Desde as viagens que tenho feito ao interior a trabalho que
tenho me surpreendido com uma infinidade de coisas, as quais têm rompido com
certos preconceitos que sustentava até então, com alguns paradigmas quanto ao
conceito de cidade e de dinâmica do trabalho. Eu pensei que as pessoas, por
aqui, gostassem das mesmas coisas ou apreciassem aquilo que valorizamos lá na
capital.
Não é bem assim. Só nos damos conta disto quando nos
desatentamos ao detalhe de que é mais fácil encontrar uma locadora de filmes de
DVD do que um ponto de acesso à Internet via Wi-fi ou uma lanchonete do
McDonald’s, isto, em pleno século XXI. Os restaurantes param de atender após às
15hs e retornam apenas às 18hs.
Tal fato não se deve às questões ligadas ao desenvolvimento,
à riqueza material ou à modernização. Sai atrás de um fast food e lembrei-me
logo do McDonald’s. Acontece que a própria McDonald’s não é como a Coca-cola.
Seus produtos não podem ser vendidos em qualquer restaurante ou pizzaria e não
exige a aplicação prática de um conceito que constrói o que hoje conhecemos
como “comida rapidamente servida e no ponto para ser consumida”.
A propósito, até um dia desses, não existia McDonald’s em
boa parte das capitais do Nordeste brasileiro, quanto menos em uma cidade com
pouco mais do que 40 mil habitantes. Esta é a dinâmica que cobra das relações
estabelecidas entre compradores e vendedores o efeito “oferta v.s. demanda”.
Quais os motivos que levam uma entidade mundialmente conhecida a se instalar em
uma cidade de grande porte e não do interior, de pequeno porte?
Assim como a Coca-cola, grandes marcas como a rede de fast
food americana de que falamos aqui buscam muito mais do que um vasto número de
pessoas dispostas a comer fritura e beber líquidos ácidos. Uma rede como a
McDonald’s busca respirar ares os quais lhes permitam romper conceitos
culturais e interferir no comportamento das pessoas, ao ponto de aquelas
campanhas publicitárias de que vemos na TV nos convencerem de que é mais
racional e oportuno comer um sanduiche com um sachê de batatas-fritas e uma
latinha de refrigerante do que um prato de feijão com arroz, carne assada,
vinagrete e suco de limão.
Em 1997, as propagandas do Natal começou a ser contemplada
com os comerciais de TV do McDonald’s. Foi justamente o ano em que foi aberta
uma franquia da rede em Natal, todavia, muita gente já tinha conhecimento da
marca, sem sequer ter sido necessário sair da cidade para conhece-la. Acontece
que as pessoas que residem em Natal e os natalense tinham acesso à veículos de
informação que falavam da marca McDonald’s de alguma forma, fosse por
propaganda, fosse por alguma reportagem.
O “Q” da questão está nos costumes e nos paradigmas que os
quais se estabelecem até ali. Até por que, como acabei de dizer, uma rede de
fast foods como o McDonald’s não se expande sozinha! Ela necessita do interesse
das pessoas de um determinado lugar em leva-la até lá e isto não acontece por
acaso. O McDonald’s é uma grande rede franqueadora sediada nos Estados Unidos e
com várias franquias espalhadas pelo planeta.
Uma entidade como a própria necessita das forças
empreendedoras de alguém que percebeu a necessidade ou o desejo das pessoas de
consumir um determinado produto, usufruir um determinado serviço ou de ter
acesso a algo diferente de tudo o que existe ao seu redor. Eis a quebra de
conceito! O desenvolvimento surge como um ato anti-herói de um grupo de pessoas
dispostas a mudar os contextos cujos quais elas encontram-se inseridas, seja
com o simples intuito de ganhar dinheiro e lucrar com isto, seja impulsionado
por políticas de incentivo de alguém que compartilha desse desejo.
Não adianta julgar incapaz um grupo sem conhecer o seu
contexto. No caso das cidades do interior do Brasil, do Nordeste, existem
razões muito mais profundas do que o coronelismo, a política ou a violência.
Estamos falando de cultura, de interesse, de ruptura com uma estrutura
enraizada e com suas tradições. Há cidades grandes, no Brasil e no Mundo, que
não possuem uma unidade sequer da rede de fast food McDonald’s.
Estamos falando do poder do contexto!
GLADWELL, Malcolm. O ponto da virada – como pequenas coisas
podem fazer uma grande diferença (The tipping point). Tradução: Talita Macedo
Rodrigues. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 02/10/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
Confira a ultima coluna Mundo Cão: 42º Mundo Cão - #ErrarÉoMano Natalense
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