Trata-se do número total de abstenções no segundo turno das
eleições deste ano em Natal. Sim! Foram mais de 102 mil eleitores ausentes (abstenções
não-presenciais) e quase 56 mil votos brancos e nulos (abstenções presenciais),
o que pode significar a insatisfação do eleitorado natalense quanto aos
candidatos propostos para o pleito deste ano.
Para se ter uma ideia da dimensão destes números, o segundo
colocado no pleito, o candidato Hermano Morais (PMDB-RN) alcançou pouco mais de
153 mil votos e por causa de 0,6% (ainda no primeiro turno) de diferença,
conseguiu alçar uma vaga no segundo turno, frente ao candidato Fernando Mineiro
(PT-RN), o qual ficou na 3ª colocação.
Antes de tudo, é interessante explicar o conceito de
abstenção nos termos políticos da palavra! A imprensa brasileira vende o termo
abstenção referindo-se aos candidatos ausentes em um determinado pleito, ou
seja, aqueles que se ausentam da sua obrigação de ir ao seu colégio eleitoral
em um dia de domingo de eleição. Acontece que voto branco e nulo também se
trata de um tipo de abstenção, ou seja, a abstenção de não escolher por nenhuma
das alternativas ali presentes para representa-lo na administração pública. A
primeira se trata de “abstenção não-presencial”, quando o candidato, por algum
motivo, se nega frente as alternativas ali sugeridas; a segunda é “abstenção
presencial”, ou o candidato decide contribuir com o pleito informando não
concordar com nenhuma das alternativas propostas, através da anulação do seu
voto ou decidindo pelo voto em branco.
Para falar a verdade, a soma dos eleitores que votaram
branco ou nulo corresponde a pouco mais de 30% daqueles os quais se abstiveram de
ir às urnas, fosse este ultimo motivo, por algum motivo de viagem ou de
impossibilidade de estar na cidade no ato da votação, fosse por se negar a ter
que decidir por uma das duas escolhas e, para isto, fazer uso da sua própria ausência
como justificativa simplória. Na verdade, pouco mais de 13% do total de
eleitores natalense decidiram pelo branco ou pelo nulo.
O que se verifica, contudo, é que as variações percentuais
das abstenções neste segundo turno são de quase 3% em relação ao primeiro
turno. Em termos absolutos, tem-se um pequeno crescimento global de quase 3%.
Todavia, o que definitivamente puxou as abstenções para cima foram as
abstenções não presenciais, haja visto que as presenciais praticamente
mantiveram-se constantes. 3%, a propósito, corresponde a um valor muito
superior aos 0,6% que separaram o candidato Fernando Mineiro do segundo
turno...
Isto, de qualquer forma, quer dizer que a população de
eleitores da capital potiguar encontra-se insatisfeita de alguma forma com as
alternativas e com o desempenho gestor verificado pelos por seus representantes
públicos nos últimos anos. A população natalense anseia por melhores condições
de vida em sua cidade de tal modo que os governantes locais não têm atingido ou
traçado objetivos que proporcionassem tal. Daí as abstenções.
Mas, vejamos que o fenômeno de tamanho número de abstenções
não pode ser explicado única e exclusivamente à insatisfação crescente da
população de Natal com seus políticos. Se, por acaso, esses eleitores os quais
se abstiveram de ir às urnas votar tivessem mudado de ideia e se fizessem
presentes em suas seções eleitorais, muito provavelmente, teriam optado por
votar em um dos dois candidatos, o que correspondesse melhor ou se aproximassem
do seu perfil ideal de gestor público.
De alguma forma, essas pessoas viajaram, foram para a sua
casa de praia ou para o interior de sua origem familiar. Se perguntarmos a boa
parte desses eleitores ausentes onde eles estavam, responderão que em qualquer
lugar que não Natal. Alguns até argumentam que preferiram não direcionar
qualquer esforço para voltar a Natal a fim de votar, mas, se estivessem em solo
natalense, teriam comparecido aos locais de votação e teria escolhido por um
dos dois.
De qualquer forma, isto reflete a insatisfação do eleitor,
todavia, sua abstenção não justifica a pobreza de propostas e candidatos
melhores. Pouco antes do início do pleito, na noite do sábado, 27 de outubro de
2012, que antecedeu o domingo de eleição, previ em meu Twitter que este segundo
turno seria o momento cujo qual Natal enfrentaria a maior onda de abstenções de
sua história política. E assim se procedeu!
E, justamente, não tomei como base a insatisfação e o caos
político que têm predominado na gestão pública do Rio Grande do Norte e de sua
capital, nem tampouco a onda de movimentos sociais que ocorreram nos últimos dois
anos aqui na terra de Câmara Cascudo. Aconteceu que o nível de abstenções no
primeiro turno foi deveras alto, com a soma dos presenciais e não presenciais
beirando a casa dos 30% do total de eleitores da cidade. Se configurarmos esta
análise junto aos mais de 22% dos votos direcionados ao candidato Fernando
Mineiro e os outros 5% oriundos dos demais candidatos da esquerda (Prof.
Robério, do PSOL, e Roberto Lopes, do PCB), de alguma forma, esses números
naturalmente se associariam ao vasto montante de pessoas indispostas a dar seu
voto para um dos dois candidatos remanescentes ao segundo turno.
A proposito, como foi possível verificar nas redes sociais,
os eleitores potencias da esquerda e da extrema esquerda natalense não somente
incentivaram o voto nulo como afirmaram ter decidido por ele no pleito do
domingo. Na verdade, as abstenções presenciais e não presenciais decorrentes no
pleito municipal deste ano confirmam que a tendência de seus dados se
direciona para o sinal “>” da matemática.
Este número somente tende a aumentar na medida em que os
nossos representantes da câmara de vereadores e do casarão azul da Ulisses
Caldas decidirem pela continuidade do modelo de gestão que deveria ter mudado
há mais de 20 anos. Necessitamos de inovações na gestão pública e de adequações
URGENTES à nova realidade social que o mundo impõe a cada dia que passa.
O desafio, de agora em diante, não é conquistar a simpatia do
eleitorado (que é obrigado a votar aqui no nosso país), mas convencê-lo a
comparecer às suas sessões eleitorais nos próximos domingos de eleição.
FIGUEIREDO, Marcus. A decisão do voto: democracia e racionalidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2008.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 30/10/2012
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