60º Mundo Cão - Em respeito à corrupção e à incompetência

Em respeito à memória das vítimas de Santa Maria e a todas as pessoas que, de alguma forma, foram atingidas com o incêndio ocorrido no ultimo domingo, em uma boate da mesma cidade, cada responsável pelo acidente deveria parar de tentar tirar o seu da reta a todo custo. Isto é o mínimo aceitável em um país que, ainda que corrupto, tem lá a sua soberania, suas instituições e sua moral diplomática nas diplomacia internacional.

É lógico que a responsabilidade pelo triste ocorrido está para além da 'mera' irresponsabilidade da parte da banda e de sua decisão de fazer uso de um instrumento sinalizador em um local fechado e com estruturas de isolamento acústico expostas. Quantas e quantas vezes, com minha banda de garagem, não fomos questionados quanto ao uso de nossos equipamentos, por parte de produtores e realizadores de espetáculos? Muitas... Eram colocadas restrições quanto à voltagem, uso adequado de calçados, álcool e cigarros sobre o palco. Será que os donos do estabelecimento de Santa Maria não tiveram uma pequena conversa com o grupo quanto ao uso deste tipo de instrumento (sinalizador), e outros mais, em um ambiente coberto e de pouco espaço, haja visto que a própria banda era conhecida na região por fazer uso dos mesmos em suas apresentações?

A propósito, em qualquer casa de ensaio e espetáculo com isolamento acústico, o que se vê são paredes com capas de massa sobre a tal estrutura de isolamento ou, pelo menos, com orientações e restrições quanto ao manuseio de equipamentos ou o quê levar para o seu interior. Na verdade, a maioria das normas se dão através do boca-boca, mas, é quase que um barraco, armado pelo proprietário do estabelecimento, ser pego com um copo d'água ou cigarro...

Geralmente, os materiais usados em isolamento acústico são feitos de componentes inflamáveis, como papelão, isopor e esponja. Por menor que seja a faísca, o risco de fogo e alastramento do mesmo em poucos minutos é iminente e todo cuidado é pouco. Ou seja, por menores que forem as orientações, os cuidados hão de estar muito além de palavras e normas escritas nas paredes e pregadas em placas. Infraestrutura adequada é o pelo menos da questão!

Em outras palavras, infraestrutura inadequada e falta de critério por parte da banda somam-se a um terceiro item o qual parece estar saindo da vista da imprensa e da justiça, quanto ao que poderia ter sido evitado: atuação das entidades fiscalizadoras do Estado.

Segundo matéria, o alvará de segurança da Boate Kiss havia vencido desde o mês de agosto de 2012, o que nos dá quase seis meses de inadimplência quanto a tal. Ainda que seja de atribuição do Corpo de Bombeiros e ou do CREA a avaliação ambiental e estrutural dos estabelecimentos espalhados por nosso país, geralmente, as secretarias municipais de urbanismo são quem controlam a adimplência e o prestar de contas dos empresários quanto à sua legalidade ambiental e estrutural. São elas quem sabem quem está funcionando e quem parou de funcionar.

É o caso da entidade responsável pelo controle urbanístico da Prefeitura de Santa Maria. O mínimo que ela, assim como as entidades de qualquer município do Brasil com a mesma atribuição, deveria (e deve) fazer é inspecionar todos os estabelecimentos em funcionamento em sua cidade. Verificar quem está legal e quem está em desacordo com a lei. O fato de os extintores de incêndio estarem vencidos, de o próprio estabelecimento dispor de apenas uma saída (que, também, era entrada) e nenhuma saída de emergência, da estrutura de isolamento acústico estar disposta e até da precária disposição das sinalizações de segurança e saída de pessoas em emergência, tudo isto teria sido observado em uma pequena e rápida inspeção.

Acontece que, nestas condições, a medida mais sensata e institucionalmente aceita a ser tomada era a interdição do estabelecimento - impedindo que o desastre do ultimo final de semana viesse a ocorrer. E é por que, sequer, mencionamos a palavra propina ou bola por aqui...

Sabe, está na hora de nós, brasileiros, despertarmos para o fato de que corrupção e incompetência não são atitude e estado os quais param nos desvios de verba ou nos gabinetes das câmaras municipais, no parlamento ou na presidência da república. Corrupção mata e disto ninguém até então duvida. Todavia, foi no ultimo domingo que o vimos na prática.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 29/01/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com

Comentários

Guilherme Rayol disse…
a única e exclusiva e somente atribuição do CREA é fazer cumprir o exercício legal da profissão.
Anônimo disse…
A pior tragédia do século e do milênio no Brasil tem culpados. Fiscalização não é Deus, onisciente, onipotente e onisciente. Cabe ao cidadão que monta o seu negócio atinar para o que está fazendo, de forma a respeitar o próximo. As leis só existem por causa de pilantras que não respeitam os demais, não fosse assim, nem precisaria existir. Os donos da boate só pensaram em dinheiro e a banda em fama, com espétáculos "criativos" (no entender deles) sem se preocupar se poderiam utilizar esse tipo de artefato sabidamente inapropriado e com o risco aos frequentadores fs Kiss.
Anônimo disse…
fatalidades existem ninguem pensa nisso, a policia recebe propina, a prefeitura faz vista grossa, os musicos querem dar seu show e os frequentares só querem curtir...ninguem imagina o desastre, sabe pq? pq tragédia é tragédia...se tivesse q ser seria...até mesmo tudo dentro da legalidade, e de quem seria a culpa, de Deus?