64º Mundo Cão - Chorão, Charlie Brown Jr. e o sol expoente

Ontem, logo no início da manhã, acordei com uma notícia a qual não deixa de ser trágica: morre o vocalista e líder do grupo Charlie Brown Jr., o Chorão. A princípio, não fiquei muito abalado, também, não sentirei lá a sua falta, tal qual aconteceu com a ida de ilustres, como o Michael Jackson, Renato Russo e até do hiato deixado pelo Herbert Vianna, após o acidente sofrido no seu ultraleve em fevereiro de 2001.

Não se trata de uma questão de grau de importância, mas, de identificação, mesmo. Assim como o Chico Buarque não me fará muita falta, o Chorão deixou o seu legado para o Rock Nacional e isto é indiscutível. Sabe, eu não sou lá fã do Charlie Brown Jr., apesar de já ter ido a alguns de seus shows e de gostar da banda. É até ousadia dizer que o próprio Chorão pode ser colocado no mesmo patamar poético de cantores como o Cazuza e o Renato Russo, mas, ouvindo alguns de seus discos, o "Transpiração Contínua Prolongada" e o "Preço Curto, Prazo Longo", por exemplo, já podemos, sim, dizer que a banda conseguiu emplacar não somente álbuns de vendagem atrativa para a indústria fonográfica nacional, mas, público fiel e história em nossa música.

Não se trata de um simples grupo da Axé Music, do Sertanejo Universitário ou uma "One Hit Band". O seu legado discográfico pode ser considerado de grande importância para o nosso Rock desde que a banda emplacou o seu primeiro sucesso. O Transpiração Contínua Prolongada é um disco muito bom, sobretudo, se visto na ótica das transformações as quais a música brasileira vinha passando na época do seu lançamento. Na verdade, o Charlie Brown Jr. veio de uma leva transformadora de nossa música, ao lado de grandes nomes, como Pato Fu, Skank, Jota Quest, O Rappa e Planet Hemp. Surgiam da influência do Rock Nacional 80's, que deixou tamanho legado, mas, infelizmente, havia caído no esquecimento do público.

E misturam o que havia de mais moderno em Rock 80's às inovações as quais ganharam força ainda na década de 90. Enquanto o Pato Fu agregava tecnologia nas suas músicas e em seus concertos, o Planet Hemp somava-se ao Rap, com algumas pitadas de Samba e Funk (não daqueles dos morros cariocas), o Jota Quest (ainda como J. Quest) trazia uma das maiores contribuições para a Soul Music brasileira e o Charlie Brown trazia o que havia de mais explosivo quanto ao legado das tribos e ao Rock misturado ao Reggae e ao Rap.

Na adolescência, o Transpiração Contínua Prolongada era o disco dos skatistas, dos crossistas e de quem curtia espotes radicais. Eu lembro que em cada competição na modalidade cross que participava, os organizadores colocavam as músicas do Charlie Brown Jr. para tocar! O "Preço Curto, Prazo Longo" já era ouvido por várias outras tribos, além de skatistas e crossistas, e os não adeptos acabaram por se aproximarem, de alguma forma, da linha radical esportiva. Lógico, a música e o Charlie Brown Jr. não foram exatamente os motivos, mas, colaborou e intercalou este lado do nosso cenário musical (e social)!

Lembro que quando o "Nadando com os tubarões" foi lançado, o Charlie Brown Jr. tomou conta de todas as expectativas da MTV, do VMB e das rádios que não se limitavam à música baiana, ao pagode ou ao Forró. O disco era novo e a banda havia tomado uma postura mais madura, estava mais politizada e inteirada com o que estava acontecendo com a sociedade brasileira. Não necessariamente da mesma forma, mas dentro de sua própria realidade, bandas como o Planet Hemp, Skank e Pato Fu também atravessaram suas fases de mudança e de amadurecimento (igual ao Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Kid Abelha e, por que não, Caetano, Gil, Gal e todo o restante da MPB).

Ou seja, o Charlie Brown Jr. fez parte de um movimento que tomou significado para a história de nossa música. Um dos três primeiros discos deles (Transpiração Contínua Prolongada, Preço Curto, Prazo Longo e Nadando com os tubarões) merece cadeira cativa na estante dos discos mais importantes do nosso Rock. Não necessariamente por se tratarem de discos muito bons (porque o são), mas, por terem representado todo um movimento o qual fez parte da estrutura do Rock e da música nacional da década de 90 e da virada do milênio.

E quanto ao Chorão, o mesmo fez parte disto tudo, esteve lá e deu o seu gás. E liderou um dos expoentes da nossa música. Merece ser lembrado.

Por: Andesson Amaro Cavalcanti
Em: 07/03/2013
Objetivo: www.LigadosFM.com

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