A Internet vicia e disto ninguém duvida. Li há poucos dias uma
curiosidade, publicada na Superinteressante, sobre os males mentais causados
pelo acesso exacerbado à rede mundial de computadores. O interessante é que no
Brasil o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, a bíblia das associações dos profissionais da área médica e da
saúde, contemplará os distúrbios mentais associados ao uso da Internet apenas
no próximo ano – diferentemente de países como Coreia do Sul, Japão e Alemanha,
os quais lidam com o tema há anos.
Como assim? Quer dizer que a associação médica brasileira
ainda não reconheceu, de fato, os males ocasionados pela inteiração entre
indivíduos e a mesma rede? Se pararmos para visualizar o comportamento de um
usuário de computador nas redes sociais ou nos chats de bate-papo, há muitos
anos, é possível verificar posturas tais quais flerte, encantamento e superego,
muito comuns de serem vistos na maioria dos indivíduos enquanto presentes em
reuniões e encontros presenciais, cara-a-cara, festas ou mesmo nos primeiros dias
de aula em uma escola.
Ainda que se possa ofuscar alguns detalhes que
podem ser interpretados como defeitos, em uma conversa entre dois interessados
por coisas maiores do que uma simples troca de ideias, tal qual o nordestino
que chia nas cidades do centro-sul do país para não sofrer qualquer tipo de
discriminação ou o jovem de 17 anos que mente a idade para ser aceito em um
grupo composto por membros maiores de idade, na Internet, é possível, da mesma
forma, inibir qualquer tipo de furor. Os efeitos do Photoshop nas fotos são
como a maquiagem, assim como conversar sobre Shakespeare ou Axé music para
aquela morena desejada é o “about me” da personalidade ao vivo e a cores. Todo
mundo é capaz de adulterar informações de si mesmo, desde que o mundo é mundo.
Somos viciados em conviver com nossos
semelhantes. As pessoas gastam mais tempo nas redes sociais e não nos portais
de notícia, no You Tube ou escrevendo em seus blogs. O vício, nisto tudo, está
na necessidade de autoafirmação de cada pessoa, de formar opinião e de
sentir-se importante no seu meio de convívio. Igual na vida real, no P2P do
cotidiano, no contado e no convívio ao vivo entre pessoas que querem a mesma
coisa. O que há de errado nisto?
Se pararmos para verificar melhor o que tem acontecido no
mundo nos últimos anos, veremos que as pessoas passaram a usufruir desta
regalia, cada vez mais, sem ter que sair de casa. Antigamente, como nos dias de
hoje, sair de casa requeria tempo e disponibilidade. Atualmente, podemos
aparecer e gerar influência sobre nossos amigos e seguidores com a ponta dos dedos.
O Facebook, o Twitter ou o Instagram estão na palma de nossas mãos! Com um
pequeno e insignificante smartphone, fazemos tudo isto com o mínimo de esforço,
se comparado com o fato de sair de casa bem vestido, perfumado e com uma pilha
de qualquer coisa debaixo do sovaco.
É possível ser quem não se é no escritório, no ambiente de
trabalho ou no banheiro; no estádio de futebol, em um concerto de Rock, ou na
livraria. Na festa de 15 anos da prima, enquanto vai para o trabalho ou até em
uma consulta médica. O agravante está no ambiente e não nos indivíduos... Foi
como despertar células cancerosas em certa idade da vida, ou seja, estamos
falando de algo inevitável, que necessitava apenas de um empurrão, de um
aditivo contextual. E esse aditivo chama-se avanço tecnológico!
As pessoas compartilham nas ‘Timelines’ alheias coisas as
quais não necessariamente se associam com seu estilo de vida, sua filosofia,
seu pensar ou seus interesses pessoais. Tem gente que não gosta de ler, mas,
mostra a todo mundo o seu perfil no Skoob (um site de relacionamentos voltado
para leitores), com centenas de livros que, sequer, serviram-se úteis para a
leitura breve de uma orelha ou de um prefácio; tem gente que não gosta de
Caetano ou de Gil, mas, compartilha trechos de suas poesias e letras de música
para parecer culto ou com conteúdo. O mesmo é válido para os falsos defensores
dos animais, dos negros ou dos homossexuais. Falamos aqui da necessidade de ser
aceito no meio por parte de cada pessoa com um perfil nas redes sociais – tal qual
na vizinhança ou entre os colegas de faculdade.
E quanto àqueles que já têm abastecidas as suas necessidades
de atenção e autoafirmação, com um perfil ou não nas mesmas redes sociais, o
seu uso sobe e desce na medida em que necessita reabastecer essa integração. Há
pessoas que passam o dia inteiro postando qualquer coisa, como existem aquelas
que dão o ar da sua graça nesses sites esporadicamente ou quase nunca. É tal
qual o antissocial que não sai de dentro do seu quarto ou a ‘socialight’ que
não perde todas as festas.
O que queremos dizer com isto? Somos vitimas do mesmo vício.
O vício de aceitar e ser aceito, de conhecer coisas novas e de ser a novidade,
de servir-se de referência e ser reverenciado. Ou de receber um “Há quanto
tempo!” em uma janelinha de bate-papo desses sites modernos de hoje em dia. É
uma doença, sim, exige tratamento e será tão comum, de agora em diante, como as
enfermidades as quais assolam a humanidade, desde que o mundo é mundo.
MARCUM, David; SMITH, Steven. O fator ego: como o ego pode
ser seu maior aliado ou seu maior inimigo. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 20/11/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
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