Não concordo com a posição tomada
por certos brasileiros ou por seguidores de determinadas vertentes políticas
quanto ao ato de criticar a blogueira cubana Yoani Sanchez. Ninguém que vive
fora daquela ilha caribenha tem o direito de impor seu ponto de vista frente às
colocações dela quanto à situação politica daquele país, quanto à qualidade de
vida lá deflagrada ou quanto ao modo como sua economia funciona. Ninguém melhor
do que um brasileiro para falar do Brasil ou um americano para falar dos
Estados Unidos da América.
Acontece que, como Cuba,
Venezuela, Bolívia ou qualquer pais do antigo regime socialista, assim como
China e Coreia do Norte, não se pode tecer criticas (construtivas ou
analíticas) daqui do Brasil, sem nunca ter colocado os pés ou convivido de
perto com as realidades sociais e políticas neles deflagradas. Acontece que existe
uma esquerda resistiva e radical que insiste em vislumbrar, sempre, um cenário
perfeito em uma realidade atípica ao que estão acostumados a assistir ou a
sentir na pele. É como se tudo o que houvesse em termos de economia
capitalista, liberal ou de mercado fosse danoso e corrosivo, ao mesmo tempo em
que as economias planificadas e socialistas caem como perfeitas e ideais para a
sobrevivência e sustentabilidade de todo um sistema politico e econômico.
Não falo da experiência danosa da
União Soviética ou mesmo da paupérrima Coreia do Norte, das falidas economias
da Europa Oriental ou das disparidades de renda que se estabeleceu entre as
Alemanhas (oriental e ocidental) durante a segunda metade do Século XX.
Todavia, tal qual medidas que visam à sustentabilidade do sistema capitalista
acabam se saindo danosas para o Welfaire
State ou para a manutenção do bem-estar social, em uma economia planificada
(onde a prática do consumo é banida de sua sociedade), o fomento a atividade
econômica tem seus insucessos, a começar pela ausência de incentivos à
indústria de bens de consumo.
Aliás, o mercado de consumo é
justamente o que bate de frente com o princípio ideológico do regime político socialista,
logo, o que se prevalece, em termos de produção econômica, é a indústria de
base.
Ou seja, uma economia socialista
cresce a passos mais curtos do que uma economia capitalista de mercado. A
ultima cresce e inova mais rapidamente, investe pesadamente em capital
intelectual e os ganhos tendem a migrar com maior força da esfera produtiva
para a esfera criativa. Em outras palavras, constantemente, surgem novos ramos,
novas industrias e proponentes potenciais para produzir mais e melhor.
É o caso das diferenças entre
Cuba e Brasil. Enquanto que o primeiro, sequer, conta com investimentos no
acesso a banda larga e Internet de alta velocidade, ainda neste ano teremos a
Internet 4G operando em solo tupiniquim; enquanto que a ilha caribenha começara
a experimentar picos de ate 500 kilobytes por segundo de velocidade em
transmissão de dados, no Brasil, teremos até 100 megabytes por segundo na palma
da mão. O acesso à informação e ao resto do mundo faz toda a diferença, se uma
sociedade tem vontade de crescer e de se desenvolver, do ponto de vista social
e cooperativo.
A propósito, Cuba é uma ditadura,
que insiste em se fechar dentro de um mundo cada vez mais aberto e conectado. E
ainda que os danos ao meio ambiente e às camadas mais populares da sociedade sejam
irreversíveis, em função do consumo desenfreado e sem qualquer instrumento de
controle ou de disciplina, como vemos na China e aqui no Brasil (a exemplo da
falta de tratamento ou de descarte adequado de sacolas plásticas, sucatas
tecnológicas, embalagens e até do ar o qual se respira), por aqui, desde 1985,
quando a ditadura militar deu lugar a um regime político democrático em que a
liberdade de ir e vir, de pensamento e expressão tornaram-se tripé ideológico,
podemos reivindicar melhores salários, maior justiça social, transparência e,
por que não, reversão de poder, através do voto direto e da escolha de
governantes por parte dos cidadãos.
A manipulação, por aqui, e
manutenção do status quo político se dá de outra maneira – e, geralmente, é a
permissão dos cidadãos brasileiros unidos que dá o seu ad referendum nos domingos de eleição. Em Cuba, a família Castro
usufrui de suas benesses e privilégios da mesma forma que o Kim Jong-un o fez
ao viajar por diversas vezes à Disneyland. A propósito, os veículos oficiais de
algumas pequenas repúblicas socialistas, como a Hungria, não passavam de Rolls
Royce e até esportivos americanos, veículos, por sinal, muito superiores aos
populares Lada Samara e Laika da indústria automotiva soviética e de difícil
alcance, por parte das classes medias das economias capitalistas mais
desenvolvidas.
Não foram os netos e sobrinhos da
família Castro que foram vistos guiando lanchas e jet skies no litoral
caribenho e até nas águas do sul dos Estados Unidos em medos do ano passado? O
que há de justo e de errado nisto?
De qualquer forma, em qual
sistema econômico ou de governo é melhor para se viver ou para se fazer a
melhor justiça? Eu não sei. Todavia, a única consciência de que tenho, apesar
disto tudo, é a de que nenhuma militância da esquerda brasileira ou que esteja
fora de Cuba tem o direito de taxar a blogueira Yoani Sanchez de mercenária ou de
desmenti-la quando ela emite opiniões ou descobre a realidade de seu país para
o resto do mundo – jamais conhecida, todavia, pela mesma esquerda a qual,
sequer, saiu do país para pôr os pés em outro pedacinho de terra que fosse fora
do continente sul americano.
Para ser mais franco, não há
caminho mais pleno para a moral de falar ou de taxar uma certa realidade do que
adentrá-la na prática. Se Cuba é assim tão maravilhoso, por que tantos poucos
são os militantes da esquerda que decidiram ou que desejaram / desejam ir para
Cuba ou Coreia do Norte para viver? Quer ter a razão sobre Cuba, mude-se para
lá, primeiramente!
Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 26/02/2012
Objetivo: www.LigadosFM.com
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