26ª Entrevista Literária - Wilson Gorj

Wilson Gorj nasceu em Aparecida/SP, em 1977. Publicou o seu primeiro livro em 2007, com o título “Sem contos longos”, composto por cem micronarrativas. Em 2010 lançou o “Prometo ser breve”, pela editora Multifoco, sob o selo 3×4, do qual foi editor durante dois anos. “Histórias para ninar dragões”, o seu terceiro livro, saiu em 2012 pelo mesmo selo de microficções. Atualmente é colunista do “Jornal O Lince” e editor da editora Penalux, fundada pelo próprio autor em parceria com o poeta Tonho França.

O autor Wilson Gorj - Foto Divulgação

Ligados: Quem é Wilson Gorj? 

Wilson Gorj: Um escritor que tem se dedicado predominantemente à produção de micronarrativas. Tanto que já tenho três livros publicados, todos compostos por textos minimalistas. Tenho também participações literárias em dezenas de antologias e revistas, nas quais publiquei não só microcontos, mas poesias, contos e crônicas. Escrevo há 7 anos para dois jornais da minha região: “O Lince” e o “Comunicação Regional”. No primeiro, mantenho uma coluna dedicada a contos e minicontos; no segundo, publico poemas, às vezes aforismos e algumas reflexões. Além de escritor e colunista, há três anos atuo como editor. Recentemente, em sociedade com o poeta e também editor Tonho França, fundamos uma pequena editora, a PENALUX, pela qual publicamos livros de gêneros diversos. Por trás da vestimenta literária, mantém-se o Wilson prosaico, servidor público há alguns anos. 

Ligados: Você disse, certa vez, que a literatura só ganhou espaço em sua vida a partir dos seus dezoito anos. Como se deu este processo de “aproximação”? Lembra qual livro despertou a sua paixão, até então adormecida, pela arte da escrita? 

Wilson Gorj: A bem da verdade, antes dessa idade eu já tinha lido alguns livros, a maioria da Série “Vaga-Lume”. Mas foi a partir daí, quando estava perto dos meus 18 anos, que me liguei de vez à Literatura. O livro que despertou essa paixão que se mantém firme até hoje foi o clássico “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. A obra caiu em minhas mãos por acaso. Foi num dia chuvoso. Eu estava entediado, atrás do balcão de atendimento da loja em que trabalhava à época. O livro já estava ali desde a minha contratação, mas nunca me interessei por lê-lo, embora o movimento da loja fosse convidativo à leitura. Naquela tarde, porém, dei-lhe uma chance. A leitura levou dois dias, entre um cliente e outro. Fechado o livro, já me sentia infectado pela paixão literária. Queria mais. Então, descobri um sebo. Vieram outros livros, outros clássicos. Os primeiros rascunhos meus. Desse momento em diante, não parei mais de ler e escrever. 

Ligados: Você publicou três livros de micronarrativas, o “Sem Contos Longos” (2007), “Prometo Ser Breve” (2010) e “Histórias Para Ninar Dragões” (2012). Poderia nos dar maiores informações sobre as obras? 

Wilson Gorj: O primeiro livro saiu num formato de bolso, edição do autor. Tive o apoio do “Jornal O Lince”, que arcou com a metade das despesas da publicação, haja vista que parte dos minicontos tinha sido publicada na minha coluna dedicada ao gênero. O “SCL” é composto por 100 micronarrativas, dispostas em ordem crescente (o primeiro texto tem duas linhas; o centésimo ocupa a página inteira). Foi o livro que me alavancou no universo das micronarrativas; fiz contatos com outros autores, recebi convites para escrever em sites e blogues, participei de antologias e revistas. A partir dele, me aprofundei no gênero; montei uma biblioteca dedicada às histórias breves; li artigos vários, tornei-me um aficionado pelos minicontos. Em 2009, o segundo livro estava pronto: o “Prometo ser breve”. Quis arriscar a publicação por uma editora. Enviei os originais para várias. Recebi respostas de algumas. Optei por uma pequena editora carioca, que publica cada gênero por meio de um selo específico. Na falta de um selo para a microficção, sugeri à editora a criação de um. O editor não só acatou a ideia, como me convidou para administrar este selo, que batizei de 3x4. O “Prometo ser breve” estreou o selo em 2010. A obra tem 70 páginas e é dividida em três partes: na primeira, os microcontos; na segunda, há muitos trocadilhos, jogos e brincadeiras com as palavras; na última, encerro com poemas minimalistas. Editei o selo por dois anos. Foram mais de 20 títulos de autores de diversas regiões do país. Em 2012, também pelo selo 3x4, publiquei meu terceiro livro, também de minicontos: “Histórias para ninar dragões”. Está dividido em duas partes: a primeira com uma temática diversa; a segunda traz um tema afim: amor, sexo & traição. 

Ligados: Embora não tenha sido ainda reconhecido como um gênero literário, o miniconto não é assim tão recente quanto se pensa. Dalton Trevisan, por exemplo, publicou em 1994 o livro “Ah, é?”, composto por pequenos textos ficcionais. Quais fatores contribuíram para que você se concentrasse neste tipo de narrativa? Atualmente, que autor brasileiro você destaca como um mestre na prática do miniconto? 

