49º Mundo Cão – Fé em Tudo como Está


Tenho me deparado nos últimos dias com comentários políticos e discussões em rádios e telejornais falando da total desunião e desarticulação dos principais interessados no desenvolvimento econômico de Natal e do Rio Grande do Norte quanto à busca por recursos federais para a consumação das obras de mobilidade e infraestrutura urbana de Natal para a Copa do Mundo. Natal é uma das 12 sedes brasileiras da Copa de 2014 e ninguém duvida disto; a questão é: ela faz jus ao título?

O principal motivo da torcida dos mais entusiastas, quanto à candidatura de Natal ao posto de Sede para a Copa de 2014, diz respeito ao legado a ser deixado pelo evento. Milhões de reais injetados na cidade, ampliação da infraestrutura urbana, ampliação do poderio econômico da cidade e entornos, divulgação turística nos principais pontos de origem de turistas potenciais e até melhoria na qualidade dos serviços básicos oferecidos à população, sobretudo, saneamento básico, saúde pública e educação. Em Natal, contudo, o caminho tomado tem sido o oposto.

Em virtude das demoras relativas ao início das obras do Arena das Dunas, o eixo central, durante mais da metade do período relativo ao processamento das obras e das ações em prol dessas melhorias, restringiu-se justamente ao cumprimento do prazo estabelecido quanto à construção por total do estádio. Esqueceram-se do restante, ou seja, do principal legado a ser deixado para o natalense e para o potiguar: as obras de infraestrutura urbana, qualificação de pessoal, saneamento básico e manutenção dos hospitais. A propósito, até as penitenciárias as quais se encontram nos entornos da Grande Natal não cumpriram com o seu papel quanto ao resguardo daqueles que, de alguma forma, perturbaram a ordem e o sossego do trabalhador e daqueles que vivem onde quem realmente ganha dinheiro neste país vem passar suas férias!

Na verdade, as obras de mobilidade e de infraestrutura as quais tornariam Natal uma mega cidade no pós Copa não vingaram por dois motivos: um, a incompetência gestora dos governantes e parlamentares, outra, por lobby de um pequeno grupo que domina determinados pontos de confluência econômica da cidade e que têm o menor interesse possível em ver o contexto local sofrendo mudanças e exigindo inovações da parte deles. Se este segundo motivo não viesse à tona tal qual vemos no agora, muito provavelmente abriríamos as portas de nossos mercados para potenciais entrantes, cujos quais exigiriam das unidades econômicas aqui já estabelecidas maior inovação, adequação às novas regras de mercado impostas pela natureza da concorrência, maior volume de investimento e, em decorrência da soma de todos estes eventos, redução da margem de lucro no curto prazo.

A começar pelas empresas de transporte público, a forte influência sobre as decisões tomadas na Secretaria de Mobilidade do município quanto às práticas sobre os preços cobrados aos usuários e ao sistema de integração e de circulação de ônibus, uma quebra no regime oligopolista / monopolista praticado por elas interferiria diretamente e não somente na qualidade do serviço prestado e dos veículos em circulação, mas, nos ganhos dos empresários. Não obstante a isto, temos o comércio local, que movimentam as unidades econômicas de distribuição e revenda... O que vemos (e temos visto há anos) é uma drástica defasagem nos salários pagos pela iniciativa privada e nas compensações aos profissionais mais qualificados.

E ainda agrego as palavras do Prof. Wellington Duarte, do departamento de Ciências Econômicas da UFRN, em coluna há pouco publicada em seu site:

“[...] um olhar mais atento notará que a economia do RN, frágil nas suas estruturas, não consegue dar um salto qualitativo quanto à geração de riqueza, posto que não um impulso real para que as verdadeiras geradoras de riqueza, a indústria de transformação, seja o carro-chefe da nossa economia. [...] Falta de Logística e de um governo que encare essa tarefa como a central para o nosso desenvolvimento, nos aprisiona nas eternas promessas futuras: ZPE’s e o aeroporto de São Gonçalo do Amarante. A primeira vegeta e a segunda, que promete gerar 35 mil empregos, começa a adquirir contornos de uma grande panaceia, já que parece se apostar tudo numa expansão das atividades de todo um espaço econômico a partir de uma atividade geradora de serviço”.

A imensa área reservada ao Parque Industrial de Parnamirim mais se consolida como bairro do que como área industrial; quanto mais se entende que a vocação da economia potiguar é o turismo, menos profissionais com diploma de ensino superior consegue se inserir no mercado dentro de sua área de formação. Isto aprisiona Natal naquela velha sina a qual a identifica como “cidade de funcionário público”.

É necessário rever todas as políticas de mercado da economia potiguar e natalense. Junto com a Coteminas, Alpargatas, Guararapes e outras grandes redes da indústria de transformação têm saído do contexto econômico potiguar para se instalarem no estado vizinho da Paraíba. Ou seja, elas entendem que por aqui existe demanda para a sua oferta! É como coloca o empresário varejista Flávio Rocha, “o ambiente no RN é hostil ao empresariado”. Se ele estivesse a fazer lobby, muito provavelmente não teria reduzido sua unidade produtiva local com mais de 27 mil funcionários para apenas míseros 07 mil e construído uma grande firma na cidade de Fortaleza...

Permitir a desindustrialização e não investir na capacidade estrutural da cidade e do estado é permitir que menos empresários interessem-se pela cidade. Menos industrias e unidades produtivas significa menos postos de trabalho, salários mais baixos e defasagem produtiva. A hostilidade prevalece para quem não usufrui das mesmas benesses políticas dos que se cansam de fazer lobby e conchavo junto ao poder público local.

O resultado, como bem coloca o prof. Wellington, é:

Entre 2002 e 2009, segundo dados do IBGE e IDEMA, a economia potiguar cresceu, em termos de volume acumulado, 24,6%, o pior de todo o Nordeste [...] Essa fragilidade se revela no grau de mortandade das empresas, que chega a 74,1% nos três primeiros anos [...]”.

O que não há de agroexportador em termos econômicos regionais, há de lobista. E, sabe, eu não será a Copa do Mundo, nem o futuro prefeito Carlos Eduardo, nem os “Xôs” e os “Foras”, a Amanda Gurgel ou a Professora Eleika quem mudará o que aí sempre esteve. Tudo isto é muito maior do que se pensa, esta entranhado na câmara municipal e na Assembleia Legislativa, até no Tribunal de Justiça. Está de acordo com o que aceita a cabeça do natalense e do potiguar.

DUARTE, Wellington. Os difíceis caminhos da economia do RN. Disponível em: < http://falariogrande.com.br/2012/11/13/os-dificeis-caminhos-da-economia-do-rn/>. Acesso em: 13 nov. 2012.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 13/11/2012

Confira a ultima coluna Mundo Cão: 48º Mundo Cão – Troque a sua Sorte pelo Juízo!

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