É chato ser vítima da consequência.
Mais chato ainda é sê-lo das suas próprias... Sim! As pessoas têm o costume de
assumir responsabilidades, ao contrário do que se acredita e se diz nas
palestras motivacionais e de autoajuda. O que elas não assumem, contudo, são as
consequências de suas irresponsabilidades e, aí, vem uma série de
justificativas, desculpas e até culpa recíproca por desacertos acontecidos não
por descuidos terceiros.
Se observarmos, isto se trata de
um mecanismo de autodefesa, que tem o maior propósito de manter o indivíduo que
o pratica intacto e aceito no seu meio social. Erros não são toleráveis pela
maioria das pessoas e dos grupos sociais (talvez por isto as campanhas
indiretas nas empresas, que incitam seus funcionários a não terem medo de errar).
Erros são incoerências, são falhas, dependendo do grau, fruto de despreparo e
da inexperiência. Boa parte dos erros, cognitivamente falando, não é intencional,
mas, natural de um procedimento cujo ator principal não é dotado das mínimas
competências para acertar em suas medidas tomadas.
No ambiente empresarial, os erros
são tolerados até um determinado grau (geralmente, funções e responsabilidades
que não requerem tanta experiência tática ou domínio técnico). Na construção
civil, por exemplo, um erro cometido por um engenheiro ou um mestre de obras
assume o mesmo grau de importância e gera as mesmas consequências (a construção
pode desabar ou representar um risco estrutural). Em um departamento de vendas,
um erro cometido por um vendedor não gera o mesmo impacto sobre as vendas
totais, pois o mesmo vendedor, em se tratando do fato de atender mal a um
potencial cliente, pode acarretar no não cumprimento de vender pelo menos uma
de suas mercadorias a um único vendedor. A decisão tomada pelo gerente de
vendas, contudo, pode culminar na melhor qualificação de seus liderados ou nas
poucas saídas das mercadorias nas prateleiras. De qualquer forma, uma medida
tomada por um vendedor é um caso isolado, enquanto que a do mestre de obras
pode interferir em toda a obra.
O mesmo acontece com a vida
social (fora das empresas), ou seja, tudo dependerá do seu referencial. Dormir
com a luz acesa acarreta em uma conta de luz mais cara no fim do mês, assim
como exagerar nas brincadeiras sem graça com os amigos (provavelmente, essa
pessoa será ‘vítima’ de um possível isolamento) ou ter o costume de perder ou
não devolver objetos emprestados por outra pessoa. O que quero dizer com isto
tudo é que as consequências não estão, nem o são, acessíveis ao nosso controle.
As consequências são frutos de
uma determinada causa a qual justifica um acontecimento. Ou seja, controlamos a
segunda variável, a causa, de forma que colocamos em prática aquele velho
discurso popular e sem autoria de que “somos capazes de mudar o presente” e tornamos
as consequências futuras positivas e a nosso favor. Em outras palavras, são
plausíveis de observação e, aí, cai por terra o julgamento das pessoas.
Deixemos de lado agora as
fórmulas quase matemáticas e passemos a averiguar o comportamento recíproco das
pessoas. Por mais que elas exprimam o discurso o qual visa transmitir aceitação
e tolerância ao erro, menos será a aceitação de um determinado indivíduo em seu
grupo quanto maior for a frequência de seus erros. Mas, as pessoas objetivam
aceitação social e influência sobre seus ‘seguidores’ e, errando, elas não atingiram
este retrospecto de suas vidas sociais. Por isto, elas camuflam determinadas
contradições que vos acometem.
Isto se trata de um mecanismo de
defesa, o ego. Ao não assumirem o risco de sofrer as consequências em função de
um determinado erro cometido, essas mesmas pessoas reduzem a frequência dos
erros cometidos ao longo de sua vida, o que as tornam aceitáveis e com moral
dentro do seu grupo. Quando uma pessoa desmente a acusação de que perdeu um bem
o qual lhes fora emprestado ou transfere a culpa para outro indivíduo, ela assim
está agindo com o fim de preservar a confiança adquirida junto aos demais
colegas de convívio, haja visto que a mesma tem o interesse de novamente pedir
algo emprestado para alguém. Ou seja, ao manipular os erros cometidos, nas suas
diversas formas, o indivíduo que o faz tece-o com o maior intuito de preservar
seu status social e sua aceitação como membro de um determinado grupo.
Isto é muito comum em empresas,
na bolsa de valores e no varejo. Boa parte das empresas que fabricam e vendem
eletrônicos adotam uma postura nada satisfatória ao consumidor quanto ao
pós-venda, pois, quanto maior a demanda por reposição de peças ou garantias,
menor será a sua aceitação no mercado. As classes mais altas, por exemplo,
rejeitam marcas com vasto histórico de problemas, como a CCE, aqui no Brasil, e
a FIAT nos EUA. A culpa de um problema relacionado ao mau funcionamento de um
equipamento tenderá a sempre ser do consumidor, em vistas uso inadequado do equipamento,
e não do fabricante, por um erro de fabricação.
A palavra-chave da consequência é
“erro”. Erra mais quem merece menos a nossa confiança, tal qual merece mais a
nossa confiança aqueles que errarem menos. A causa é apenas o objeto da ação e
alguém tem que tomar alguma providência. Enquanto alguns agem, outros
observam... Em outras palavras, agimos para ser aceitos por observadores, que
preferiram observar ao colocar a sua confiança em jogo. Para eles, alguma vez,
deve ter sido doloroso ter que caminhar até conseguir a confiança e a aceitação
do seu grupo; agora, as dores e os riscos são transmitidos a terceiros.
De qualquer forma, as falácias e
as benesses da vida em grupo assolam a todos que não optam pelo isolamento. E haverão
de sempre ter que aceitar isto...
MARCUM, David; SMITH, Steven. O fator ego: como o ego pode
ser seu maior aliado ou seu maior inimigo. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 04/12/2012
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