É uma recomendação
sincera e não cheia de regras. As pessoas costumam apoiarem-se na
sua sorte, no seu teço de oração, na crença em Deus e no
sobrenatural do universo, do Maktub ou da infame teoria da vida após
a morte, mas, relevam que, na verdade, a sorte coincide com a sua
competência de arcar com suas responsabilidades e compromissos em
determinadas horas.
Tipo, por ventura,
escapei de um acidente de automóvel por ter chegado 15 segundos
antes ao local onde teria acontecido o acidente e uma das vitimas
teria sido eu. Era madrugada de sábado para domingo, creio que quase
04hs da manhã, e dirigindo em uma avenida de velocidade máxima
permitida de 60 km, deparo-me com um veículo Hilux, da Toyota,
invadindo a avenida sem freio e sem verificar a distância dos
veículos que seguiam na avenida. Ele, o motorista do mesmo carro,
invadiu a via sem frear, fazendo uma curva de 90º a uns 40 km por
hora... O pneu do seu carro simplesmente derrubou o gelo baiano do
canteiro central.
Meu veículo era um
Fiat Palio na ocasião e eu trafegava a uma velocidade média de 50
km, na faixa da direita, quando percebi no asfalto uma luz forte,
possivelmente, de um veículo. Pela velocidade a qual ela crescia,
deduzi que ele estava em alta velocidade, logo, reduzi um pouco mais
a velocidade do meu carro, sabendo que a frenagem de um carro como o
meu, naquela situação, exigiria 14,5 metros de frenagem até que o
veículo parasse por completo (como diz o manual de instruções).
Não sei se o
proprietário daquela Hilux havia lido o manual do seu carro (acho
que não, já que, por ventura, ele entrara de tal modo na avenida, a
ponto de parecer um incompreendido a respeito das leis da física,
que a sua atitude não somente poderia destruir com seu próprio
carro, mas, com vidas e com o patrimônio alheio e público), mas,
decerto, por pouco, muito pouco, as consequências de sua falta de
juízo não culminaram em consequências irreversíveis.
Não necessariamente o
motorista daquele robusto carro da Toyota contou com a forcinha da
sorte. Enquanto optei pela prudência naquele momento, pelo modo como
ele entrou na avenida, mostrou-se ser um bom motorista e ter domínio
sobre a sua máquina a tal ponto de manter a estabilidade da mesma em
uma curva de 90º a 40 km por hora. A propósito, a Hilux é um carro
de tamanho porte e estrutura, que, se por acaso viesse eu com o meu
veículo colidi-los, os estragos sobre a lataria e quem estivesse ali
dentro seriam muito pequenos, se comparadas ao que me viria acontecer
, tal qual ao meu carro.
Ou seja, ele podia
(ainda que desajuizadamente), eu, não. Sabe, prefiro crer que se ele
estivesse com um veiculo de mesmo porte que o meu, justo naquela
ocasião, teria freado, verificado o trânsito da avenida e entrado.
As pessoas tendem a inclinarem-se cada vez mais para o lado o qual
remete mais cuidado e prevenção, na medida em que se veem em
situações cada vez menos favoráveis a elas.
Esta mesma lógica se
aplica ao comércio, ao crédito e à economia doméstica. O grande
dilema dos brasileiros da classe C de hoje são as dívidas
intermináveis e o comprometimento de mais de 30% de sua renda com
contas a pagar. O juízo pede mais pressa do que o desejo pela sorte
instantânea. Certa vez, observei pessoas ao meu redor com carros
próprios, melhores e mais novos do que o meu, ainda que com uma
renda inferior à minha. Em conversas, resolvia eu sempre especular
as taxas de juros e as políticas de parcelamento que aquelas pessoas
contratavam na compra de seus carros e constatei que nenhuma delas
fazia poupança para usar como entrada e amenizar o peso dos juros e
das taxas de administração de crédito previsto no contrato das
concessionárias.
Trata-se de um fato
curioso, haja visto que nenhuma delas tinham casa própria ou alguma
aplicação em um fundo de investimento. Não eram funcionários
públicos, nem encontravam-se em um contexto cujo qual proporcionasse
chances palpáveis de crescimento e realização profissional. Natal
é uma cidade pobre, financeira e empresarialmente, as chances de
ascensão profissional por aqui são bastante modestas, se comparado
com outros territórios da federação (estados e outros centros
urbanos, ainda que menores). Veja bem, estamos tratando de um caso
extremamente delicado, em que as pessoas, com pouca renda e com
baixas possibilidades de angariar estabilidade no seu cargo e na sua
profissão, ou seja, renda certa e garantida no fim do mês para
poder arcar com este e outros compromissos, comprometem mais do que
30% de sua renda com consumo supérfluo e de curto prazo e não
formam nenhum capital reserva ou de investimento – já que elas
também usavam o cartão de crédito para pagar suas contas e
trajavam roupas de marcas nada baratas.
Pelo cargo que assumiam
em seus empregos, funções de analista e assistente administrativo,
em Natal, sua média salarial não passaria dos R$ 2.000,00 (há
gerente em Natal ganhando nada mais do que R$ 1.000,00), eram pessoas
com pouco menos do que 02 anos de empresa e vivendo ainda na casa dos
pais. Ainda que se tratassem de funcionários públicos, essas
pessoas poderiam reconsiderar seus esforços de consumo e começar a
considerar a possibilidade de formar patrimônio. Um deles, por
sinal, era proprietário de um veículo cujo preço não se faz
possível encontrar no mercado por valores abaixo dos R$ 40.000,00,
todos tinham mais do que 25 anos de idade, com parceiros com os
mesmos hábitos, segundo relataram, e sem previsão de estabelecer
união.
Se pararmos para
verificar, em determinados momentos, tanto essas pessoas como o
motorista da Hilux deixaram-se contar com a sorte em singelos
momentos de suas vidas, fosse na irresponsabilidade de invadir uma
avenida com velocidade máxima permitida de 60 km por hora, sem tomar
as devidas precauções, fosse na aquisição de um veículo comum à
pessoas com renda até 05 vezes maior do que a delas.
Veja bem, isto não se
trata de sorte. Ao longo de suas trajetórias de vida, elas
adquiriram habilidade para lidar com determinados tipos de
hostilidade e adversidade. Um é craque na direção veicular, outro,
no modo como multiplicar sua renda usando a política de crédito
brasileira. De qualquer forma, eles estão passando, estão levando
suas vidas, ainda que daquele modo “como dá para levar”.
Sorte, na verdade, é
um fenômeno fruto de nossas habilidades adquiridas em função de
algo a fim de atingir algum objetivo. Estas pessoas, as quais fizemos
referência aqui, não são sortudas, mas, habilidosas. E ainda que
careçam de habilidades em outras áreas, que, por sinal,
infiram-lhes futuramente no desejo e na única saída de ter que
contar com a sorte, sofrerão as consequências disto.
Do maior desgaste das
peças do seu veículo à falta que fará uma poupança, um fundo
financeiro de reserva para emergências ou um acidente com graves
consequências sobre terceiros, este e outros fatos de mesma meiose
são o que caracteriza o fenômeno dos altos e baixos na vida das
pessoas.
Por: Andesson Amaro
Cavalcanti
Em: 06/11/2012
Objetivo:
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