Manoel Onofre Jr. nasceu em Santana do Matos no ano de 1943. Morou ainda em Martins, Mossoró e Natal, esta última, cidade em que reside atualmente. Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Onofre é um dos maiores estudiosos da cultura potiguar, tendo lançado quase trinta livros, entre contos, crônicas e ensaios.
O autor Manoel Onofre Jr. - Foto Divulgação
Ligados: Quem é Manoel Onofre Jr.?
Manoel Onofre Jr.: Sou, antes de tudo, um sertanejo da Serra de Martins. Parece-me que a mim também se aplicaria aquela definição atribuída a Câmara Cascudo: provinciano incurável.
Ligados: O que te inspira e como acontece o seu processo criativo?
Manoel Onofre Jr.: Na ficção, o que mais me inspira é a memória da infância. “Chão dos Simples”, livro em que reuni os meus contos, recria o pequeno mundo da minha meninice sertaneja.
Quanto ao processo criativo, já disse Marques Rebelo, grande escritor, que “escrever é cortar”. Eu escrevo, primeiramente, a mão, depois datilografo, cortando tudo que me parece supérfluo. Deixo o texto na gaveta, por algum tempo, e releio-o, várias vezes, depurando-o.
Ligados: Quais autores, de maneira geral, não podem faltar em sua estante?
Manoel Onofre Jr.: Ficcionistas, memorialistas e ensaístas. Dos estrangeiros: Dostoievski, Dickens, Eça de Queiroz; dos brasileiros: Graciliano Ramos, Machado de Assis, Câmara Cascudo...
Tomando a sua pergunta ao pé da letra, eu diria que os livros que não devem faltar em qualquer estante são as obras de referência.
Ligados: Até o momento, o senhor publicou quantos livros? Destes, como pai “coruja”, qual o seu favorito?
Manoel Onofre Jr.: Segundo bibliografia organizada pelo pesquisador Thiago Gonzaga, tenho, publicados, 28 livros e três plaquetes. “Como pai coruja”, gosto mais de “Chão dos Simples” e “Ficcionistas Potiguares”.
Ligados: O senhor teve o primeiro contato com a literatura potiguar quando foi morar em Natal, ainda na adolescência. No seu livro “Chão dos Simples”, no entanto, existe certo ar de encanto com a natureza e as belezas do sertão que se difere um pouco da Capital provinciana em crescimento. Pode-se dizer que tal fascínio foi fruto da sua infância na paradisíaca Martins?
Manoel Onofre Jr.: Sim. Martins é a minha Itabira, ou melhor, a minha Pasárgada, como já deixei entrever na resposta à pergunta nº 2.
Ligados: Tendo o senhor enveredado por diversos gêneros literários, como ensaios, notas de viagem, diário íntimo, memórias, epístolas, conto e crônica, por que não aventurar-se também nos poemas? Aproveitando, pretende voltar a escrever ficções?
Manoel Onofre Jr.: Infelizmente, não tenho o dom da poesia. Mas, fiquei feliz quando o amigo Thiago me disse que, relendo o meu livro “O Caçador de Jandaíras”, encontrou poesia entranhada na prosa.
Pretendo, sim, voltar a escrever ficções. No entanto, não quero forçar a barra; espero o fruto amadurecer.
Ligados: Ao longo dos seus quase cinquenta anos dedicados às letras potiguares, como o senhor enxerga a literatura norte-rio-grandense da atualidade em comparação com a do início da segunda metade do século XX?
Manoel Onofre Jr.: Nunca se escreveu tanto, no RN, como agora. Lançam livros quase toda semana. É claro que, de toda essa torrente, há de restar algo bom. Note-se que as novas gerações ligam-se, cada vez mais, na literatura. Veja-se o movimento dos Jovens Escribas, o blog “101 Livros do RN (que você precisa ler)”, “Ligados FM” etc.
Ligados: Em 1992 o senhor tomou posse à cadeira número cinco da Academia Norte-rio-grandense de Letras, cujo patrono é Moreira Brandão e teve, como primeiro ocupante, Edgar Barbosa. Como recebeu esta honraria, à época?
Manoel Onofre Jr.: Vejo a Academia não como o panteão dos vivos, mas, sim, como casa de cultura, que deve dinamizar a vida literária e preservar a memória cultural.
Ligados: O seu último livro, “Alguma Prata da Casa”... o que o levou a escrevê-lo?
Manoel Onofre Jr.: A vontade de contribuir para a divulgação da obra de alguns dos nossos bons escritores, valores incontestes, porém, inteiramente desconhecidos além das divisas do nosso Estado.
Ligados: O senhor se firmou na literatura antes do advento da informática, que trouxe consigo os famosos e-books, além da grande facilidade de divulgação proporcionada pela internet. O senhor acredita que estes livros digitais podem um dia substituir, por completo, a obra impressa?
Manoel Onofre Jr.: Substituir, por completo, não. Acho que a obra impressa persistirá, assim como, por exemplo, o teatro não se extinguiu com o advento do cinema.
Ligados: Tendo publicado quase trinta livros e, por conseguinte, possuindo vasta experiência quando o assunto é literatura, qual a dica que o senhor deixa aos escritores iniciantes?
Manoel Onofre Jr.: Repito aqui o que disse em outra entrevista, concedida à revista Trapiá: Leiam muito, de preferência, os clássicos; não se apressem em colher o fruto de vez; e ponham rédeas à própria vaidade.
Ligados: Que projetos o senhor tem para o futuro? Há alguma obra no “prelo”?
Manoel Onofre Jr.: Estou preparando a terceira edição, revista e ampliada, da obra “Salvados – Livros e Autores Norte-rio-grandenses”. No prelo, tenho a terceira edição, também revista e ampliada, do livro “Espírito de Clã”.
Ligados: Gostaria de encerrar esta entrevista com algum comentário?
Manoel Onofre Jr.: Foi uma satisfação contatar com jovens entusiastas da literatura. Ficarei ligado em vocês.
Agradecimentos:
Agradecemos ao escritor e pesquisador da literatura potiguar, Thiago Gonzaga, e ao blog "101 Livros do RN (que você precisa ler)", por mediar esta entrevista e, por conseguinte, tornar possível a criação da atual matéria.
Autor: Thiago Jefferson - Criação: 22/03/2013 - Objetivo: www.ligadosfm.com
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