48º Mundo Cão - Troque a sua Sorte pelo Juízo!

É uma recomendação sincera e não cheia de regras. As pessoas costumam apoiarem-se na sua sorte, no seu teço de oração, na crença em Deus e no sobrenatural do universo, do Maktub ou da infame teoria da vida após a morte, mas, relevam que, na verdade, a sorte coincide com a sua competência de arcar com suas responsabilidades e compromissos em determinadas horas.

Tipo, por ventura, escapei de um acidente de automóvel por ter chegado 15 segundos antes ao local onde teria acontecido o acidente e uma das vitimas teria sido eu. Era madrugada de sábado para domingo, creio que quase 04hs da manhã, e dirigindo em uma avenida de velocidade máxima permitida de 60 km, deparo-me com um veículo Hilux, da Toyota, invadindo a avenida sem freio e sem verificar a distância dos veículos que seguiam na avenida. Ele, o motorista do mesmo carro, invadiu a via sem frear, fazendo uma curva de 90º a uns 40 km por hora... O pneu do seu carro simplesmente derrubou o gelo baiano do canteiro central.

Meu veículo era um Fiat Palio na ocasião e eu trafegava a uma velocidade média de 50 km, na faixa da direita, quando percebi no asfalto uma luz forte, possivelmente, de um veículo. Pela velocidade a qual ela crescia, deduzi que ele estava em alta velocidade, logo, reduzi um pouco mais a velocidade do meu carro, sabendo que a frenagem de um carro como o meu, naquela situação, exigiria 14,5 metros de frenagem até que o veículo parasse por completo (como diz o manual de instruções).

Não sei se o proprietário daquela Hilux havia lido o manual do seu carro (acho que não, já que, por ventura, ele entrara de tal modo na avenida, a ponto de parecer um incompreendido a respeito das leis da física, que a sua atitude não somente poderia destruir com seu próprio carro, mas, com vidas e com o patrimônio alheio e público), mas, decerto, por pouco, muito pouco, as consequências de sua falta de juízo não culminaram em consequências irreversíveis.

Não necessariamente o motorista daquele robusto carro da Toyota contou com a forcinha da sorte. Enquanto optei pela prudência naquele momento, pelo modo como ele entrou na avenida, mostrou-se ser um bom motorista e ter domínio sobre a sua máquina a tal ponto de manter a estabilidade da mesma em uma curva de 90º a 40 km por hora. A propósito, a Hilux é um carro de tamanho porte e estrutura, que, se por acaso viesse eu com o meu veículo colidi-los, os estragos sobre a lataria e quem estivesse ali dentro seriam muito pequenos, se comparadas ao que me viria acontecer , tal qual ao meu carro.

Ou seja, ele podia (ainda que desajuizadamente), eu, não. Sabe, prefiro crer que se ele estivesse com um veiculo de mesmo porte que o meu, justo naquela ocasião, teria freado, verificado o trânsito da avenida e entrado. As pessoas tendem a inclinarem-se cada vez mais para o lado o qual remete mais cuidado e prevenção, na medida em que se veem em situações cada vez menos favoráveis a elas.

Esta mesma lógica se aplica ao comércio, ao crédito e à economia doméstica. O grande dilema dos brasileiros da classe C de hoje são as dívidas intermináveis e o comprometimento de mais de 30% de sua renda com contas a pagar. O juízo pede mais pressa do que o desejo pela sorte instantânea. Certa vez, observei pessoas ao meu redor com carros próprios, melhores e mais novos do que o meu, ainda que com uma renda inferior à minha. Em conversas, resolvia eu sempre especular as taxas de juros e as políticas de parcelamento que aquelas pessoas contratavam na compra de seus carros e constatei que nenhuma delas fazia poupança para usar como entrada e amenizar o peso dos juros e das taxas de administração de crédito previsto no contrato das concessionárias.

Trata-se de um fato curioso, haja visto que nenhuma delas tinham casa própria ou alguma aplicação em um fundo de investimento. Não eram funcionários públicos, nem encontravam-se em um contexto cujo qual proporcionasse chances palpáveis de crescimento e realização profissional. Natal é uma cidade pobre, financeira e empresarialmente, as chances de ascensão profissional por aqui são bastante modestas, se comparado com outros territórios da federação (estados e outros centros urbanos, ainda que menores). Veja bem, estamos tratando de um caso extremamente delicado, em que as pessoas, com pouca renda e com baixas possibilidades de angariar estabilidade no seu cargo e na sua profissão, ou seja, renda certa e garantida no fim do mês para poder arcar com este e outros compromissos, comprometem mais do que 30% de sua renda com consumo supérfluo e de curto prazo e não formam nenhum capital reserva ou de investimento – já que elas também usavam o cartão de crédito para pagar suas contas e trajavam roupas de marcas nada baratas.

Pelo cargo que assumiam em seus empregos, funções de analista e assistente administrativo, em Natal, sua média salarial não passaria dos R$ 2.000,00 (há gerente em Natal ganhando nada mais do que R$ 1.000,00), eram pessoas com pouco menos do que 02 anos de empresa e vivendo ainda na casa dos pais. Ainda que se tratassem de funcionários públicos, essas pessoas poderiam reconsiderar seus esforços de consumo e começar a considerar a possibilidade de formar patrimônio. Um deles, por sinal, era proprietário de um veículo cujo preço não se faz possível encontrar no mercado por valores abaixo dos R$ 40.000,00, todos tinham mais do que 25 anos de idade, com parceiros com os mesmos hábitos, segundo relataram, e sem previsão de estabelecer união.

Se pararmos para verificar, em determinados momentos, tanto essas pessoas como o motorista da Hilux deixaram-se contar com a sorte em singelos momentos de suas vidas, fosse na irresponsabilidade de invadir uma avenida com velocidade máxima permitida de 60 km por hora, sem tomar as devidas precauções, fosse na aquisição de um veículo comum à pessoas com renda até 05 vezes maior do que a delas.

Veja bem, isto não se trata de sorte. Ao longo de suas trajetórias de vida, elas adquiriram habilidade para lidar com determinados tipos de hostilidade e adversidade. Um é craque na direção veicular, outro, no modo como multiplicar sua renda usando a política de crédito brasileira. De qualquer forma, eles estão passando, estão levando suas vidas, ainda que daquele modo “como dá para levar”.

Sorte, na verdade, é um fenômeno fruto de nossas habilidades adquiridas em função de algo a fim de atingir algum objetivo. Estas pessoas, as quais fizemos referência aqui, não são sortudas, mas, habilidosas. E ainda que careçam de habilidades em outras áreas, que, por sinal, infiram-lhes futuramente no desejo e na única saída de ter que contar com a sorte, sofrerão as consequências disto.

Do maior desgaste das peças do seu veículo à falta que fará uma poupança, um fundo financeiro de reserva para emergências ou um acidente com graves consequências sobre terceiros, este e outros fatos de mesma meiose são o que caracteriza o fenômeno dos altos e baixos na vida das pessoas.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 06/11/2012

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