva.

O "Iphone 5" que o diga...

Porém, esta mesma ideia de industria limpa e responsável pode estar coadunada com o lobby estabelecido entre os grandes grupos da nova indústria de mercado, a indústria verde. Se pararmos para interpretar os fatos, existe uma linha de produção que mantém toda a oferta de sacolas ecológicas, aquelas as quais os paulistanos viram-se obrigados a comprar cada vez que fossem aos supermercados fazer suas compras, mantida por uma indústria que se diz "verde" e alinhada com os interesses mais próximos de uma sociedade justa e sustentável. Justa?

Tem gente lucrando com este mercado (até aí, tudo bem!), não necessariamente gerando empregos ou colaborando com os números da economia, apropriando-se de tecnologias e técnicas que consolidam muita mais a relação do custo pelo lucro do que do investimento pelo desenvolvimento social. A propósito, no preço das mercadorias vendidas no varejo (e nele incluem-se os supermercados) está embutido o custo relativo à aquisição das sacolinhas de plástico, por parte dos estabelecimentos os quais as oferecem para o consumidor, como "prêmio" por neles estar comprando.

P.S.: É bom lembrar que, antigamente, o consumidor pagava um determinado valor por cada sacolinha de plástico, a parte do valor total pago nas compras, para abrigar suas aquisições. Acontece que, com o aumento da concorrência no varejo brasileiro, os mercados e supermercados deixaram de cobrar o referido valor (abertamente), embutindo-o na formação do preço das mercadorias em suas prateleiras. 

Paremos para questionar se as redes de supermercado paulistanas reduziram os preços de suas mercadorias após a proibição da distribuição das sacolinhas de plástico! Paremos para averiguar se a indústria que produz as sacolas ecológicas aproximaram-se das entidades governamentais ou do PROCON a fim de que averiguassem se as redes de supermercado mantiveram os preços tal qual antes da aplicação da lei que proibia a distribuição das sacolas plásticas em São Paulo ou se a redução, que deveria ocorrer, veio à tona! Quer saber? NÃO.

Parece muito que o interesse social da indústria verde das sacolas ecológicas cegaram-se frente à extorsão praticada, desde então, sobre a massa consumidora da capital paulista. Sim. Pois, ao lembrar que os primeiros lotes dessas sacolas custavam não mais do que R$ 0,99 e, até o presente momento, é possível adquiri-las pelo preço de até R$ 15,00, não seria de se estranhar se, por ventura, sua comunidade de acionistas e investidores estabelecessem lobby industrial junto às grandes redes de supermercado e do comércio varejista à nível nacional.

Isto, porque a ideia da obrigatoriedade da compra das sacolas ecológicas, por parte dos consumidores, e da proibição da distribuição das sacolas de plástico, ainda soam como prováveis em várias cidades e estados da federação. Se fosse eu paulistano, estaria dando graças à Deus pela revogação desta lei "verde"! Pois, como natalense, temo que esta lei vingue e vire moda por aqui, a qualquer momento...

O trabalhador, o maior afetado com este tipo de medida, não merece ser vitima de tamanho desrespeito. A verdade está nos detalhes!

LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo o que consumimos. Tradução: Heloisa Mourão. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 18/09/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

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