5 História Mal Contada: Tudo Vai Ficar Bem



            Saudações amantes de histórias e estórias, como todos vocês têm passados esses dias? Como vocês tem dormido esses dias? Eu dormir muito bem. O lugar não era tão confortável como camas; era meio duro, e a carroça balança bastante. Se alguém tiver problema com tonturas, não lhe recomendaria. Mas para mim foi interessante ter esse sono num veículo de tração animal. Bem leitores, já podem deitar-se, se vocês querem que essa história de hoje soe como uma canção de ninar.
            Um sol escaldante de primavera fazia com que o suor dos meus sonhos parecesse ser muito real, como se eu fugisse de uma espécie de gigante onda que me perseguia. Corria o máximo que pude, até que a grande onda me atingiu com uma enorme pancada na cabeça e acordei. Eu estava completamente encharcado, não pela onda, mas pelo suor do calor que a lona que a carroça provocava. Com a súbita parada, bati minha cabeça no chão, fato esse explicava minha pequena do craniana.
            -"Chegamos!" - disse o velho senhor enquanto pulava da carroça.
            -"Já? Como é próximo essa cidade..." - exclamei com total surpresa
            -"Próximo?" - interrompeu o ancião com um tom irônico seguido de pequenos risos que se faziam abrir sua boca que irradiava a falta de alguns dentes.
            -"Viajamos por dois dias e você ainda quer dormir mais?" - disse o ancião erguendo a mão para me ajudar  sair da carroça.
            -"Nossa! Dormir por mais de dois dias seguidos!"- exclamei quase em tom de desespero. Afinal, para mim tinham passado alguns poucos minutos.
            -"Você estava cansado jovem rapaz. E mais, não foram mais de dois dias, nós saímos da cidade costeira no bem na aurora matinal, exatamente como estamos agora, foram dois exatos dias de sono." - Falava enquanto me apoiava em sua mão e conseguia colocar meus primeiros passos na cidade desconhecida.
            -"Nossa... o tempo finalmente sinto-me realmente descansado, antes eu andava quase como se tivesse que carregar uma carapaça de uma lagosta no tórax. Realmente, agora me sinto muito melhor. Muito obrigado pela ajuda senhor..."
            -"Não precisa agradecer jovem rapaz" - me interrompia o velho- "agora tenho assuntos urgentes para tratar. Pode seguir o seu caminho. Pegue essa garrafa d'água e esse outro pão, creio que você vai precisar disso muito mais que eu." - Com um feliz e pacifico sorriso banguela, fui envolvido num abraçado com sabor de carinho paternal.
            Ele se virou, sua mão percorreu como uma última gota de chuva cai por entre as folhas e eu, na minha perplexidade de tamanha solidariedade, esqueci de perguntar- lhe o nome; somente observando enquanto ele desaparecia lentamente por entre a multidão do mercado. Foi como se também algo procurasse.
            Comecei a caminhar pela cidade, seguindo o caminho oposto que o ancião. Era uma cidade grande, com prédios que se elevavam a alturas maiores que três andares. Para mim que tinha vivido numa cidade completamente caótica, onde os prédios já não haviam mais, essa cidade me surpreendia bastante. Pontes com ornamentos, formavam uma espécie de curva oval sobre o rio, que tinha todo percurso de seu leito adunado com belas calçadas, que eu ia percorrendo. Postes, já apagados a essa hora da matina, faziam uma decoração bela pela minha trajetória. Contudo, minha curiosidade era se aproximar de soldados que estavam parados logo perto da entrada da ponte.
            -"Alto Acesso não permitido!" - Exclamou a autoridade de quepe militar, espada e uniforme belamente simétrico de cor cinza.
            -"O que está acontecendo na cidade? Por quê não tenho acesso nessa via pública?"
            -"A autoridade do reino oriental dos povos germânicos, o arquiduque, irá passar aqui, e isso é acesso restrito pois zelamos pela segurança dele, se você puder continuar sua caminhada por outra via, dobre por aquela rua à esquerda. Talvez dê para continuar até seu destino."
            Despedir-me do oficial. E seguir sua ordem. Estava curioso; jamais na minha vida tinha visto uma comitiva real. Dobrei na rua, porém, um sujeito subitamente se deu de cara comigo, nos esbarramos frontalmente de testa um contra o outro, e ele caiu no chão deixando derrubar suas coisas.
            -"Ah! Que dor! Idiota não olha por onde andas?!" -Disse ele tentando rapidamente tentando esconder a arma que cairá do bolso para o chão.
            "-Desculpe, eu não lhe vi, você esta machucado?" - indaguei tentando me agachar para pegar umas pequenas pílulas que ainda permaneciam no chão.
            -"Dê-me isso!" - Ele puxou da minha mão como uma violência animalesca -"Não ouse tocar me nada disso"- dizia já se levantando e limpando a roupa.
            -"Para onde você vai com essas coisas?" -indaguei com vergonha, porém minha curiosidade era maior.
            -"Eu vou fazer algo que vai mudar a história do meu povo; vou libertá-los do maldito domínio germânico. Dias melhores viram para todos nos Eslavos do Sul. Vamos nos unificar em um só reino forte capaz de manter nossa autonomia e autoridade perante as outras potências."
            -"Você vai agir sozinho? O arquiduque possui muitos guardas...."
            -"Existem muitos conosco. Digamos que temos as "mãos negras", várias pessoas esperam que nós sejamos vitoriosos nessa batalha..." - Me surpreendia essa palavra sendo pronunciada de um homem tão franzino, magro e de aparecia meio doente. Ele começou a tossi fortemente, não sei se pelo nervosismo, cuspindo um pouco de catarro com uma cor de verde avermelhado.
            -"Você já lutou em alguma guerra?" -indaguei curioso.
            -"Nunca consegui me alistar, sou pequeno e de estatura fraca, sempre fui negado pelo exército e depois que contrair tuberculose pedir minhas esperanças... Mas agora farei algo que jamais meu povo e minha família irá esquecer!" - Sua afirmação final tinha umas emanava chamas de suas retinas que me intimidaram. Com a mão direita, ele começou a me empurrar:
            -"Sai da frente, não posso perder tempo!"- afirmou já saindo.
            -"Mas você tem certeza que vai fazer isso? e sua vida? Já pensou que você pode morrer nisso, já pensou se você for preso?!"- Ele virou repentinamente e disse.
            -" Eu não sou um criminoso, pois eu vou destruir um homem mau. Eu estou convicto de minha certeza. Não há necessidade de me levar para prisão. Minha vida já está desaparecendo. Eu sugiro que me preguem numa cruz e me queimem vivo. Meu corpo flamejante será uma tocha para iluminar o meu povo em caminho para a liberdade. As minhas sombras estarão no futuro andando por Viena, passeando pelo tribunal e assustando todos senhores germânicos, se alguma guerra explodir não vai ser por culpa do meu ato, os alemães arrumariam outro motivo para isso. Agora saia daqui, as coisas ficaram mais complicadas para você se testemunhar isso."
            Tentei me virar e prosseguir no meu caminho, mas um barulho de carro me chamou a atenção para observar para trás. Era a comitiva do Arquiduque. Tinha entrado na rua errada e o estranho homem retirou rapidamente sua arma do bolso e atirou no Arquiduque e na sua mulher. Enquanto os guardas corriam para prender o terrorista que tentava engolir umas cápsulas para matar-se pude ouvir, ainda alto do seu carro, as últimas palavras do arquiduque para sua mulher:
            -"Calma querida! Eu estou bem, tudo vai ficar bem..."

Autor: Douglas Cavalheiro
Criação: 26/06/2012
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