32ª Resenha Crítica - Ubaia Doce



Saudações, leitores! Hoje temos a resenha de mais um livro potiguar, Ubaia Doce, de Aluísio Azevedo Júnior, autor também de O Cheiro do Café (2006) e Almíscar - Empreendendo a Própria Vida (2007).

Ubaia Doce é uma ficção ambientada na cidade de Natal. Locais conhecidos do natalense, como a Barreira Roxa e o Morro do Careca estão presentes, dando um senso de familiaridade ao leitor. Maior parte da ação acontece na Vila de Ponta Negra, que no livro aparece como uma paisagem idílica, quase utópica. Nessa mesma vila, surge uma doutrina ecumênica, a Tradição Cimeira, como síntese de influências indígenas e crenças dos nativos pontanegrinos. Para os cimeiros, existe um Deus único e universal, acima de religiões e cultos, superior a nós mas que não devemos temer. Os pilares da crença são o autoconhecimento, a esperança, crença na origem do mundo pela criação e elevação espiritual pela compreensão da vida como uma Grande Viagem guiada pela realização do bem. Seu livro sagrado é o  Livro de Geneum.

A ubaia doce que dá o nome à histórica vem dessa mesma tradição cimeira, que dos índios herdou A Lenda da Ubaia Doce. Segundo essa lenda, a ubaia, fruta de odor e acidez leves, que tiver o néctar preparado com água da Barreira Roxa recebe propriedades curativas.

O líder desa tradição religiosa é o Professor Gregório Paes, um homem carismático, virtuoso e sábio, muito amado pelos pontanegrinos. É defensor da natureza contra as exigências sempre crescentes do homem, que, ao seu ver, não são verdadeiras necessidades. Sua filha Micaela, puríssima em pensamentos e ações, lhe tem grande apreço e tem em seus ensinamentos um ponto norte para a vida. Com essa influência, Micaela mantém uma vida cuja realização moral maior da prática é parte importante. Ao contrário de Micaela é o seu amigo de infância Caetano: inseguro, fragilizado, perdeu a mãe cedo e já foi levado ao alcoolismo e as drogas. Procurou ajuda e, voltando à Vila, buscava refazer sua vida. Lá, ele conhece a Tradição Cimeira, que surge como uma forma de repensar sua visão de mundo e reencontra Micaela, sua amiga de infância.

Toda a solidez mantida pela tradição cimeira, no entanto, vê-se ameaçada por algumas mudanças: uma ONG internacional chamada LIFE apresenta-se como desenvolvedora da assistência social e do turismo ecológico, desenvolvimento econômico e atividades com a comunidade, mas Gregória mostra oposição a qualquer ação sobre a naturezam, principalmente sobre os locais sagrados cimeiros; um grupo radical chamado GLP desenvolve ações violentas justificada spor um discurso idealista; o governo, associado à LIFE, tenta a todo custo persuadir Gregório a ceder.

A obra tem como temas as relações familiares e das amizades, a importância da religião nas vida das pessoas, a preservação da natureza e leva o leitor a refletir. Como lidar com as perdas? Como uma nova geração pode dar continuidade àquilo iniciado pelos seus antecessores? Qual é a forma mais prudente de abraçar as mudanças sem ameaçar as tradições? E qual é a importância das mesmas para a vida em comunidade?

Ubaia Doce é uma obra tipicamente natalense, mas que não deixa de lado o universalismo, bem representado no livro pela cosmovisão cimeira, semelhante à da filosofia perenialista, esta que fala sobre a unidade transcendente das religiões que lhes torna formas diferentes de comunicar uma única verdade. Os conflitos que se desenvolve no enredo ocorrem em todo o mundo, com maior ou menor intensidade, sob uma economia global e as questões de preservação ambiental que com ela advém. Em toda a obra, é evidente o conflito entre a mudança e a conservação, seja na cultura, no meio-ambiente, na política ou qualquer outro contexto.

Autor: André Marinho | Criação: 17/02/2013 | Objetivo: www.ligadosfm.com

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