Barcelona: uma cultura e identidade de jogo
Olá, meu nome é Raniery
Medeiros. Antes de tudo, é com o enorme prazer e satisfação que agradeço a
confiança e apoio do amigo Felipo Bellini que me deu a oportunidade de passar
aos amantes dos esportes, um pouco mais sobre meu universo e a maneira como enxergo
cada evento esportivo que assisto e debato com colegas, amigos, família, etc. É
uma grande honra fazer parte, mesmo que indiretamente, da família ligados.com. Espero
que não somente os amantes dos esportes, como também de outras áreas possam
ler, criticar, elogiar, aprender, me fazer de aprendiz e tornar o blog um
sucesso cada vez maior.
Foi com enorme alegria
que recebi o convite e espero não desapontar a Ligados FM que, abre espaço para
que possamos estar sempre debatendo e trocando ideias sobre inúmeros assuntos
que tomam conta do nosso cotidiano.
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Quem nunca brigou de
bobinho jogando futebol? O bobinho é aquele que fica dentro de um círculo
tentando tomar a bola dos outros participantes. Como em um carrossel, as
pessoas vão se mexendo de um lado para o outro até que o bobinho tome a bola ou
peça, como falamos aqui em Natal, ARREGO. Este tipo de filosofia técnica, do
bobinho, pôde ser vista (de forma mais atenta) pela primeira vez, em 1974.
Durante a copa do Mundo, o técnico da Holanda, Rinus Michels, programou um
sistema onde os jogadores não tinham posições definitivas. Havia inversões de
jogadas e posições. O jogador que começava a partida pela direita, poderia
muito bem terminá-la atuando na esquerda. Os adversários ficavam como
verdadeiros “bobinhos” tentando encaixar a marcação. Uma pena a Holanda não ter
sido campeã daquela copa. No entanto, Michels, deixou essa filosofia viva e
passou o segredo para o seu pupilo Johan Cruyff.
Cruyff foi treinado por
Michels na Seleção Holandesa, Ajax e Barcelona. Ao assumir o comando do
Barcelona em 1988, Cruyff tinha como meta adotar o esquema que não rendeu o
título à seleção Holandesa, mas encheu os olhos do mundo com o estilo de jogo
elegante, rápido e deslumbrante. O Barcelona foi conquistando cada vez mais
espaço no cenário mundial e, assim como seu maior rival, o Real Madrid,
tornou-se um dos clubes mais vitoriosos do mundo. Mas ainda faltava algo para
completar a cereja do bolo de um esquema tático tão envolvente e diversificado.
Faltava torná-la no Barcelona uma filosofia de jogo. Um estilo próprio que,
quando todos olhassem, saberiam qual clube estava jogando.
Em 2008, Josep
Guardiola assumiu o comando do clube. Pep, como é carinhosamente chamado, foi
treinado por Cruyff no Barcelona. Mentira! Não somente treinado, como também
teve o Holandês como seu mentor e principal motivador e incentivador no aprendizado
tático e técnico do jogo. Pep encontrou o clube que vinha de dois anos seguidos
sendo derrotado pelo Real Madrid e algo precisava ser feito. A primeira coisa
foi a de possuir mais jogadores vindos das canteras (categorias de base) em seu
time. Ele não queria apenas criar um time, ele queria muitos mais do que isso.
Queria fazer do time um exemplo para a sua cidade e criar, através do futebol,
uma identidade para o povo Catalão. Nascido em uma das Províncias de Barcelona,
logo adotou um esquema que modificaria totalmente a sua equipe. Montou um
4-3-3. Mas esse esquema não era nenhuma novidade. Claro que não! O que o
diferenciava era a forma como os jogadores se portavam em campo. Com a
liderança e ajuda do capitão Puyol, Pep pôde colocar dentro da cabeça dos
jogadores que eles não jogavam apenas pelo clube, mas também por toda a nação
Catalã. Uma filosofia de jogo! Com um time rápido, com troca de passes
envolvente e versatilidade nas posições dentro de campo, logo em seu primeiro
ano no clube, ele venceu todos, eu disse TODOS os campeonatos dos quais
disputou. As equipes montavam uma marcação especial para um determinado
jogador, em uma determinada área. Mas isso não era possível. A troca de
posições era intensa. O passe era preciso demais e a finalização certeira.
Começava a nascer o Carrossel Blaugrana (azul e grená cores do clube).
Com esse estilo
inovador adotado por Pep, as equipes começaram a buscar antídotos para bater o
Barcelona. Uns conseguiram de forma sofrida, como a Inter (Itália) em 2010. Outros
não conseguiram nem ao menos entender o que se passava dentro de campo. O time
agora tinha uma identidade. A maioria dos titulares eram nascidos na Catalunha
ou em Províncias perto da mesma. A identidade com a torcida era notória. O
Barcelona começava a incomodar pela paciência com a posse de bola. Para uns, um
estilo chato de se ver, para a maioria, uma revolução. É como dizem os
Argentinos: toque y me voy (toca e passa). Quando todos pensavam que nada mais
poderia ser “inventado”, eis que surge a variação tática dentro do próprio
campo. O time começava em seu habitual 4-3-3. Mas dependendo do adversário, Pep
logo passava e pedia que seus jogadores invertessem de posições para um 3-4-3,
4-4-2, etc. É lindo assistir ao Barcelona jogar. Para quem é amante do futebol
como eu, é de fazer dar boas gargalhadas dos bobinhos que se tornam os
adversários quando o Barça possui a bola.
O maior exemplo disso
ocorreu no último sábado (10/12/2011) durante o clássico contra o Real Madrid,
jogo realizado em Madrid. O time começou no 4-3-3. Tomou um gol com 30
segundos. Muda tudo, agora é 3-4-3. Quando conseguiu empatar o jogo, mudou
novamente, 4-4-2. A marcação do adversário simplesmente se perdia. Dos 11
titulares, 8 foram formados nas Canteras do clube. Pep não aperfeiçoou apenas
um esquema que veio desde os tempos de Michels e passou pelo Cruyff. Ele tornou
o clube, os jogadores, verdadeiras identidades da Catalunha. E o bobinho que
antes era apenas uma brincadeira, agora ficou encarnado dentro de campo. Basta
assistir aos jogos do Barcelona.
Se você é amante do
futebol como um todo, eu espero que tenham gostado do texto. Mas, se não é,
leiam com atenção. A essência do sucesso pode não estar apenas em inúmeros
gastos. Ela pode estar apenas bem pertinho de você ou da sua empresa, enfim, do
seu negócio.
Por: Raniery Maciel Vítor
Medeiros
Em: 13/12/2011
Objetivo: www.LigadosFM.com
Comentários
Pode ter certeza que aprendo muito com os seus comentários. Fico feliz que alguém com tanto conhecimento da história do Barça tenha gostado do texto.
Abraço!