Tenho
me deparado nos últimos dias com comentários políticos e discussões em rádios e
telejornais falando da total desunião e desarticulação dos principais
interessados no desenvolvimento econômico de Natal e do Rio Grande do Norte quanto
à busca por recursos federais para a consumação das obras de mobilidade e
infraestrutura urbana de Natal para a Copa do Mundo. Natal é uma das 12 sedes
brasileiras da Copa de 2014 e ninguém duvida disto; a questão é: ela faz jus ao
título?
O
principal motivo da torcida dos mais entusiastas, quanto à candidatura de Natal
ao posto de Sede para a Copa de 2014, diz respeito ao legado a ser deixado pelo
evento. Milhões de reais injetados na cidade, ampliação da infraestrutura
urbana, ampliação do poderio econômico da cidade e entornos, divulgação turística
nos principais pontos de origem de turistas potenciais e até melhoria na
qualidade dos serviços básicos oferecidos à população, sobretudo, saneamento
básico, saúde pública e educação. Em Natal, contudo, o caminho tomado tem sido
o oposto.
Em
virtude das demoras relativas ao início das obras do Arena das Dunas, o eixo
central, durante mais da metade do período relativo ao processamento das obras
e das ações em prol dessas melhorias, restringiu-se justamente ao cumprimento
do prazo estabelecido quanto à construção por total do estádio. Esqueceram-se
do restante, ou seja, do principal legado a ser deixado para o natalense e para
o potiguar: as obras de infraestrutura urbana, qualificação de pessoal,
saneamento básico e manutenção dos hospitais. A propósito, até as penitenciárias
as quais se encontram nos entornos da Grande Natal não cumpriram com o seu
papel quanto ao resguardo daqueles que, de alguma forma, perturbaram a ordem e
o sossego do trabalhador e daqueles que vivem onde quem realmente ganha
dinheiro neste país vem passar suas férias!
Na
verdade, as obras de mobilidade e de infraestrutura as quais tornariam Natal
uma mega cidade no pós Copa não vingaram por dois motivos: um, a incompetência
gestora dos governantes e parlamentares, outra, por lobby de um pequeno grupo
que domina determinados pontos de confluência econômica da cidade e que têm o
menor interesse possível em ver o contexto local sofrendo mudanças e exigindo
inovações da parte deles. Se este segundo motivo não viesse à tona tal qual
vemos no agora, muito provavelmente abriríamos as portas de nossos mercados
para potenciais entrantes, cujos quais exigiriam das unidades econômicas aqui
já estabelecidas maior inovação, adequação às novas regras de mercado impostas
pela natureza da concorrência, maior volume de investimento e, em decorrência da
soma de todos estes eventos, redução da margem de lucro no curto prazo.
A
começar pelas empresas de transporte público, a forte influência sobre as
decisões tomadas na Secretaria de Mobilidade do município quanto às práticas
sobre os preços cobrados aos usuários e ao sistema de integração e de circulação
de ônibus, uma quebra no regime oligopolista / monopolista praticado por elas
interferiria diretamente e não somente na qualidade do serviço prestado e dos
veículos em circulação, mas, nos ganhos dos empresários. Não obstante a isto,
temos o comércio local, que movimentam as unidades econômicas de distribuição e
revenda... O que vemos (e temos visto há anos) é uma drástica defasagem nos salários
pagos pela iniciativa privada e nas compensações aos profissionais mais
qualificados.
E ainda
agrego as palavras do Prof. Wellington Duarte, do departamento de Ciências
Econômicas da UFRN, em coluna há pouco publicada em seu site:
“[...] um olhar mais atento notará que a
economia do RN, frágil nas suas estruturas, não consegue dar um salto
qualitativo quanto à geração de riqueza, posto que não um impulso real para que
as verdadeiras geradoras de riqueza, a indústria de transformação, seja o
carro-chefe da nossa economia. [...] Falta de Logística e de um governo
que encare essa tarefa como a central para o nosso desenvolvimento, nos
aprisiona nas eternas promessas futuras: ZPE’s e o aeroporto de São Gonçalo do
Amarante. A primeira vegeta e a segunda, que promete gerar 35 mil empregos,
começa a adquirir contornos de uma grande panaceia, já que parece se apostar
tudo numa expansão das atividades de todo um espaço econômico a partir de uma
atividade geradora de serviço”.
A
imensa área reservada ao Parque Industrial de Parnamirim mais se consolida como
bairro do que como área industrial; quanto mais se entende que a vocação da
economia potiguar é o turismo, menos profissionais com diploma de ensino
superior consegue se inserir no mercado dentro de sua área de formação. Isto
aprisiona Natal naquela velha sina a qual a identifica como “cidade de
funcionário público”.
É
necessário rever todas as políticas de mercado da economia potiguar e
natalense. Junto com a Coteminas, Alpargatas, Guararapes e outras grandes redes
da indústria de transformação têm saído do contexto econômico potiguar para se
instalarem no estado vizinho da Paraíba. Ou seja, elas entendem que por aqui
existe demanda para a sua oferta! É como coloca o empresário varejista Flávio
Rocha, “o ambiente no RN é hostil ao empresariado”. Se ele estivesse a fazer
lobby, muito provavelmente não teria reduzido sua unidade produtiva local com
mais de 27 mil funcionários para apenas míseros 07 mil e construído uma grande
firma na cidade de Fortaleza...
Permitir
a desindustrialização e não investir na capacidade estrutural da cidade e do
estado é permitir que menos empresários interessem-se pela cidade. Menos
industrias e unidades produtivas significa menos postos de trabalho, salários
mais baixos e defasagem produtiva. A hostilidade prevalece para quem não
usufrui das mesmas benesses políticas dos que se cansam de fazer lobby e
conchavo junto ao poder público local.
O
resultado, como bem coloca o prof. Wellington, é:
“Entre 2002 e 2009, segundo dados do IBGE e
IDEMA, a economia potiguar cresceu, em termos de volume acumulado, 24,6%, o
pior de todo o Nordeste [...] Essa fragilidade se revela no grau de mortandade
das empresas, que chega a 74,1% nos três primeiros anos [...]”.
O que
não há de agroexportador em termos econômicos regionais, há de lobista. E, sabe,
eu não será a Copa do Mundo, nem o futuro prefeito Carlos Eduardo, nem os “Xôs”
e os “Foras”, a Amanda Gurgel ou a Professora Eleika quem mudará o que aí
sempre esteve. Tudo isto é muito maior do que se pensa, esta entranhado na
câmara municipal e na Assembleia Legislativa, até no Tribunal de Justiça. Está
de acordo com o que aceita a cabeça do natalense e do potiguar.
DUARTE,
Wellington. Os difíceis caminhos da economia do RN. Disponível em: < http://falariogrande.com.br/2012/11/13/os-dificeis-caminhos-da-economia-do-rn/>.
Acesso em: 13 nov. 2012.
Por:
Andesson Amaro Cavalcanti
Em:
13/11/2012
Objetivo:
www.LigadosFM.com
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