Wilson Gorj: A prática das micronarrativas começou meio sem querer. Sempre me ocorreram ideias literárias, as quais eu transformava em sinopses e, mais frequentemente, em episódios e fragmentos, aproveitáveis talvez em algum conto futuro ou num possível, para não dizer improvável, romance. Creio que assim, involuntariamente, ensaiava meus primeiros passos na direção dos minicontos. Depois, com a prática e a confiança em minha escrita, apliquei-me na confecção de contos mais elaborados. Ganhei alguns concursos, mas me sentia muito insatisfeito com a qualidade dos meus textos. Tal insatisfação levou-me a procurar auxílio nos conselhos de escritores renomados: tornei-me um leitor compulsivo de entrevistas literárias; fuçava a internet à cata de possíveis técnicas e recursos que pudessem melhorar o estilo e aprimorar a escrita; adquiri livros sobre a arte de escrever. Dos conselhos dados pelos autores percebi que o mais recorrente era a busca pela clareza e concisão. “É preciso saber cortar”, “corte sempre”, “não tenha dó de extirpar do texto aquilo que não lhe faz falta” – eram essas as dicas com a quais eu mais me deparava. Resolvi seguir o conselho. Amolei meu senso crítico e me pus a cortar as excrescências de alguns contos alongados. Um deles, então, após uma boa podada, chegou a faturar o primeiro lugar num concurso municipal. Com o prêmio, recebi o convite para escrever em um encarte cultural, que depois se transformou no “Jornal O Lince”, para o qual até hoje escrevo (quase sempre, minificção). 

Em relação à outra pergunta, melhor do que destacar apenas um autor, cito três nomes referenciais: Eno Teodoro Wanke, Marina Colassanti e José Eduardo Degrazia. Cada um deles publicou mais de três obras compostas prioritariamente de minicontos. 

Ligados: Como acontece o seu processo criativo? Existe algum “ritual” antes de começar a escrever ou algo que goste de fazer para buscar inspiração (ler poesias, ouvir música, contemplar artes plásticas, etc.)? 

Wilson Gorj: Quase sempre eu parto de uma ideia que me ocorre ao acaso. Antes de externá-la, eu procuro desenvolvê-la mentalmente, a fim de lhe dar coerência e coesão, buscando sempre as palavras que melhor a expressem. Só depois me ponho a escrever. Claro que muitos textos nascem da leitura de outros autores e, algumas vezes, também são, sim, motivados pela música ou pela arte. 

Ligados: Você foi editor e idealizador do selo 3x4, da Editora Multifoco, que trata justamente de publicação de microficções, durante dois anos. Depois da sua saída você fundou, em parceria com o poeta Tonho França, a Editora Penalux. Como surgiu essa ideia e qual a proposta da editora? 

Wilson Gorj: Surgiu da vontade nossa de editar livros com mais autonomia e liberdade de criação. A Penalux é uma editora cuja proposta inicial é de possibilitar aos autores aprovados uma edição de qualidade e sem custos iniciais. Espera-se que o autor utilize o seu público para financiar a publicação, mediante a venda de uma pequena tiragem destinada inicialmente para atender a demanda do lançamento. A editora nasceu em junho de 2012 e agora, em março de 2013, já conta com quase 30 títulos publicados. Para conhecer nossos livros, basta acessar o site da editora: <www.editorapenalux.com.br>. 

Ligados: Pela sua experiência em editoração, qual a dica que você deixa aos novos escritores? 

Wilson Gorj: Leia sempre, de preferência bons livros. Crie o hábito de escrever, se possível, todo dia. Seja crítico com o que escreve; aprenda a reescrever sempre que necessário. Encare sua escrita como um aprendizado constante: procure aprender com autores mais experientes, seja por meio de oficinas literárias ou, simplesmente, investindo nos manuais de escrita. Relacione-se com outros escritores; troquem livros, conhecimentos, experiências. Quando um escritor se posiciona como tal, isto é, quando leva sua literatura a sério, ele acaba alcançando publicação e, quiçá, reconhecimento. 

Ligados: Está escrevendo algum livro no momento? Quais os projetos para este ano? 

Wilson Gorj: Tenho mais um livro de minicontos em processo de conclusão. Espero publicá-lo ainda neste semestre. A Editora Penalux, por sua vez, tem vários projetos em andamento. A meta é de que só neste ano publiquemos 40 títulos. 

Ligados: Pretende aventurar-se, um dia, por outros gêneros, como o romance e a crônica? 

Wilson Gorj: No momento, não sinto nenhum impulso criativo para investir num romance ou para me dedicar a outro gênero mais diverso, como a crônica. Pretendo, sim, publicar logo um livro de poesias, pois venho escrevendo poemas há alguns anos, esporadicamente. 

Ligados: Gostaria de encerrar esta entrevista com alguma colocação ou comentário? 

Wilson Gorj: Quero terminar registrando os meus agradecimentos à equipe do blog Ligados. Sem dúvida, temos aqui uma excelente oportunidade e espaço para nós, autores ou/e profissionais do livro, falarmos de nossas atividades e compartilharmos um pouco do nosso trabalho. Obrigado!


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 08/03/2013 - Objetivo: www.ligadosfm.com

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